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​Entrevista

Europeus deviam votar a partir dos 16 anos, defende Metsola

20 fev, 2024 - 00:45 • Joanna Neville (EuranetPlus) com Pedro Caeiro

Este ano, pode dizer-se que o Mundo vai a votos. Portugal vai a votos várias vezes em 2024. A Europa vai a votos. Para um país que tem hábitos de elevada abstenção importa transmitir a ideia básica de que “se não votar outros vão decidir por si", avisa a presidente do Parlamento Europeu.

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A presidente do Parlamento Europeu, em entrevista à Euranet - rede europeia de rádios de que faz parte a Renascença - respondeu a perguntas sobre desinformação, clima e Defesa. Mas também sobre o poder que cada jovem europeu tem de ter algo a dizer sobre o futuro da União Europeia.

Nascida em Malta há 45 anos, Metsola é a mais jovem presidente do Parlamento Europeu de sempre. E diz que entrou na política muito jovem “porque queria tomar decisões” para a sua própria geração, em vez de deixar que os mais velhos decidissem por ela.

Numa altura em que apenas quatro países deixam votar a partir dos 16 anos de idade (Malta, Alemanha, Áustria e Bélgica) e um aos 17 (a Grécia), Metsola defende que se dê esse direito a todos os europeus a partir dos 16 anos. Mas também deixa um aviso: não é só dar-lhes o direito de votar mais cedo, é também envolvê-los desde mais cedo de forma ativa no processo de escolha de quem os representa.

“Continuo convencida disso. Em cada país onde vou e me encontro com jovens de 16 anos, digo: ‘Acho que esses jovens de 16 anos deveriam ter a possibilidade de escolher quem os representa’.

Segundo a presidente do Parlamento Europeu, esta interação podia ter muitas vantagens, até porque estes jovens, já a partir dos 16 anos, têm uma perspectiva muito própria de questões que lhes dizem respeito, como é o caso do acesso à educação, as oportunidades de viagem dentro dos 27 e preocupações de saúde específicas da idade.

Combater a desinformação

Como é que as instituições europeias pretendem ajudar a combater a desinformação neste que é amplamente referido como o maior ano eleitoral, a nível global, da História? Se o mundo digital já se debatia com o problema das chamadas “fake news”, agora, com o aparecimento da Inteligência Artificial a realidade complicou-se ainda mais. Roberta Metsola lembra que a União Europeia tem feito o melhor que pode nesta matéria, numa área em que a realidade tecnológica é muito mais rápida que as leis que vão sendo feitas. Ainda assim, os 27 estão na vanguarda.

“Temos a Lei dos Serviços Digitais, que atribui aos reguladores a responsabilidade de criar esse espaço seguro para que se possa aceder a informações corretas. (...) Temos a primeira lei do Mundo dedicada à Inteligência Artificial.”

No entanto, a legislação só vai até certo ponto. Daí que seja preciso agir noutras áreas, nomeadamente na tomada de consciência de cada um. Por isso, a presidente do Parlamento diz que não basta criar leis, é preciso criar uma consciência. E são as campanhas sobre desinformação e as leis que obrigam as tecnológicas a defender a verdade que permitirão que os eleitores façam escolhas conscientes.

Metsola defende, de resto, que haja maior envolvimento dos jovens, não só na escolha dos eurodeputados, mas também na própria elaboração das futuras diretivas europeias.

O Parlamento Europeu pediu à Comissão Europeia que o fizesse há dois anos, mas apenas há um mês é que Bruxelas se comprometeu a fazê-lo. Ainda assim, já existe em vários países europeus como França e Alemanha e tem como objetivo avaliar, em parceria com os jovens interessados, o impacto da legislação proposta sobre os jovens.

As preocupações com o clima

Aquilo a que muitos já vão chamando de “ansiedade climática” é uma realidade entre os jovens europeus que está a crescer. Sobretudo em países que estão a suportar mais do que a sua quota-parte do peso das alterações climáticas. Portugal, um dos países de vanguarda por ter uma das maiores taxas de energias renováveis, temos sido palco de várias ações dos “jovens pelo clima”. Questionada pela Renascença sobre como se pode garantir aos jovens que o desafio climático continua a ser uma prioridade, mesmo num Parlamento pós-2024 que poderá acolher representantes mais conservadores, a Presidente do Parlamento Europeu acredita que a ambição dos 27 se mantém intacta.

“O objetivo é sermos o continente mais ambicioso em termos climáticos até 2050 em termos de neutralidade, de sistemas comerciais e de dar um exemplo ao resto do mundo".

Metsola alerta, no entanto, que para a necessidade de adesão da população. Importa decidir o que fazer para amortecer o impacto social e económico da nossa legislação. Caso contrário, diz, teremos pessoas que param de votar ou que encontram conforto nos extremos. E o trabalho da União Europeia é garantir que encontramos esse equilíbrio: "Ao manter a ambição, ao garantir a viabilidade financeira das nossas propostas, podemos garantir que as nossas pequenas empresas continuam a prosperar".

Roberta Metsola diz estar plenamente consciente das preocupações climáticas entre os mais novos, até porque os próprios filhos vão votar pela primeira vez nestas Europeias, e diz que é a preocupação nº1 deles. Mas também reconhece que há um equilíbrio, sobretudo entre as questões agrícolas e ambientais, que é preciso manter. São duas áreas que, ainda assim, Metsola acredita que podem andar de mãos dadas num futuro próximo.

Em defesa da Defesa

Se por cá o serviço militar obrigatório há muito que passou à História, a verdade é que a situação no leste, com uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia a ameaçar as fronteiras da União Europeia já levou, por exemplo, a Letónia a reintroduzir o recrutamento militar.

Questionada sobre os esforços do bloco europeu para fortalecer a segurança coletiva e a cooperação na área da Defesa, Roberta Metsola reconhece que Bruxelas levou demasiado tempo a perceber que havia uma ameaça real à segurança coletiva... mas garante que está a dar passos, em conjunto com a NATO, para se defender.

“O mundo mudou completamente desde 24 de Fevereiro de 2022. E isso levou a UE a ter de estar mais bem preparada. Vemos necessidade, finalmente, de ter uma verdadeira e adequada união de segurança e defesa"

Roberta Metsola explica que é importante que a Europa olhe para além das suas próprias fronteiras. Sobretudo neste momento específico da história: “O que acontecerá depois das eleições presidenciais nos Estados Unidos depois de Novembro? Precisamos de estar preparados para um cenário em que a Europa possa ficar sozinha e precise de manter a ajuda à Ucrânia.”


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