26 out, 2023 - 16:03 • Redação
A escritora Margarida Tengarrinha, resistente antifascista e antiga dirigente do Partido Comunista Português (PCP), morreu esta quinta-feira, aos 95 anos.
A notícia foi avançada pelo jornal Sul Informação. Tengarrinha vivia na Praia da Rocha, em Portimão, desde que saiu da Assembleia da República.
Nascida em Portimão, a 7 de maio de 1928, no seio de uma família da pequena burguesia da cidade, Tengarrinha teve, desde muito cedo, contacto com artistas, acabando por ir estudar para a Escola de Belas Artes de Lisboa.
Foi como estudante na capital, em 1948, que iniciou a sua vida política, no Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD), inicialmente formado com autorização do Governo, mas que Salazar viria a ilegalizar pelas ligações do grupo ao PCP.
Aí conheceu o companheiro, e pai das duas filhas, o também artista José Dias Coelho. Margarida, José e mais 80 alunos e professores da Escola de Belas Artes acabariam por ser expulsos depois de se manifestarem pela saída de Portugal da NATO em 1952.
A artista, escritora e professora, acabou por viver na clandestinidade com José Dias Coelho, enquanto as suas habilidades como artistas eram aproveitadas pelo Partido Comunista para a falsificação de documentos (bilhetes de identidades, cartas de condução, cartas de pescador, etc).
A escritora costumava contar como, aos cinco anos, viu uma investida da GNR a cavalo sobre um grupo de adultos e crianças, sem se aperceber então que se tratavam das fortes manifestações de 18 de janeiro de 1934, na sua opinião uma data marcante.
“O 18 de janeiro [de 1934] foi uma grande luta dos operários portugueses contra o fascismo, na medida em que fascismo inviabilizou, proibiu, todos os sindicatos nacionais livres e criou uma forma sindical dominada pelo patronato e os operários revolutaram-se contra isso”, disse numa entrevista incluída no programa “Vidas Prisionáveis”, do Museu do Aljube – Resistência e Liberdade.
Depois de Dias Coelho ter sido morto pela PIDE, em 1961, Margarida Tengarrinha viajou para a então União Soviética, onde trabalhou com Álvaro Cunhal, à data secretário-geral comunista, que também vivia exilado em Moscovo.
Quando voltou a Portugal, em 1968, a escritora continuou na clandestinidade e a trabalhar para o partido. Depois do 25 de abril de 1974, integrou o Comité Central do PCP.
Anos depois, entre 1979 e 1983, foi deputada pelo Algarve, acabando por instalar-se na Praia da Rocha após ter abandonado a Assembleia da República.