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Um poema com 70 anos inspira uma coreografia contemporânea que fala da crise climática

21 nov, 2023 - 10:59 • Maria João Costa

A companhia da coreografa brasileira Deborah Colker estreia esta terça-feira em Lisboa o espetáculo “Cão sem Plumas”. É uma coreografia inspirada num poema de João Cabral de Melo Neto, que foi diplomata em Portugal. O espetáculo soma o cinema, a música e a dança. Em dezembro chega a Lisboa, com o Cirque du Soleil, outra coreografia, “Ovo”, criada por Deborah Colker

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Um poema de João Cabral de Melo Neto serviu de inspiração à coreografa brasileira Deborah Colker para criar “Cão Sem Plumas”, o espetáculo que sobe ao palco do Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, esta terça-feira, mantendo-se até quinta, 23.

A prestigiada companhia de dança brasileira traz a Portugal a coreografia que lhe valeu o Óscar da Dança, o Prix Benois de la Danse, em 2018. Em entrevista ao Ensaio Geral, a partir do Brasil, Deborah Colker lembra que este poema que serviu de chão para a sua criação é antigo, mas tem muita atualidade.

Escrito em 1950, o poema “poderia ter sido escrito hoje”, refere a coreografa. Tem “uma atualidade impressionante” diz Deborah Colker que explica que o poema “fala sobre o Rio Capibaribe que atravessa o Estado de Pernambuco”.

A artista vai mais longe e indica que estes versos do poeta brasileiro que foi diplomata em Portugal “fala do descaso a esse rio”. Deborah Colker explica que “o rio é muito importante porque ele abastece de água as cidades e as pessoas precisam de água para viver.”

O poema olha para as “pessoas que vivem do rio e da terra”, diz a coreografa que lhe interessou explorar a ideia do poema que “fala do Homem que já não se reconhece como Homem; um Homem bicho que é mastigado e a quem roubam até aquilo que ele não tem”.

Esta força das palavras de Deborah Colker traduz-se em dança num palco cheio de terra, onde um elenco de bailarinos dá corpo a esta criação que fala também “daquilo que nem deveria existir, aquilo que é inadmissível” acrescenta, dizendo que o espetáculo tem “a tragédia e a riqueza; o grito e o silêncio; a força e a fragilidade”.

Nesta entrevista com a Renascença, Deborah Colker revela as suas inquietações ambientais. Vivendo no país que tem um dos maiores pulmões do mundo, a Floresta Amazónia, a artista lembra que “temos de cuidar da natureza, das águas, das florestas” e que “estamos com um problema de aquecimento global muito sério”

Remetendo para o poema de João Cabral de Melo Neto, Deborah Colker aponta que esses versos escritos há mais de 70 anos já deixavam esse alerta para a crise climática que o mundo globalizado hoje atravessa.

A criação para o Cirque du Soleil

Deborah Colker foi a primeira mulher a coreografar um espetáculo para o famoso Cirque du Soleil. É da sua autoria “Ovo”, um espetáculo que a companhia canadiana de novo circo vai trazer a Portugal de 20 a 30 de dezembro.

Ao Ensaio Geral, a artista explica que são espetáculos com intensidades diferentes e revela a sua satisfação em dois meses seguidos o público português poder ver dois dos seus trabalhos.

“Estou muito feliz com isso. O “Ovo” é um espetáculo muito alegre, e fala sobe insetos. Também está falando sobre o clima. Assim lembramos que a natureza é importante. Temos de cuidar desse Terra que é nossa casa. Se não cuidarmos dela, ela também não vai ser generosa com a gente! É um espetáculo totalmente diferente porque é alegre, tem energia pura”, refere a coreografa.

Já sobre “Cão sem Plumas” é um espetáculo “mais visceral, primitivo, mais profundo e traz mais conflitos”, destaca Debora Colker que conclui que ambas as suas criações “estão tratando da vida que temos de cuidar”.

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