A Associação de Médicos Católicos (AMC) considera que as declarações do ministro Manuel Pizarro, que acredita que as Unidades Locais de Saúde devem poder fazer consultas de Interrupção Voluntária da Gravidez, constituem um “caminho para banalização do aborto”.

O vice-presidente da AMC, João Paulo Malta, diz à Renascença que “as pessoas parecem estar mais preocupadas com o número de obstetras que são objetores de consciência” e não como o atendimento deve ser feito nesses casos, “que deve dar o privilégio à mulher de ter tempo para decidir e ser corretamente esclarecida”.

João Paulo Malta acredita que, se a medida avançar, “a maioria dos colegas, como atualmente acontece nos centros de saúde, serão também objetores de consciência”

“Penso que os colegas de clínica geral que estão preparados para atender condignamente as mulheres. E o condignamente não é seguramente facilitar o aborto, tornar isso um ato banal-é atendê-las com tranquilidade e saber esclarecer que a defesa da vida humana é o ponto fundamental da ação de qualquer médico”, acrescenta.

O ministro da Saúde defendeu na quarta-feira à noite, em entrevista à RTP, a mudança do “modelo organizativo”, uma vez que “no setor público, a esmagadora maioria dos casos é tratada com medicamentos e isso não precisa da intervenção de um hospital”.

Manuel Pizarro apontou, no entanto, que o problema "é haver uma percentagem muito grande dos profissionais de um serviço serem objetores de consciência”.

As declarações do ministro da Saúde foram feitas depois de um relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) ter concluído que há 15 hospitais públicos que não realizam a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) e que dois destes hospitais não garantem o encaminhamento para unidades que permitam uma resposta a tempo.

Os dados da ERS indicam também que só 13% dos obstetras do SNS fazem interrupções voluntárias da gravidez. Profissionais de saúde objetores já serão quase mil.