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Ana Markovic quer usar as redes sociais para promover o futebol feminino

17 nov, 2023 - 12:00 • Inês Braga Sampaio

Não gosta que lhe chamem "influencer", mas é no encalço de estrelas como Alex Morgan e Cristiano Ronaldo, craques com forte presença nas redes sociais, que a internacional croata segue desde que começou a jogar futebol, aos 14 anos. Agora no Grasshoppers, da Suíça, Markovic sabe que tem alcance e quer usá-lo "para algo bom".

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Ana Markovic não gosta que lhe chamem "influencer", mas quer usar as redes sociais para fazer crescer o futebol feminino
Ana Markovic não gosta que lhe chamem "influencer", mas quer usar as redes sociais para fazer crescer o futebol feminino

A lesão tirou-a dos relvados, mas aproximou-a dos palcos e dos microfones. Nas redes sociais, Ana Markovic continua tão ativa como dantes, com o mesmo objetivo de sempre: inspirar as futuras gerações do futebol feminino.

A internacional croata do Grasshoppers, da Suíça, é uma das grandes estrelas do futebol feminino no Instagram, com 2,9 milhões de seguidores. Na rede social, tenta "publicar tanto quanto [pode]" da sua vida, falar com os fãs, promover a sua empresa, Reloadz, que vende água proteica vegan, e focar a atenção dos "followers" naquilo que melhor faz: jogar futebol.

Na vida real, não gosta de ser chamada "influencer", porque nunca foi isso que quis ser, admite, em entrevista à Renascença, "media partner" da Web Summit, e os olhos brilham quando fala de futebol: de representar a Croácia, apesar de ter nascido e crescido na Suíça, do sonho de disputar o Euro 2025 no país natal, dos ídolos que a motivaram a ser jogadora e de tudo o que ainda sonha alcançar.

Questionada sobre jogar em futebol, sorri, mas lembra que, antes de pensar no futuro mais ou menos distante, tem de recuperar da rotura do ligamento cruzado anterior - a "praga" do futebol feminino, que tirou tantas jogadoras (Vivianne Miedema, Beth Mead, Leah Williamson, Janine Beckie, Marie-Antoinette Katoto são algumas) do Mundial 2023.

Até lá, continuará a partilhar a carreira e a recuperação nas redes sociais, em que continua a construir uma base de seguidores e, espera, a inspirar jovens meninas a jogar futebol.

É uma "influencer" nas redes sociais, especialmente no mundo do desporto feminino. Como é que começou? Como é que construiu essa plataforma?

Eu nunca quis ser uma “influencer”, não gosto que me chamem isso.

Pronto, então não chamo.

[risos] Não, não, toda a gente me chama isso. Mas antes de mais sou uma atleta. Começou com o meu desporto. Comecei a publicar algumas fotos de futebol na minha conta e penso que isso é algo que acontece na nossa geração, agora, que nem toda a gente vê. Tento pôr lá tudo o que acontece na minha vida. Bem, não tudo, mas tento publicar tanto quanto posso. O meu lado de beleza, mas também o meu lado desportivo, e acho que isso é interessante para as pessoas.

O que é que isso significa para si? A Ana tem uma grande massa de seguidores, mas, como disse, antes de mais, é futebolista. Emparelhando as duas facetas, então, qual é o seu grande objetivo, como jogadora de futebol nas redes sociais?

Em primeiro lugar, quero usar o alcance que tenho para algo bom. O meu papel em tudo isto é apoiar o futebol feminino. Claro que quero ser um ídolo para as meninas, para começarem a amar este desporto e para experimentarem algo novo, porque muitos pais dizem, "não, isto é um desporto de homens", e coisas assim, e eu adoraria inspirar jovens meninas.

Alisha Lehmann, outra jogadora que também tem muitos seguidores nas redes sociais, diz que se conseguir com isso atrair novos adeptos para o futebol feminino o trabalho dela estará feito. Também sente que isso seria, em si, uma vitória?

Sim, claro. Penso que para nós as duas o objetivo é alcançar tantas pessoas quanto possível. Ela está a fazer um grande trabalho, já tem 16 milhões de seguidores no Instagram. Isso tem um grande impacto em todas nós, para o futebol feminino. É fantástico.

No meu caso, estou também a tentar ter um lado mais empreendedor e dar palestras. Não é fácil conciliar com o futebol, não conseguimos estar em todo o lado ao mesmo tempo, porque temos treinos todos os dias, mas agora que estou lesionada tenho tempo. Por isso, tenho aparecido em público e falado com muitas pessoas. Isso também é muito importante. Nas redes sociais, podes publicar o que quiseres e as pessoas julgam-te, mas não te vêem como realmente és. Se falares comigo cara a cara, verás que sou muito diferente daquilo que as minhas fotografias dizem de mim.

Então, gostaria que as pessoas a conhecessem melhor, para lá das fotografias?

Sim, exatamente.

Disse que os jogadores, homens, podem fazer mais pelo futebol feminino. Megan Rapinoe também já disse isso. Como é que eles podem fazer isso?

Primeiro de tudo, não penso que nós, mulheres, precisemos dos homens na vida [risos]. O que quis dizer é que, na minha opinião, se os grandes nomes do futebol masculino começassem a assistir aos nossos jogos – e isto é o mais fácil que podem fazer, só ir ver os nossos jogos – mais pessoa também o fariam.

As pessoas verão e dirão, “oh, ok, o Cristiano está a ver um jogo da seleção feminina portuguesa”. Ou, “o Messi está num jogo de futebol feminino na América”. Seria uma loucura e traria mais atenção, porque os media também mencionam sempre quando um futebolista está a assistir a um jogo de futebol feminino.

O futebol feminino está a crescer em todo o mundo. Vimos nos Mundiais, por exemplo, de 2015 para 2019, para 2023. Também sente que está a crescer na Croácia?

Muito lentamente. Tem de crescer mais rapidamente e mais ainda, mas penso que estamos no caminho certo. Os jogadores da seleção masculina também começaram a apoiar-nos nas redes sociais e a apresentar-nos aos adeptos. Está a crescer, ainda que lentamente.

Era elegível para a seleção da Suíça, mas escolheu jogar pela Croácia. Teve alguma dúvida no momento de escolher ou foi uma escolha evidente?

Eu nasci e fui criada na Suíça, mas tenho a coragem e mentalidade [croatas]. Eu escolheria sempre o meu país, porque o meu coração, pura e simplesmente, sabe de onde sou. Sempre que estou no meu pais, sinto-me sempre confortável. É a minha casa e escolheria sempre a Croácia.

O próximo Europeu, em 2025, será na Suíça. O que é que isso significa para si?

Antes de mais, a Croácia tem de se qualificar para este Europeu. Eu disse à equipa toda: “Temos de nos qualificar este ano!” Significaria tanto para mim. Jogar pelo meu país, pela minha casa, no meu país natal. Entende? Seria maravilhoso.

Na Suíça, temos muito boas oportunidades. Os nossos estádios são incríveis e a Suíça tem muito dinheiro. Será fantástico. Além disso, o país não é muito grande e todos os adeptos conseguem chegar a todo o lado numa hora. É um país excelente para um Europeu.

Também já falou sobre sexismo. Devido à plataforma que tem e pelo facto de o futebol feminino ainda ser um alvo de sexismo. Como é que lida com isso, com comentários sexistas sobre si ou sobre o futebol feminino?

Eu, como pessoa, estou a tentar não lhes dar o que querem. Claro que às vezes publico uma foto em biquíni, ou algo assim, mas não quero que seja sobre o meu corpo. Quero é que me vejam jogar.

Também não quero publicar fotos em que possam ver o meu peito ou o meu rabo, estou a tentar não lhes dar isso. Mas é muito triste para mim ouvir dizer que sou a jogadora mais sexy do mundo e coisas assim, porque faço muitas coisas boas pelo meu desporto. Preferia ouvir algo como, “uau, ela é uma atleta fantástica”. Percebe? Por isso, pronto, estou a lidar. Tive uma vez... Não um colapso, mas perguntei-me “porquê, porquê, porquê?”. Mas agora lido bem com isso. Não quero saber. Eles que escrevam o que quiserem.

Já falou de Cristiano Ronaldo, que ele foi uma inspiração e que é por ele que usa o número 7. Como é que isso aconteceu?

Comecei a jogar futebol aos 14 anos. Foi muito tarde, toda a gente começa muito mais cedo. Quando comecei, tinha sempre o Cristiano na minha cabeça, porque toda a gente falava dele ou do Messi. Para mim, o Cristiano é uma inspiração desde que era uma menina de 14 anos. Via os jogos dele, todos os vídeos dos truques dele no YouTube. Nunca quis ser como ele, mas sim rolar com os acontecimentos e desfrutar, tal como ele faz.

Tenho uma grande disciplina e a minha saúde mental é muito forte. Sou uma pessoa muito positiva e se algo correr mal, como agora com o meu joelho, só quero dar o meu melhor e exibir-me a alto nível. Ele conquistou-me com isso.

Com o crescimento do futebol feminino, tem novos exemplos a seguir, pessoas que admira, agora jogadoras?

Sem dúvida. Há tantas jogadoras incríveis. A Aitana [Bonmatí], que ganhou a Bola de Ouro, juro, ela é uma inspiração para mim. Este ano foi uma loucura, foi fantástico vê-la jogar. Tive muita pena da [Alexia] Putellas, que sofreu a mesma lesão que eu e, para mim, é uma das melhores jogadoras do mundo. Há tantas outras.

Mas o meu ídolo, desde pequenina, é a Alex Morgan. Agora ela teve um bebé e continuou a jogar futebol. Isso é incrível. Imagina. Ela jogou enquanto estava grávida. É uma loucura.

Para lá de recuperar da lesão, quais são os seus objetivos para o futuro? Já falou da qualificação para o Europeu pela Croácia. Que outros sonhos tem?

Quero apurar-me pra um Mundial. Quero jogar um Mundial. Seria fantástico jogar contra seleções tão poderosas. Outro grande objetivo, que quero alcançar o mais cedo possível, é a Liga dos Campeões. Quero mesmo, mesmo jogar na Liga dos Campeões. É uma sensação incrível.

Na Suíça, tem várias adversárias portuguesas, várias delas no Servette. Como é defrontá-las?

São jogadoras fantásticas. Tenho de lhe dizer, não gosto de jogar contra elas. Elas defendem tão bem e atacam tão bem. Não é nada fácil jogar contra elas.

Detesto a Inês Pereira como guarda-redes [risos]. Como avançada, tenho de me acalmar, porque ela é tão provocadora. Ela tem algo especial, como guarda-redes, que nem todas têm. É uma jogadora especial. As jogadoras portuguesas têm tanto potencial.

E jogar em Portugal?

Adoro o país e o futebol aqui é muito bom. Mas primeiro tenho de voltar de lesão e voltar ao meu nível. Vejamos o que o futuro nos traz.

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