21 out, 2022 - 16:20 • Maria João Costa
Se fosse viva, a escritora Agustina Bessa-Luís teria hoje 100 anos. Celebrar a sua vida é ler a sua obra, mas há quem tenha sido afastado dos livros da autora por, na escola, ter tido como leitura obrigatória o romance “Sibila”.
Em entrevista à Renascença, a filha de Agustina, a escritora Mónica Baldaque, que está a lançar o livro “As Sibilas - Diálogos em Sfumato” (Relógio d’Água) considera “A Sibilia” “um livro difícil”.
“Ainda hoje me aparecem pessoas a dizer que tinham sido obrigadas a ler ‘A Sibila’ e que ficaram completamente traumatizadas em relação à escritora. E eu percebo perfeitamente!”, admite Mónica Baldaque.
Segundo a autora, o livro ter sido de leitura obrigatória foi um erro, porque “‘A Sibila’ não é um livro para gente jovem. É um livro difícil e é preciso ter já uma experiência de vida e de conhecimento do que é o meio familiar e social para poder entrar no que é ‘A Sibila’”.
Mónica Baldaque defende que “Dentes de Rato”, “que no fundo é autobiográfico”, será um melhor livro para entrar no universo literário de Agustina.
“Acho que se deveria começar por aí, porque se fica com uma ideia de como começou Agustina a movimentar-se na sociedade e na família, e acho que é uma leitura mais simples e ao mesmo tempo, muito bonita e autêntica”, refere.
A filha da escritora que morreu em 2019 acaba de lançar um livro sobre a personagem de “A Sibila”. Na obra surgem as ligações de Agustina Bessa-Luís a uma tia que terá inspirado a figura de Sibila.
“A Sibila foi escrita quatro anos antes da tia Amélia morrer”, indica Mónica Baldaque, que explica que a mãe “afastou-se da Quinta do Paço e da família dali, das tias e da tia Amélia” depois disso, mas admite que “há uma possibilidade de inspiração já distanciada” para um dos livros mais marcantes da carreira de Agustina.
Tal como no livro anterior, intitulado “Sapatos de Corda”, em “As Sibilas”, Mónica Baldaque volta a falar da biografia de Agustina Bessa-Luís numa obra que mistura ficção e realidade.
“É um livro híbrido quanto à sua forma. Tem partes mais ficcionadas, tem partes mais biográficas e há toda uma envolvência de todos estes aspetos que acabam por formar memórias. Para mim, essencialmente é um livro de memórias”, explica Mónica Baldaque ao programa Ensaio Geral da Renascença.
Numa altura em que o produtor Paulo Branco e o realizador Eduardo Brito preparam um filme inspirado no livro “A Sibila”, a filha de Agustina Bessa-Luís expõe na obra que está a lançar outros detalhes da vida da escritora de “Os Incuráveis”.
“Logo no início, quando falo na viagem dos meus pais de regresso a Portugal, que passa por Simancas, a minha mãe estaria nessa altura a preparar elementos para escrever sobre Santa Teresa de Ávila. Nunca chegou a escrever, foi recolhendo informação, mas acabou por nunca a escrever”, explica Mónica Baldaque.
Contudo, segundo as palavras da herdeira de Agustina: “Santa Teresa de Ávila sempre esteve em todos os romances da minha mãe. Há sempre uma referência. Foi a grande mulher e a grande inspiradora da vida de minha mãe. Com certeza nunca precisou de escrever a sua biografia, mas precisou de a ter como companheira”.
Talvez nessa companhia espiritual, Agustina tenha escrito alguns dos textos inéditos que poderão vir a ser publicados neste ano em que se assinala o centenário da autora.
“Há muita coisa dispersa. Pensamento, reflexões, cartas que foram escritas e não foram enviadas. Há muita coisa”, explica Mónica Baldaque.
“No fim do ano do centenário gostaria e estou a pensar poder ter tempo e compilar uma série de textos autobiográficos para fazer um segundo volume do ‘Chapéu das Fitas a Voar’ que é um livro autobiográfico. Acho que isso poderá ser muito interessante e revelador de todo o percurso de Agustina”, indica.
O centenário desdobra-se num conjunto de iniciativas pensadas e preparadas por várias autarquias que se juntaram a universidades, à Direção-Geral de Cultura do Norte, à Fundação de Serralves e a entidades de turismo para promover, ao longo do ano, exposições, passeios, filmes e reedições de livros.
Ensaio Geral
Nesta edição do Ensaio Geral, damos os parabéns a (...)