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Bênção de casais do mesmo sexo é “inapropriada” em África, dizem bispos

11 jan, 2024 - 17:44 • Ângela Roque

Documento conjunto das conferências episcopais africanas fala em “razões bíblicas” e culturais para não aceitar abençoar casais homossexuais, como propõe documento recente do Vaticano, mas assegura que não está em causa “comunhão” com o Papa.

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Desde que foi publicada, a 18 de dezembro, pelo Dicastério para Doutrina da Fé, a declaração “Fiducia supplicans” - que permite abençoar casais do mesmo sexo e em situação irregular – causou reações negativas, nomeadamente no continente africano. A 4 de janeiro o Vaticano publicou um comunicado a esclarecer que “a doutrina sobre o matrimónio não se altera" e que "a bênção não significa aprovação da união” entre homossexuais, mas isso não fez mudar a leitura negativa que muitos fazem do documento.

Esta quinta-feira, o Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar divulgou uma posição conjunta. O documento, enviado à Renascença, diz que a “Fiducia supplicans” causou uma “onda de choque” na Igreja africana, e “semeou equívocos e inquietação nas mentes de muitos fiéis leigos, consagrados e até pastores”. Os bispos africanos dizem que não é clara a distinção entre “bênçãos litúrgicas” e “rituais de bênção”, e que isso facilita que haja “confusão”.

O comunicado fala em “razões bíblicas” e culturais do continente africano, que tem “profundamente enraizados os valores da lei natural relativos ao casamento e à família, o que complica ainda mais a aceitação de uniões de pessoas do mesmo sexo, vistas como contraditórias às normas culturais”.

Embora reafirmem uma total “comunhão” com o Papa, as várias conferências episcopais africanas dizem que não é possível aplicar o que a ‘Fiducia supplicans’ propõe sem causar “escândalo”, tendo em conta que “a doutrina da Igreja sobre o casamento não se alterou”.

“Os bispos africanos não consideram apropriado para África abençoar uniões homossexuais porque, no nosso contexto, isso causaria confusão e entraria em contradição direta com o ethos cultural das comunidades em África”, lê-se no comunicado, que acrescenta que “a linguagem da ‘Fiducia supplicans’ permanece muito subtil para as pessoas simples compreenderem”, e será “muito difícil convencer as pessoas do mesmo sexo que vivem em união estável a não reivindicarem a legitimidade do seu próprio estatuto”.

Assim, embora cada bispo tenha “liberdade na sua diocese”, no geral as conferências episcopais africanas preferem “não oferecer bênçãos a casais do mesmo sexo”, mas alguns países querem ter mais tempo para “aprofundar a declaração que, de facto, oferece a possibilidades destas bênçãos, mas não as impõe”.

“Continuaremos a refletir sobre o valor do documento, que vai para além das bênçãos”, asseguram os bispos africanos.

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