17 mar, 2024 - 13:16 • Diogo Camilo
Mais de 112 milhões de russos estão este domingo no último de três dias de eleições presidenciais, às quais Vladimir Putin concorre para um quinto mandato como chefe de Estado. O presidente tem a vitória praticamente garantida, com as sondagens a apontarem para intenções de voto superiores a 80%, o que seria a sua maior vitória eleitoral desde que chegou ao poder em 2000.
Mas, para vencer, terá de ultrapassar três adversários que não passam de atores secundários numas eleições sem espaço para mudanças políticas. Uma coisa têm em comum: nenhum deles é abertamente contra a invasão da Ucrânia.
O representante do partido Novo Povo, Vladislav Davankov, e o comunista Nikolai Kharitonov têm 6% de apoio entre os entrevistados nas sondagens. O ultranacionalista russo Leonid Slutski tem cerca de 5% de apoio do eleitorado.
Os dados não incluem o voto eletrónico à distância(...)
Adversário de Putin nas eleições de 2004, Nikolai Kharitonov somou na altura 13,8% dos votos e é o único repetente nas presidenciais além do presidente russo.
Agora com 75 anos, volta a ser candidato pelo Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), que tem como objetivo não perder o segundo lugar nas eleições, lugar que o partido tem ocupado em todas as eleições, mas as sondagens preveem o pior resultado dos comunistas em eleições presidenciais.
O veterano esteve discreto durante a campanha, centrando críticas ao capitalismo e pedindo a nacionalização da indústria. Entre as medidas do seu programa está a descida da idade de reforma, a subida das pensões e a saída da Rússia do FMI (Fundo Monetário Internacional) e da Organização Mundial do Comércio (OMC) que “prejudicam a soberania económica da Rússia”.
Em oposição tímida a Putin, o PCFR concorda com o líder russo na questão da guerra na Ucrânia. O seu secretário-geral, Gennady Zyuganov, colocou Estaline como exemplo e afirmou que o país deve estar “unido” e que o maior mal hoje é “a política externa dos EUA e a agressão da NATO”.
“Vemo-lo na Ucrânia, onde o povo russo foi colocado um contra o outro. Onde continuam a gozar com tudo o que é sagrado”, afirma, referindo que o país “não precisa de pressão interna”. “Acima de tudo, o presidente Vladimir Putin não precisa.”
Sobre Putin, o próprio Kharitonov não tem nada de mal a dizer. “É responsável pelo seu trabalho, por que havia de o criticar?”, afirmou, citado pela agência noticiosa russa TASS.
Já foram bloqueados pelo menos 10.500 ataques cont(...)
O atual vice-presidente da Duma é também candidato nestas eleições, pelo partido Novo Povo, e ficou marcado por ser o único a abster-se na votação da independência das regiões de Donetsk e Lugansk antes da invasão da Ucrânia.
O opositor mais novo, com 40 anos, é um ex-empresário e promete “mudança” e “tempo para novas pessoas”, sendo visto como mais liberal e um candidato para o eleitorado anti-guerra, depois de candidatos como Boris Nadezhdin e Yekaterina Duntsova terem sido impedidos de concorrer.
No entanto, no seu programa, Davankov não menciona a Ucrânia e apenas pede espaço para “paz e negociações”, mas em termos que favoreçam a Rússia e sem retrocessos, o que significa que a Ucrânia não recupere o seu território.
Em 2021 concorreu ao cargo de autarca de Moscovo, tendo ficado na quarta posição, com 5,3% dos votos.
Quase metade dos aparelhos aéreos não tripulados f(...)
O partido pode chamar-se Liberal Democrático (LDPR), mas o cariz é ultra-nacionalista. Depois da morte do fundador do partido, Vladimir Zhirinovsky, que concorreu às eleições de 2008, 2012 e 2018, Slutsky assumiu a liderança e com um slogan dedicado ao líder que faleceu no ano passado: “Zhirinovsky vive”.
Filho de membros das elites soviéticas, é uma presença notada na TV estatal onde faz comentários contra o Ocidente e apoia a política externa de Putin, incluindo a invasão da Ucrânia.
E antes mesmo das eleições, já previa uma “gigante vitória” do presidente atual. “Não sonho com uma vitória de Putin. Qual é o objetivo?”, disse a jornalistas, afirmando que “um voto em mim e no LDPR não é um voto contra Putin”.
Em 2018 ficou envolvido num escândalo na Duma, em que um grupo de mulheres jornalistas o acusou de assédio sexual. Uma delas foi Maria Zakharova, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo. No entanto, uma comissão parlamentar ilibou-o e Slutsky manteve o seu cargo de deputado.