Na maior parte dos dias, Rosa Borrega nem se lembra da idade que tem. “Só sei porque me dizem: 'passado tanto tempo, faz tantos anos.'” Aliás, é um número que tem dificuldade em pôr por palavras, e para o qual não tem explicação.
“Vão passando os anos e eu cá estou. Não morro. Não sei como é que é ter 103 anos. Com certeza é uma fé que tenho em Nossa Senhora, é ela que me acompanha para aqui e para ali. Ainda não morri. Ou a Nossa Senhora não quer, ou é Nosso Senhor. É o que tenho na boca para dizer.”
Quem não conhece a idosa, natural e residente em Aranhas, concelho de Penamacor, jamais arriscaria tal número. Muito menos se a encontrasse na sua horta, colada aos lavadouros públicos da aldeia, como a Renascença encontrou.
É que, nalguns dias, Ti Rosa (como é mais conhecida) ainda vai lá. E ainda tem força para pegar numa enxada e trabalhar a terra – à revelia da vontade da filha. “No ano passado, a minha mãe ainda plantou as cebolas. Fazia os regos com a enxada e depois andava eu atrás dela com o cebolinho”, conta Patrocínia, 73 anos, com orgulho.
Este domingo, 1 de outubro, comemora-se o Dia Mundial do Idoso. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2021, as pessoas com 65 e mais anos representavam 23,4% da população residente em Portugal.
Rosa e Patrocínia, mãe e filha, centenária e septuagenária, respetivamente, estão incluídas nesta estatística. Uma mais do que a outra, em todo o caso. Ainda este verão, a Pordata revelou que, em 2022, existiam 2940 portugueses com mais de 100 anos, um aumento de 77% face numa década.
A mulher de 103 anos de olhos azuis-claros, apoiada numa bengala, não rejeita a etiqueta de idosa, mas também não parece ter total consciência da mesma. Sê-lo é sentir o “abrandar das forças”. “Às vezes queremos, mas não podemos”, diz. Por outras palavras: é uma medida de força.
Ora, a força de Ti Rosa ainda não desapareceu. Pelo menos, não totalmente.
Um pouco em tom de reprimenda, mas com risos à mistura, Patrocínia conta que, ainda no dia anterior à visita da Renascença, zangou-se com a mãe. “Trouxe-a comigo, pensava que ia ficar aqui sentadinha.” Acontece que, mal deu conta, já ela andava com um sacho a arrancar as ervas que ladeiam a horta.
“Eu disse-lhe: ‘Minha mãe, não quero que faça isso, depois doem-lhe as costas’”, começa por contar. Mas depois, como que resignada, acrescenta: “A vida dela é o sacho na mão e a enxada. Eu costumava dizer: 'vossemecê passa a terra mais a ferro do que algumas mulheres passam as camisas dos homens.'”