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Manifestação em Lisboa. “Nenhum muçulmano irá contramanifestar-se”, garante David Munir

02 fev, 2024 - 09:06 • José Carlos Silva , Olímpia Mairos

O imã da mesquita de Lisboa, sheik David Munir, diz à Renascença que esta sexta-feira, em todas as mesquitas, o assunto vai ser abordado perante os fiéis, a quem será pedida a máxima calma e tranquilidade face à eventual realização de uma manifestação anti-Islão no Martim Moniz

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O imã da mesquita de Lisboa, sheik David Munir, mostra alguma preocupação face à anunciada manifestação "Contra a Islamização da Europa", marcada para sábado, no Martim Moniz, e que já foi proibida pela autarquia da capital.

Em entrevista à Renascença, David Munir adianta que o assunto vai ser abordado, esta sexta-feira, com os fiéis, a quem será pedida a máxima calma e tranquilidade.

“Nenhum muçulmano irá contramanifestar-se”, diz o sheik Munir, lembrando que o país é livre e democrático, cabendo instituições defenderem a lei e os cidadãos.

Como é que encara, num país que é considerado tolerante, o tipo de iniciativa que se prevê para este sábado?

Nós temos que ter a noção que vivemos num país democrático, num país livre, onde cada um é livre de se expressar. E, se há um grupo que queira fazer manifestação, também é livre.

Neste país em que nós todos vivemos, existem leis, normas e a autoridade. Se achar e se achou que esta manifestação pode pôr em risco a segurança, eles irão atuar da melhor forma. Como muçulmano português que vive em Portugal, como muitos muçulmanos portugueses, estamos calmos, estamos tranquilos e acreditamos na força de segurança, nas autoridades.

Nenhum muçulmano irá contramanifestar-se e as pessoas irão estar calmas. E é claro que apelamos às pessoas para estarmos calmos, prudentes. Se ocorrer qualquer situação fora de controlo, a autoridade irá tomar conta disso. Portanto, nós não vamos fazer justiça pelas nossas mãos.

À Comunidade foi dirigido algum tipo de apelo, como, por exemplo, para além destes que acabou de fazer, para que as pessoas se mantenham calmas? Houve algum apelo para que, por exemplo, estabelecimentos comerciais possam estar encerrados e as pessoas possam estar nas suas casas, para evitar serem alvo de conflitos?

Ouve-se falar que alguns muçulmanos apelaram a outros para não abrirem os estabelecimentos, ficarem em casa. Uma conversa, provavelmente, que circula nas redes sociais ou entre os amigos, mas não é nada que tenha saído de alguma mesquita ou algo oficial.

O facto desta manifestação poder decorrer numa zona onde existe uma forte presença muçulmana é algo que o preocupa?

Qualquer manifestação onde haja agressividade, onde haja um desrespeito pelos seus próximos ou para com o seu próximo, claro que me preocupa. É claro que esta manifestação, segundo aquilo que me apercebi, é contra a imigração e a islamização na Europa, provavelmente este será o tema. Já houve várias manifestações, não desse género. Já houve várias manifestações no nosso país e tem havido ainda algumas, portanto, é estar calmos, prudentes e se acontecer qualquer agressividade ou qualquer ameaça, a autoridade está lá, a polícia está lá e irá resolver o problema. Portanto, é esta mensagem que estamos a transmitir às pessoas e essa mensagem que eu irei também transmitir esta sexta-feira, em que as mesquitas estão quase todas elas cheias, porque é normal, é a oração principal, para termos calma, não reagir, ponto final.

Preocupa-o esta deriva mais extremista que se tem verificado nos últimos anos?

Preocupa-me porque, falando do nosso país, até agora não houve nenhum problema entre o muçulmano e o não muçulmano, por causa da sua religião. As mesquitas estão abertas, nós, diariamente, na mesquita central, recebemos visitas de estudo de várias escolas, recebemos entidades oficiais, recebemos políticos. E eu não sei se as pessoas sabem - e é importante que as pessoas também o saibam antes das eleições municipais, antes das eleições camarárias - o partido Chega visitou a mesquita e nós recebemo-lo. Foi numa sexta-feira, em que a mesquita estava completamente cheia. E quem se candidatou para ser presidente da Câmara, da parte do partido Chega, foi o falecido Nuno Graciano. Ele veio com a equipa dele, com os colegas, vieram, conversamos, assistiram à ação de sexta-feira. Portanto, a mesquita está aberta e eles vieram e viram. E, portanto, não há nada a esconder.

Sendo que esta manifestação não é convocada pelo Chega…

Não, não é. Mas sabemos que há um forte discurso por parte de alguns políticos de extrema-direita que apelam (é só para dizer que vieram). As pessoas podem vir, portanto. Nós, muçulmanos portugueses e não só, vivemos pacificamente e queremos continuar a viver. A maioria dos imigrantes, coitados, vieram à procura de um melhor emprego, à procura de algo que possa ser mais benéfico do que nos seus países. E muitos deles, quando vejam que aqui as coisas não estão a correr bem, regressam para os seus países. Eu costumo dizer aos muçulmanos, a todos eles, nós temos a sorte de vivermos num país livre, num país onde a Constituição nos dá esse direito de praticarmos a nossa crença. Praticamos a nossa crença calmamente, não obrigamos ninguém a ser muçulmano, não invadimos as pessoas, não vamos às casas das pessoas falar sobre o Islão, explicamos sobre o Islão, quando as pessoas vêm à mesquita… Portanto, este é o nosso lema e é assim que nós queremos continuar a viver e respeitar os outros. É muito importante respeitar o outro, conhecer o outro, estarmos abertos para conviver com o outro.

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