Colóquio "As Religiões como Património da Humanidade"

D. Tolentino Mendonça diz que “escutar a sabedoria das religiões é fundamental”

13 dez, 2023 - 22:03 • Ana Catarina André

Para o cardeal, "é muito importante a revisão crítica que as religiões fazem dos seus próprios percursos históricos, afastando-se de todas as formas de violência". Já o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, afirma que “é do interesse que as sociedades democráticas valorizem o património das religiões".

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O cardeal D. José Tolentino Mendonça, prefeito do dicastério para a Cultura e Educação da Santa Sé, considera que “escutar a sabedoria das religiões é fundamental” e que esse “tem de ser um lugar onde aprendemos uns dos outros”.

“Tentou dizer-se que esta modernidade avançada em que vivemos era pós-religiosa, que as religiões estavam ultrapassadas, mas verdadeiramente hoje damo-nos conta de como as religiões constituem um elemento fulcral da própria modernidade”, disse no colóquio “As Religiões Como Património da Humanidade”, que decorreu esta quarta-feira na Assembleia da República, em Lisboa, e no qual participou também o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.

A iniciativa assinalou o encerramento do ciclo de comemorações dos 20 anos da Lei de Liberdade Religiosa.

As religiões como "horizonte de verdade" e "afirmação da dignidade humana"

No início da sua intervenção, D. José Tolentino Mendonça indicou quatro elementos que “dão a ver esse bem, esse património que as religiões representam para a humanidade”. Em primeiro lugar, as religiões oferecem “um horizonte de verdade”, “a decifração do enigma que somos”, adiantou.

“As religiões colocam-nos em relação com a verdade que é sempre maior do que nós próprios, uma verdade última”, defendeu, citando o salmo bíblico que diz: “O que é o Homem para que dele te lembres e o filho do Homem para que o visites?”.

Em segundo lugar, D. José Tolentino Mendonça referiu a “importância da experiência religiosa para a afirmação da dignidade da pessoa humana”, dizendo que "o autêntico culto a Deus conduz ao reconhecimento e ao respeito pela sacralidade da vida”.

“É muito importante, por isso, a revisão crítica que as religiões fazem dos seus próprios percursos históricos, afastando-se de todas as formas de violência ou de sonegação dos direitos humanos”, referiu, acrescentando que “o amor de Deus é o mesmo por cada pessoa”.

O prefeito do dicastério para a Cultura e Educação da Santa Sé mencionou ainda "a “relação entre a experiência religiosa e a beleza” e “a experiência religiosa e o cuidado da criação”, como elementos do património que as religiões representam.

Referindo-se ao último, o cardeal e poeta disse que “precisamos de tomar consciência de que tudo está estreitamente ligado: o grito dos pobres e a fragilidade do planeta, a preocupação real pelo meio ambiente e o amor sincero pelos seres humanos”. E frisou: “A atual crise ecológica e climática é uma crise de autorrepresentação do ser humano e do papel que lhe compete no criado".

“Precisamos de construir áreas de proteção em torno das grandes religiões”

No colóquio moderado pela antiga ministra da justiça e da administração interna Francisca Van Dunem, Augusto Santos Silva defendeu que “precisamos de valorizar o papel público das religiões”.

“A própria forma como cada religião se abre ao contato com a cultura, com a sociedade civil, com aqueles que não são membros, é muito importante. As religiões cometem sempre um erro quando acham que o objeto essencial do seu trabalho está no seu interior”, frisou, dizendo que “a grande revolução do Cristianismo é aquela declaração de que esta não é uma religião étnica, é uma religião universal”.

“Não é preciso ser judeu para ser cristão”, acrescentou, dando o exemplo do que acontece atualmente em sociedades como a brasileira em que se passou de uma “fase em que a dimensão religiosa é central na organização da vida das classes populares, para uma fase em que a feitiçaria e a magia pura é essencial”.

“Esse risco é real e deve ser combatido, não porque nos queiramos meter com a religião, mas porque esse risco prejudica a democracia”, defendeu.

Segundo Augusto Santos Silva, “é do interesse que as sociedades democráticas valorizem o património das religiões”. “Precisamos de construir áreas de proteção em torno das grandes religiões, das religiões que não são seitas, que são estruturas civilizacionais”.

Após o colóquio, foi inaugurada a exposição “Os caminhos da liberdade religiosa em Portugal”, comissariada pelo jornalista António Marujo, patente até 28 de fevereiro de 2024, no Átrio Principal da Assembleia da República, em Lisboa.

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