Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

​O excedente excessivo

01 abr, 2024 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Agora é importante que não se deixe cair o imperativo das “contas certas”. E a AD, no governo, não pode facilitar, face a este inesperado “bónus”. Haja bom senso.

Soube-se há dias que as contas do Estado, no fim de 2023, conduziram a um excedente na ordem de 1,2% do PIB. Foi o maior excedente em democracia. Num país habituado sobretudo a défices nas contas públicas, a façanha merece atenção.

O ministro das Finanças Fernando Medina tinha previsto um excedente de 0,8% do PIB. Afinal, foi bem maior, o que deixou o ministro orgulhoso.

Só que, do lado socialista, já tinham começado os resmungos. Um excedente excessivo? interrogou-se Carlos César, presidente do PS. A irritação socialista tem sobretudo a ver com o facto de parte deste excedente vir, agora, a ser gasto pelo governo da Aliança Democrática, quando poderia ter sido gasto pelo governo de A. Costa na resposta a alguns problemas. Por exemplo, no pagamento, pelo menos parcial, dos vencimentos dos professores; ou na tentativa de travar a saída de médicos do Serviço Nacional de Saúde, etc. No limite, o PS pode pensar que, se tivesse usado criteriosamente este excedente, não teria perdido as eleições.

Creio que teria sido mais razoável um excedente, digamos, na ordem dos 0,6% do PIB, desde que os outros 0,6% tivessem sido aplicados a atenuar situações financeiras da maioria das famílias portuguesas, apertadas por uma pesada carga fiscal sem sentirem na oferta de serviços públicos a desejável qualidade. Pelo contrário, sentiu-se uma clara deterioração no funcionamento dos serviços públicos.

Reconheço que teria sido difícil prever a dimensão deste excedente antes de fechadas as contas do ano de 2023. O terceiro trimestre apresentou números fora do normal.

Mas não vale a pena lamentar o passado. E os socialistas irão figurar nas iniciativas do próximo governo para canalizar parte do excedente dando resposta a problemas prementes, portanto receberão também os louros da opinião pública por essa resposta.

Agora é importante que não se deixe cair o imperativo das “contas certas”. Creio que o PS de A. Costa interiorizou esse imperativo porque a “troika” entrou em Portugal em 2011 por causa dos desequilíbrios orçamentais provocados pelo executivo socialista de José Sócrates.

E a AD, no governo, não pode facilitar, face a este inesperado “bónus”, um valor mais de 5400 milhões de euros acima do défice de 2207 milhões previsto no Orçamento de Estado inicial. Haja bom senso.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • António Costa
    02 abr, 2024 Porto 11:21
    Portugal, pelos mecanismos do PRR pode pedir emprestimos até ao valor de 5,9 mil milhões de euros, pediram esses emprestimos? Sabem? Não sabem.