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Novas Crónicas da Idade Mídia
O que se escreve e o que se diz nos jornais, na rádio, na televisão e nas redes sociais. E como se diz. Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo são quatro jornalistas com passado, mas sempre presentes, olham para as notícias, das manchetes às mais escondidas, e refletem sobre a informação a que temos direito. Todas as semanas, leem, ouvem, veem… E não podem ignorar. Um programa Renascença para ouvir todos os domingos, às 12h, ou a partir de sexta-feira em podcast.
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Trump, o herói instantâneo

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Trump, o herói instantâneo

19 jul, 2024 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo


Os media fizeram de Trump um herói político instantâneo? Talvez. É este o nosso tempo, muito distante de março de 1981, na tentativa também falhada de assassinar o recém eleito Presidente Reagan.

O rosto com um fio de sangue de Donald Trump, o punho erguido e a palavra "Fight" ("Lutem"), enquadrados pela bandeira nacional americana, são imagens fortíssimas de um candidato que, mesmo vítima de uma tentativa de assassínio, mantém a força. A foto que correu mundo, tornou-se icónica. Já há tatuagens alusivas ao acontecimento, floresce o comércio chinês de t-shirts.

Os jornais de todo o mundo fizeram manchete com a foto de Trump. O Le Monde foi a única publicação da grande imprensa internacional que ilustrou a notícia do atentado da Pensilvânia com uma fotografia de Biden. Esta “dissidência”, admite-se, ancorada na “reserva ideológica” que levantou a “frente republicana” contra Le Pen, pode ser uma explicação para a opção do jornal francês.

O debate que se estabeleceu nos media foi avassalador. Deu-nos a dimensão do impacto mundial do sucedido no comício da campanha republicana. Televisões e rádios em direto, fotos que correram mundo num abrir e fechar de olhos. Informação e desinformação a ferver nas redes socais, a uma velocidade nunca vista. Os media fizeram de Trump um herói político instantâneo? Talvez. É este o nosso tempo, muito distante de março de 1981, na tentativa também falhada de assassinar o recém eleito Presidente Reagan.

O candidato republicano teve o que semeou? A verdade é que, como escreve Nuno Severiano Teixeira no Público (17) “Donald Trump cultivou o tribalismo e a polarização, usou o discurso do ódio e legitimou a violência”. E ninguém se esquece da invasão do Capitólio. [A foto icónica de Trump] “é o apogeu de uma cultura política que exalta a violência e abandonou uma ideia de virtude cívica”, assegura Pedro Adão e Silva, também no Público (17).

O atentado americano produziu um facto inédito: a reação do Kremlin, oficializada pelo porta-voz Dmitry Kespov, com a insinuação de que a agressão da Pensilvânia teve a mão da Casa Branca. É uma reação inaudita sob todos os pontos de vista, mas impensável no plano diplomático. Nunca as autoridades de Moscovo reagiram de forma semelhante a qualquer acontecimento do género nos Estados Unidos.

Trump, o Herói instantâneo
Trump, o Herói instantâneo

Trump apareceu na Convenção Republicana, mais contido, mais sereno. Pelo menos a avaliar pela linguagem corporal. Parecia até pouco confortável para quem, como ele, é sempre muito confiante, até arrogante. O atentado mudou a persona? A filha de Reagan diz que o pai não se teria empenhado nos acordos mundiais que celebrou se não tivesse sido baleado. Tenhamos esperança que o homem a quem J.D. Vance, candidato republicano a vice-presidente, chamou em tempos o “Hitler americano”, tenha recentrado as suas prioridades como ser humano.

A generalidade das sondagens, apesar de tudo, não reflete de forma eloquente o repúdio ao atentado da Pensilvânia, com Trump com escassa vantagem sobre Biden que, de resto, já possuía antes da noite de sábado. O atual presidente terá admitido renunciar à corrida presidencial. Mas qualquer que seja a decisão, parece não haver muitas dúvidas sobre a vitória do partido Republicano. “A bala que feriu Trump, matou Joe Biden”, escrevia em título o New European.

A cimeira da NATO produziu uma declaração final consensual sobre os principais desafios da organização: Ucrânia, defesa coletiva e dissuasão, China e coesão política. A questão é saber se o problema estratégico da NATO poderá vir a chamar-se Trump. Viktor Órban poderá ser outro problema. De natureza diferente, contudo. Visitou Kiev e, depois, Moscovo. Na viagem para a Cimeira da NATO em Washington, passou por Pequim para se avistar com Xi Jin Ping, Nos EUA, aproveitou para visitar Trump. Embora presidente em exercício, na rotatividade da União, não tem mandato nem da Comissão, nem do Conselho Europeu. Ninguém lhe encomendou uma missão de paz, nem ele falou com ninguém para desenvolver tal empreendimento. Aproveitou o “vazio” na transição das instituições europeias produzida pelas eleições para se insinuar como o grande artífice da paz? Tem condições para isso? E onde é que ficam as instituições europeias? Para já, Bruxelas já anunciou que não se fará representar em qualquer iniciativa de Budapeste.

Na estreia em debates sobre o estado da Nação, Luís Montenegro apresentou-se em excelente forma, aguerrido e eficaz. Talvez com alguns excessos em relação ao PS com o qual negociará o orçamento do Estado. O debate do estado da Nação, para usar a expressão feliz de Bernardo Ferrão (SIC Notícias) “foi mais o debate da Negociação”. O chefe do Governo chegou à discussão no Parlamento com excelentes registos nas sondagens. Montenegro é o político mais popular, mesmo entre eleitores de outros partidos, com exceção dos comunistas; é avaliado de forma mais positiva do que o presidente Marcelo. No confronto com Pedro Nuno Santos, ganha por margem confortável. Todos os ministros recolhem avaliação positiva, com exceção para a Saúde e Defesa. Pedro Nuno Santos discute com Ventura, ombro a ombro, a “liderança” da oposição. Mas vai somar pontos com a viabilização do Orçamento do Estado. (Aximage para DN/JN/TSF)

Em suplemento ao programa, nos Grandes Enigmas, quem é o culpado pelos atentados da calçada portuguesa contra a integridade física dos cidadãos? Pode visitar-se uma repartição pública sem marcação? Quem são os famosos que aparecem nos programas de entretenimento da televisão? Porque é que a simplificação de um processo administrativo do Estado foi entregue a um génio louco?

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