Eleições na Madeira

Inflação menor e maior risco de pobreza. Um retrato político, demográfico e económico da Madeira

22 set, 2023 - 00:00 • Diogo Camilo

A dias de novas eleições, olhamos para a Madeira à lupa: em quase 50 atos eleitorais, apenas por uma vez o PSD ou o candidato apoiado por sociais-democratas não foi o mais votado no arquipélago. Taxa de desemprego é a mais baixa em 15 anos, mas um em cada quatro madeirenses está em risco de pobreza.

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Depois de uma dúzia de eleições regionais na Madeira, a grande dúvida da 13.ª é se o PSD - desta vez em coligação com o CDS - conseguirá mais uma maioria absoluta. Nas últimas eleições, o Partido Socialista conseguiu o seu melhor resultado de sempre no arquipélago e evitou pela primeira vez a maioria absoluta dos sociais-democratas.

Desde as primeiras eleições que o PSD é a força dominante na região: apenas por uma vez teve menos de 40% dos votos e, entre regionais, autárquicas, europeias, presidenciais e legislativas nacionais, os sociais-democratas ou candidatos apoiados pelo partido foram os mais votados na região em 47 dos 48 atos eleitorais desde o 25 de Abril.

A exceção? Nas Presidenciais de 2001, quando Joaquim Ferreira do Amaral, apoiado pelo PSD, não foi o mais votado na Madeira, conseguindo 42% dos votos na região, contra 51% de Jorge Sampaio.

No entanto, o PSD tem vindo a conquistar cada vez menos deputados no hemiciclo, desde que este reduziu o número de lugares para 47, em 2007. Sem maioria nas últimas eleições, o partido de Miguel Albuquerque foi obrigado a coligar-se com o CDS, que tinha os três deputados necessários.

A abstenção em eleições regionais, tal como noutros atos eleitorais, tem vindo a subir nos últimos anos e teve as suas duas maiores percentagens em 2015 e 2019, após a saída de Alberto João Jardim.

Há quatro anos a taxa ficou-se pelos 44,5%, ainda assim abaixo dos números regionais das últimas europeias de 2019, das autárquicas e presidenciais de 2021 e das legislativas de 2022.

Madeira à lupa

A propósito do ato eleitoral deste domingo, a Pordata, base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, dá a conhecer alguns números que fazem um retrato da região onde a taxa de inflação está abaixo da de Portugal continental, mas onde o desemprego e o risco de pobreza são maiores.

Em 2022, a taxa de inflação na Madeira foi inferior à de Portugal continental: na região os preços subiram 6,9% em relação ao ano anterior, quando no país o aumento foi de 7,8%, à boleia de setores como os produtos alimentares, a educação ou a habitação, água e eletricidade, onde a subida de preços foi menor em relação ao resto do país.

Em sentido contrário, a taxa de inflação nos restaurantes e hotéis foi maior na Madeira, chegando aos 15% no ano passado, acima dos 11,7% a nível nacional.

De acordo com os últimos dados, de 2021, a riqueza produzida por pessoa na região foi inferior à média nacional em 5,6% e 30,5% abaixo da média da União Europeia. Ainda assim, a Madeira foi a quarta região do país com maior PIB per capita em Portugal, apenas atrás da Área Metropolitana de Lisboa, do Algarve e do Alentejo.

Em relação ao desemprego, a Madeira ultrapassou a taxa nacional de população desempregada em 2011 e, desde então, tem-se mantido acima de Portugal.

No ano passado, foram registadas 9.200 pessoas desempregadas na região, para uma taxa de desemprego de 7%, acima dos 6% da percentagem nacional. Ainda assim, este foi o registo mais baixo desde 2008.

Na região existem menos médicos e engenheiros por mil habitantes que no continente, mas mais enfermeiros e professores.

Madeira tem quase o dobro das habitações sobrelotadas

Segundo os últimos números de 2021, um em cada quatro madeirenses vivem em risco de pobreza, ou seja, com menos de 551 euros mensais, com a região a ter sido uma das únicas (a par dos Açores) que viu a taxa de pobreza aumentar em relação ao ano anterior, em sentido contrário da taxa de pobreza nacional, que foi reduzida em dois pontos percentuais.

A mesma é agora de 16,4% em Portugal (era de 18,4% em 2020), enquanto na Madeira a percentagem está nos 25,9% (era de 24,2% há três anos).

No que toca à habitação, a região da Madeira tem uma percentagem semelhante de habitações vagas e de famílias sem encargos em relação à média nacional, mas o número que salta à vista é o de habitações sobrelotadas, ou seja, no qual existem mais casas em que o número de residentes é superior ao número de divisões da residência.

Na região, cerca de uma em cada quatro casas tem pessoas a mais para a sua tipologia (23%), enquanto em Portugal continental a percentagem é quase metade (12,4%). Em relação aos Censos anteriores, de 2011, a percentagem de casas sobrelotadas na região aumentou 0,8 pontos percentuais.

O inverno demográfico chegou à Madeira

À semelhança do que acontece no resto do país, no último Censos o número de idosos na Madeira ultrapassou, pela primeira vez, o de jovens. Atualmente vivem na região pouco mais de 250 mil pessoas e o saldo natural entre nascimentos e mortes foi negativo em 2022.

Pela primeira vez, a proporção de crianças e jovens com menos de 15 anos na região foi inferior à média do país (12,6% na Madeira, para 13% em Portugal), tendo sido registado uma descida de 27% numa década, enquanto no país a queda foi de 14%.

No ano passado, na Madeira, para cada 100 jovens, viviam na região 162 idosos e, em sete dos 11 municípios madeirenses, o índice de envelhecimento era superior ao indicador nacional de 184 idosos por cada 100 jovens.

Na educação, a taxa de abandono escolar precoce da Madeira tinha vindo a descer a um ritmo maior que a taxa nacional, mas abrandou no ano passado e continua superior à média do país. A percentagem era de 9,4% no ano passado, recuando quase dois pontos percentuais nos últimos dois anos. A taxa em Portugal é de 6,9%, quando era de 10,4% em 2020.

A taxa de analfabetismo é a segunda maior do país (4,5%), apenas atrás do Alentejo (5%), mas caiu 2,5 pontos percentuais na última década, a um maior ritmo que a média nacional, situada nos 3,1%.

Forte no turismo, a Madeira registou mais de oito milhões de dormidas no ano passado, o valor mais elevado de sempre na região e que representa 12% de todas as dormidas em Portugal. Os rendimentos no setor ultrapassaram os 500 milhões de euros, mais de 10% do total no país.

Do total de turistas no ano passado, sete em cada 10 eram estrangeiros e a estadia média de turistas na região foi de 5,2 dias, dois dias mais longa que a média nacional.

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