Dia Mundial da População

Idosos portugueses cada vez mais centenários. Mais de 400 mil estão em risco de pobreza

11 jul, 2023 - 00:01 • João Pedro Quesado

Portugal é o segundo país mais envelhecido da União Europeia, ficando pouco atrás da Itália. A imigração também tem contribuído para aumentar o número de idosos.

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Em 2,5 milhões de idosos portugueses, há quase três mil centenários, 552 mil vivem sozinhos, e mais de 400 mil estão em risco de pobreza. Os dados de uma análise divulgada pela Pordata esta terça-feira, Dia Mundial da População, contam que 17% dos idosos vivem com um máximo de 551 euros por mês.

A base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos destaca a inversão da pirâmide demográfica como “um dos maiores desafios do século XXI” na maioria dos países europeus. Essa preocupação abrange Portugal, onde o rácio é agora de 184 pessoas idosas – com 65 ou mais anos de idade – por cada 100 jovens.

Para o Instituto Nacional de Estatística (INE), esta tendência vai agravar-se. As projeções do INE apontam para um rácio de 215 pessoas idosas por cada 100 jovens em 2030, 297 em 2050 e 300 em 2080.

Portugal já é o segundo país mais envelhecido da União Europeia, ficando logo atrás da Itália nos dados referentes a 2022. Em média, os idosos representam 21,1% da população dos países da União Europeia, mas em Portugal a proporção é de 23,7%.

O rácio populacional entre idosos e jovens tem-se alterado devido aos números baixos de naturalidade, mas também ao aumento da esperança média de vida: aos 65 anos as mulheres portuguesas podem esperar mais 22 anos de vida - até aos 87 anos -, enquanto os homens podem esperar viver até aos 83 anos.

O prolongamento da vida significa que cada vez mais idosos atingem a marca do centenário: em 2022 foram 2.940. Mas as projeções dizem que, em 2050, este número já vai ultrapassar os 10 mil.

O aumento da população idosa também é impulsionado pela imigração. O Censos de 2021 contou 46 mil pessoas idosas estrangeiras. Este número mais do que duplicou face a 2011, ano em que apenas se contavam 20 mil idosos sem nacionalidade portuguesa.

240 mil idosos trabalham na agricultura

A taxa de emprego entre as pessoas com 65 ou mais anos tem aumentado desde 2015, e está agora nos 9%. Portugal está acima da média europeia neste indicador.

A proporção de homens idosos que continua a trabalhar é mais de o dobro das mulheres idosas – 14% para 6%.

Entre os homens, um quinto dos que trabalha é especialista de atividades intelectuais e científicas, e 18% é trabalhador qualificado da indústria e construção. Já entre as mulheres, 27% é trabalhadora não qualificada.

Em 2019, o Recenseamento Agrícola apontava que 243 mil pessoas idosas trabalhavam ou ocupavam-se com a agricultura.

Quanto aos rendimentos, a reforma ou pensão é o sustento de 90% dos idosos, com a Segurança Social a pagar mais de 1,6 milhões de pensões em 2022, enquanto a Caixa Geral de Aposentações fez pagamentos, em 2020, a mais de 430 mil reformados.

No fim das contas, são mais de 400 mil os idosos em risco de pobreza – vivendo com menos de 551 euros por mês -, mesmo após receber as transferências sociais, como pensões e outros apoios do Estado.

Estes 17% comparam favoravelmente com os mais de 25% de idosos em risco de pobreza em 2007. Sem essas transferências, 86% dos idosos seriam hoje pobres, num cenário em que o número de pessoas que recebe o Complemento Social de Idosos tem diminuído, mas há mais a beneficiar o Rendimento Social de Inserção.

Maioria dos idosos “nunca ou quase nunca” se sentiu sozinha

Em 2022, 25% dos idosos, cerca de 552 mil pessoas, viviam sós, sobretudo as mulheres – 32% está nessa situação, enquanto entre os homens a percentagem cifra-se nos 14%. No entanto, há uma maioria de 46% que vive em casal.

Mas os idosos tendem a viver em casas subocupadas: um idoso que viva sozinho tem, em média, 4 quartos disponíveis em casa, ao passo que um casal de idosos tem 2,2 quartos para si. A média nacional é de 1,7 quartos por pessoa.

A maioria de idosos que vive em casal, ou com a família próxima, garante que a tendência entre os idosos é não se sentir sozinho. Contudo, 15% das pessoas com 75 ou mais anos dizem que se sentem sós ou isoladas “sempre ou quase sempre”, e 21% apontam sentir solidão “algum tempo”.

Sem surpresa, esta parte da população tem baixos índices de escolaridade. No Censos de 2021, 55% tinha apenas completado o ensino primário, mas 15% da população com 65 ou mais anos não completou sequer nenhum nível de escolaridade.

Ao contrário do que acontece entre os jovens, as mulheres são as menos escolarizadas entre os idosos: 19% das mulheres não completaram nenhum nível de escolaridade e 55% apenas completou o primeiro ciclo.

O uso da internet pelos idosos está abaixo da média da União Europeia: apenas 49% das pessoas entre os 65 e os 74 anos usa a internet uma vez por semana, enquanto a média é 65%.

Mais de metade dos idosos não faz exercício físico

Apesar da esperança média de vida aumentar, nem todos os anos em que a vida se prolonga serão saudáveis.

Em 2022, as mulheres apenas podiam contar, em média, com sete anos de vida saudável, enquanto os homens podiam contar com oito anos saudáveis após os 65.

Quase um terço dos idosos considera o seu estado de saúde “mau ou muito mau”, o que torna Portugal no 5.º país onde as pessoas mais velhas têm pior perceção do seu estado de saúde.

A contribuir para isso estará o facto de 71% dos idosos ter, em 2021, uma doença crónica ou um problema de saúde, e 21% estar “severamente limitado” devido a problemas de saúde. As dificuldades vão de tomar banho e vestir-se sozinho (243 mil pessoas) a andar ou subir degraus (473 mil pessoas).

Mais de metade das pessoas com 65 ou mais anos não pratica exercício físico, e 65% dos idosos entre os 65 e os 74 anos de idade têm excesso de peso ou sofrem de obesidade – o que ultrapassa a percentagem nacional, de 53%.

No fim da vida, as causas de morte mais frequentes são uma doença do aparelho circulatório e o cancro.

O cancro matou 40% dos idosos entre os 65 e os 69 anos em 2021. A partir dos 70 anos, são os AVCs e os ataques cardíacos que dominam, causando 28% das mortes.

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