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Buba Espinho homenageia a avó Maria Amália em “Voltar”, disco em que regressa ao Alentejo

15 set, 2023 - 13:31 • Maria João Costa

Depois de se ter estreado em plena pandemia, Buba Espinho apresenta este sábado ao vivo, no Capitólio, o segundo disco de originais. “Voltar” é um álbum sobre o seu regresso a casa, às memórias da infância e aos valores que família lhe transmitiu. O single de estreia é em dueto com Bárbara Tinoco.

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Genuinidade é o substantivo que descreve algo autêntico, puro e sincero. Todas estas palavras podem ser aplicadas ao músico Buba Espinho, que não tem medo de esconder as raízes alentejanas e que, no novo disco, regressa a elas. O seu Alentejo está no coração deste músico que surgiu na cena artística em plena pandemia, mas que vingou com cartas dadas.

“Voltar”, o seu segundo álbum, é apresentado este sábado em concerto, no Capitólio, em Lisboa. Em entrevista à Renascença, Buba Espinho explica que é um disco de homenagem à sua avó Maria Amália, que introduziu a música na família e onde honra os valores e a educação que lhe foi dada.

“Ao teu ouvido” é o single que acaba de lançar em dupla com Bárbara Tinoco. Buba Espinho, que foi pai recentemente e que deu à filha o nome da avó Maria Amália, admite nesta entrevista que gosta de cantar em parceria. O sucesso do tema “Casa”, que fez com os D.A.M.A., marcou a sua carreira, por isso convidou o grupo para o concerto no Capitólio.

O título do disco “Voltar” tem duplo sentido? É um regresso às edições de discos, mas é ao mesmo tempo um regresso ao Alentejo, a casa?

"Voltar" é um álbum que retrata uma fase muito intensa da minha vida. Obviamente que complementa vários ciclos da minha vida, mas sai numa altura muito específica da minha vida pessoal, onde eu regresso a minha casa, para perto da minha família e dos meus amigos.

Obviamente que volto uma pessoa diferente, com uma perspetiva totalmente diferente da pessoa que partiu. E acho que isso foi mesmo um dos maiores desafios da minha vida, ter essa capacidade de poder sair da minha realidade, onde estava superconfortável, e acho que se pode fazer uma vida perfeitamente normal no Alentejo, mas eu quis mais e fui em busca dessa vontade e ambição em procurar mais coisas, quer a nível pessoal, quer a nível profissional. Teve de haver essa partida. E agora volto uma pessoa totalmente diferente

Em que é que está diferente?

Sou uma pessoa muito mais relaxada, que valoriza muito mais a sua estrutura, que valoriza muito mais as suas bases e os seus princípios, porque durante muito tempo foi a eles que eu me agarrei enquanto estava fora e sentia muitas saudades.

Acho que este álbum é mais uma homenagem também a esses valores e a esses princípios que me foram dando, quer a nível de educação, quer também a nível de viver em comunidade com os meus amigos e com a maioria da minha cidade.

Faz cada vez mais sentido para si dar voz a essa herança alentejana?

Sim, porque eu próprio como ouvinte de música, gosto de ouvir artistas que têm identidade e que se diferenciam por serem eles mesmos, e não por conseguirem chegar à nota X, ou por tocarem a não sei quantos bpm’s. Não é isso que me interessa na música. É mesmo, sim, a identidade e aquilo que me faz diferenciar um artista do outro.

Sendo um ouvinte que gosta de ter estes requisitos, obviamente, como artista, não é diferente.

Eu gosto de me diferenciar sendo eu mesmo. São as raízes, é a educação, são estes princípios todos da educação que os meus pais me deram, que os meus avós me deram e de viver neste sítio que é o Alentejo, que é um sítio maravilhoso para ser ter uma infância livre, onde as adversidades são totalmente diferentes, se calhar, dos miúdos que nascem nos grandes centros.

Em que é que a sua infância foi diferente?

Nós aqui podemos fazer outras coisas que serão impossíveis fazer noutro centros e obviamente, eu senti vontade de registar tudo isto, sendo que acho que é isso que me diferencia dos outros artistas. Acho que é mesmo muito especial. Pelo menos é para mim muito especial cantar estes valores e esta energia.

Sendo eu um rapaz com hábitos normais, uma pessoa com os hábitos de uma pessoa de 28 anos de qualquer outro sítio, acho que as pessoas se vão identificar também.

Tenho a certeza que, seja no Alentejo, seja noutra qualquer região de Portugal ou do mundo, as pessoas sentem sempre essa vontade de partir, e acredito que as pessoas que partem e que depois regressam às suas casas e aos lugares onde já foram felizes, tenho a certeza de que se vão identificar muito com esta mensagem que eu quero passar.

Atualmente muitos jovens portugueses emigram à procura de melhores oportunidades de trabalho, melhores salários. Como é que tu vês isso?

Eu parti um bocadinho mais cedo, talvez, que a maioria das pessoas da minha idade. Eu saí da escola muito cedo, e dediquei-me à música desde os 16, 17 anos.

Obviamente que a maioria das pessoas da minha idade, nessa altura, estava a estudar na universidade, portanto, eu sinto que fui vivendo as coisas um bocadinho mais cedo do que a maioria das pessoas da minha geração.

Não quer isto dizer que estou mais à frente ou mais evoluído. Nada disso! Apenas tive outra experiência na vida que me fez tomar estas decisões mais cedo. Acredito que agora as pessoas que tenham 28 e 29 anos já pensem de uma forma diferente sobre aquilo que é o nosso conforto, aquilo que é a nossa qualidade de vida, aquilo que é o nosso lugar tranquilo.

Os nossos pais ficam cada vez mais velhotes e sinto que temos de estar próximos deles, o máximo de tempo possível, porque a vida são mesmo dois dias e um já passou, como se costuma dizer!

Acho que é isso, essa mensagem de esperança, acima de tudo, que que o sítio que nós deixamos vai estar lá sempre. Faz parte de nós modificá-lo e torná-lo mais bonito e mais confortável. A verdade é que há pessoas que vão deixando de estar nesse sítio, umas por razões da lei da vida, outras porque nós vamos filtrando, mas eu acho sempre que há outras energias, outras pessoas, outras circunstâncias que não ocupam de alguma forma, mas que vão preenchendo alguns vazios que vão ficando.

Gosta de cultivar a sua herança?

Eu tenho aqui o exemplo da minha avó Maria Amália, que foi a pessoa que colocou a música na família, que tocava muito bem piano, que era uma pessoa muito amada aqui na família. Este álbum fala muito sobre ela.

O piano é um instrumento de base no disco, também por ela. Eu sinto que na minha vida tive que renovar, e pensar num no novo ciclo. Para tentar representar essa energia que a avó tinha, foi através deste álbum, e foi também através da minha filha que nasceu há uns dias que a quem dei também o nome de Maria Amália.

É um disco de homenagem à sua avó?

Sim, fala muito sobre ela, apesar de eu não a ter conhecido durante muito tempo.

Recordo-me que lançou o primeiro disco em plena pandemia. Foi difícil vingar no meio musical nesse contexto?

Muito da minha personalidade tem muito a ver com este tipo de experiências que aconteceram como foi o facto de lançar um álbum numa pandemia, totalmente adversa, o oposto daquilo que supostamente seria o ideal para lançar um álbum. Mas eu na minha vida musical e pessoal, gosto sempre de ver o copo meio cheio.

A verdade é que na altura em que lançámos o álbum, nós tínhamos as pessoas todas em casa, em isolamento total e a verdade é que estávamos a fazer promoção em todos os meios também muito graças à minha equipa maravilhosa da Warner, a quem eu deixo sempre uma palavra de agradecimento, porque também fazem muito parte deste projeto.

E nessa altura estávamos a fazer uma promoção muito regular e a verdade é que toda a gente estava em casa e lembro-me de fazer programas da tarde na televisão, à terça-feira e ter amigos meus, da minha idade, a dizerem 'eu estou-te a ver agora neste programa, estou em teletrabalho e estou a aproveitar e tenho a televisão ligada.'

Acho que também houve essa vantagem de as pessoas poderem consumir mais aquilo que nós estávamos a comunicar, e as pessoas agarram-se muito à música. Eu senti muito esse "dar colo" a muitas pessoas e também consegui agregar muitas pessoas ao meu projeto por isso mesmo. Daí ver sempre o copo meio cheio. Eu gosto sempre, quando há uma situação má, de ver o que é possível do lado positivo.

Voltar é um disco mais pessoal, mas ao mesmo tempo tem várias parcerias. Gosta de cantar acompanhado?

Sem dúvida. Acho que é afirmar e vincar esta minha forma de ser e de viver. Eu acho que tudo é muito mais bonito quando é partilhado.

Obviamente também tem de ter os meus momentos de introspeção e, algumas vezes, de solidão, porque ter um projeto a solo também é ser solitário, mas naquilo que requer a união de dois mundos, acho que é sempre muito especial, e acho que as canções ganham muito mais tendo várias perspetivas.

Gosto muito de conhecer outras perspetivas de outros artistas de géneros musicais diferentes dos meus, com uma experiência totalmente diferente. Aqui foi muito engraçado, porque construímos mesmo a história daquilo que é a vida de um rapaz do campo, daquilo que é a vida de uma rapariga que vem da cidade.

Está a falar do primeiro single do disco, "Ao teu ouvido", que é uma colaboração com a Bárbara Tinoco.

A verdade é que a Bárbara conseguiu descrever isso da melhor forma escrevendo esta canção. Havendo estes dois mundos nesta canção, só faria sentido ser partilhado. Não ser eu a contar só uma história quando a história fala de duas histórias e de duas pessoas.

Este sábado, dia 16, apresenta o disco em concerto no Capitólio, em Lisboa. Também terá companhia de outros artistas?

Sim, claro, obviamente. Até tenho dito aqui há malta que a nossa tournée está a ser um bocado solitária, porque ainda não tivemos grandes convidados nos concertos, tem sido tudo muito rápido. Felizmente, todos os meus colegas e amigos da indústria estão muito na estrada. Este ano está a ser um ano muito bom para toda a gente e é mesmo difícil nós encontrarmos.

No outro dia estava a falar com o Luiz Trigacheiro e já o convidei, e ele a mim, inúmeras vezes para fazermos parte do espetáculo um do outro e nunca conseguimos.

No Capitólio, no dia 16, vamos ter os D.A.M.A que vêm cantar connosco, porque fazem muito parte deste meu percurso. "Casa" é um tema que vai fazer internamente parte de mim, da minha história, da minha história com eles.

São pessoas que eu adoro, mesmo do fundo do meu coração e foi mesmo bom ter gravado esta canção com eles. E claro, fazendo um concerto no Capitólio, onde vou buscar todas as minhas histórias, todos os capítulos, não poderia deixar de convidar os meus queridos amigos D.A.M.A

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