13 nov, 2023
António Costa falou em direto ao país no passado sábado. Com o pretexto de dar confiança aos investidores estrangeiros, traçou um quadro da intervenção governamental, quanto a investimentos em lítio e em Sines, por exemplo. A. Costa não falou das suspeitas que levaram o Ministério Público (MP) a investigar; mas as suas palavras pareceram-me uma justificação indireta da atuação dos seus colaboradores que suscitaram suspeita – uma atuação visando apenas eliminar obstáculos a importantes investimentos, tudo normal...
O primeiro ministro demissionário parece não se ter dado conta de que o país enfrenta um preocupante caso de corrupção ao mais alto nível do Estado. Independentemente do que a justiça vier a decidir sobre as suspeitas agora levantadas, impressiona que essas suspeitas envolvam ministros e ex-ministros do PS, altos funcionários e pessoas próximas de A. Costa.
A opinião pública está abalada com este choque, que deixa mal colocada a classe política. Mas só agora A. Costa demitiu o seu chefe de gabinete, por terem sido encontrados no seu espaço de trabalho 75 800 euros em notas, disfarçadas em envelopes no meio de livros e noutros esconderijos. Paralelamente, ministros constituídos arguidos tomaram insólitas atitudes de desafio, como aconteceu com J. Galamba.
O partido socialista nunca encarou com determinação o fenómeno da corrupção, não obstante os meritórios mas ineficazes esforços de alguns dos seus membros, como J. Cravinho, pai do atual ministro dos Negócios Estrangeiros. As poucas tentativas de combater a corrupção foram rapidamente metidas na gaveta. E nunca se viu que A. Costa se empenhasse em combater a corrupção, no partido e no Estado. Veja-se o caso de J. Sócrates, que o PS se apressou a procurar esquecer, parecendo agora esboçar uma reação semelhante.
A maioria absoluta do PS nas eleições de janeiro de 2022 terá contribuído para difundir no partido uma sensação de impunidade – passou a valer tudo.
Perante o que publicamente se passa aos nossos olhos desde a passada terça-feira, os mais otimistas salientam ser um bom sinal terem sido lançadas suspeitas sobre figuras altamente colocadas – será prova de que a justiça funciona e de que ninguém está acima da lei. Pelo contrário, os pessimistas duvidam que venham a ser condenados por corrupção os agora constituídos arguidos.
Seja como for, é hoje um imperativo para os líderes políticos e partidários terem uma atitude exigente e corajosa face a suspeitas de corrupção. Atitude que A. Costa nunca teve.