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Guerra na Ucrânia ajuda a crescer indústria de Defesa espanhola

19 fev, 2024 - 08:38 • Lusa

A Covid-19 também foi importante para criar um projeto da reindustrialização com vista à “autonomia estratégica” da Europa.

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A indústria espanhola de defesa cresceu 4,6% e passou a exportar mais de 50% da produção em 2022, beneficiando de orçamentos nacionais e europeus reforçados devido à Ucrânia e à pandemia, segundo um estudo recente da consultora KPMG.

A consultora faz um relatório anual para a TEDAE – Associação Espanhola de Empresas Tecnológicas de Defesa, Segurança, Aeronáutica e Espaço e ainda não há dados relativos a 2023, mas a perspetiva é que esta indústria tenha continuado a crescer, atendendo a todas as declarações de dirigentes políticos, empresários e comandos militares, que falam em orçamentos “impensáveis há quatro anos” e num “novo ciclo de investimento” que provocou uma atividade inédita nos últimos dois anos.

A pandemia da Covid-19 revelou problemas de abastecimento e dependências da União Europeia (UE) em relação à Rússia e à China que lançaram um projeto da reindustrialização com vista à “autonomia estratégica” da Europa.

Depois, o início da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, marcou um novo discurso e estratégia de defesa a nível da UE no seu conjunto e da NATO, a organização de países europeus e norte-americanos cujos estados-membros se comprometeram a dedicar pelo menos o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) a gastos com a defesa até 2029.

No caso de Espanha, o objetivo dos 2% exige dos maiores esforços dentro da NATO: em 2021 e 2022 o valor foi 1,04% e 1,09%, respetivamente, e só o Luxemburgo tinha uma taxa inferior.

Em 2023, Espanha já dedicou o equivalente a 1,24% do PIB à defesa e o objetivo é chegar aos 1,3% este ano, disse a ministra da Defesa, Margarita Robles, no mês passado, numa audiência parlamentar.

A ministra lembrou que foi aprovada em 2023 pelo governo uma “Estratégia Industrial de Defesa”, com mais de 30 pontos, incluindo, como se lê num texto de apresentação do documento, “projetos estratégicos” que pretendem ser “motores tecnológicos, de criação de emprego e de I+D+i [investigação, desenvolvimento e inovação] nacional”, como uma nova Base Logística do Exército em Córdoba (sul de Espanha), uma nova Unidade de Drones da Unidade Militar de Emergência em Leão (noroeste) e um Centro Tecnológico de Desenvolvimento e Experimentação em Jaén (sul).

Margarita Robles acrescentou estarem em curso, por outro lado, vários programas especiais de modernização das Forças Armadas, de que são prova as constantes notícias de contratos para compra de novo equipamento militar, ao mesmo tempo que, por causa da indústria do setor, Espanha é atualmente “um dos países mais ativos na liderança e participação” em projetos do novo Fundo Europeu de Defesa.

“Os orçamentos que temos agora eram impensáveis há quatro anos, eram inimagináveis”, disse o almirante Ricardo Hernández Lopez, chefe de Apoio Logístico da Marinha espanhola, numa conferência em 31 de janeiro, organizada pelo jornal El Confidencial, em que participaram também comandos do Exército e da Força Aérea.

O almirante referiu que neste momento as Forças Armadas espanholas lidam com “orçamentos expansivos que permitem ir a máximos”, com “máxima incidência na indústria de defesa”.

No entanto, acrescentou, para já, está apenas a ser substituído material antigo e obsoleto, após uma década de despesa muito baixa. Em 2018, ano em que chegou ao poder o atual governo espanhol, uma coligação de esquerda liderada pelos socialistas, a despesa com a Defesa não chegou a 1% do PIB (foi 0,93%).

A conferência do El Confidencial era dedicada à indústria da defesa e quem a abriu os trabalhos, pelo governo, não foi a ministra da Defesa, mas o da Indústria, Jordi Hereu, como o próprio realçou, para vincar a estratégia para esta área do governo espanhol.

“É dos setores industriais que tem mais futuro” e com que o governo espanhol “conta numa estratégia nacional para a reindustrialização”, afirmou.

"Estamos a viver em simultâneo dois grandes fenómenos que são duas grandes apostas e duas grandes necessidades do nosso país”, acrescentou o ministro, referindo a exigência de aumentar as capacidades das forças armadas, no contexto geopolítico internacional da guerra na Ucrânia, a par do objetivo de “reindustrializar” Espanha e a Europa.

“Apostar na indústria de defesa é evidente que é impulsionar um motor de todo o sistema industrial espanhol”, defendeu, depois de ter apresentado vários números sobre o setor.

Segundo o estudo da consultora KPMG, a indústria de defesa espanhola faturou 12.135 milhões de euros em 2022, mais 4,6% do que em 2021, sendo que 55% resultou de exportações (47% no ano anterior).

Esta indústria representou 1,3% do PIB de Espanha em 2022, com um contributo de 17.392 milhões de euros. Dentro do PIB industrial, representou 6%.

O impacto noutros setores da economia foi 5.650 milhões de euros, por envolver grandes necessidades de abastecimento.

O setor gerou mais de 53.500 empregos diretos e mais de 210.000 indiretos (um aumento de 4% em relação a 2021), sendo que o salário médio é 85% superior ao do conjunto do país (que estava nos 1.900 euros em 2021), pela alta qualificação.

A indústria de defesa espanhola dedicou em 2022 mais de 12% do que faturou a I+D e é aquela que mais aposta em investigação e inovação em Espanha.

Segundo a associação TEDAE, a aposta na inovação tem gerado produtos próprios (e de uso não apenas na área da defesa e segurança), que estão a ser exportados.

Apesar do crescimento dos últimos anos, a indústria espanhola ainda não recuperou os níveis de faturação de 2019, anteriores à pandemia (14.101 milhões de euros).

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