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D. Rui Valério diz que atuais exercícios militares da NATO representam “retrocesso civilizacional”

14 fev, 2024 - 22:43 • Ana Catarina André

O Patriarca de Lisboa defendeu ainda que a “pobreza deveria ser uma prioridade” na campanha eleitoral, e convidou os cristãos, na homília desta Quarta-feira de Cinzas, a reparar os dramas da solidão e a acolher todos

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O Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, considera que a realização do maior exercício militar da NATO desde a Guerra Fria, que vai decorrer até maio, representa um retrocesso civilizacional. “Significa que algo de muito preocupante está a acontecer ou ainda está para acontecer. Por outro lado, deixa-nos desconfortáveis, na medida em que significa que estamos num processo verdadeiramente de retrocesso civilizacional”, afirmou à Renascença, no final da missa de Quarta-feira de Cinzas, na Sé de Lisboa. “Para quem se considera um arauto, um defensor, um trabalhador das causas da paz e da justiça [isto] deixa sempre um amargo na boca”, acrescentou.

O bispo defendeu ainda que “nos tempos que correm, mais do que nunca” é necessário da parte dos cristãos “um compromisso com a paz” e com “os mais vulneráveis, em particular com os pobres”.

“Que nas nossas orações, intenções [a paz] esteja presente. Mas a paz constrói-se também com os nossos comportamentos e atitudes, na maneira como nos relacionamos, como empreendemos e realizamos a nossa dimensão inter-relacional. Há depois coisas práticas onde podemos ser arautos de paz como, por exemplo, na maneira como enfrentamos os problemas, vivemos e abordamos os imprevistos”, disse D. Rui Valério, acrescentando que tem “uma preocupação profunda em relação aos migrantes”.

“Procuram-nos para encontrarem melhores condições de vida, para realizarem sonhos e aquilo que tantas vezes encontram é a exploração”, constatou o Patriarca. “Em prol destas causas todo o esforço é sempre pouco e insuficiente”, frisou.

“Pobreza deveria ser uma prioridade” na campanha eleitoral

Questionado sobre os temas que têm sido discutidos na atual campanha para as legislativas, o bispo defendeu ainda que “a pobreza deveria ser uma prioridade”.

Segundo D. Rui Valério, a pobreza manifesta-se nos “baixos salários”, nos “problemas ao nível da saúde e da educação”, mas também nas famílias que “chegando ao dia 16, 17 de cada mês vivem a ritmos alucinantes de falta, às vezes, do básico”.

“Acho que o grande motivo que deveria mobilizar, sem retórica e sem artifícios linguísticos, todos os candidatos a primeiro-ministro seria verdadeiramente um combate à pobreza. Essa é a verdadeira causa de Portugal.”

Antes, na homília da missa desta Quarta-Feira de Cinzas, o Patriarca de Lisboa convidou os cristãos a “confortar os frágeis e a levantar os caídos da vida”. “Sejamos nós o toque do Salvador do mundo que vem libertar os prisioneiros da exclusão, que vem reparar os dramas da solidão e acolher todos os que se abeirarem de cada um.”

D. Rui Valério lembrou ainda que as cinzas, impostas a cada cristão neste dia de início da Quaresma, são “um evidente sinal de arrependimento que, como tal, convidam à conversão e à mudança de vida”, ao mesmo tempo que apontam para “um significado mais amplo e profundo”. “Recordam que comunicamos e comungamos com o universo.”

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