Em Santa Marinha, no concelho de Seia, há uma retrosaria centenária que ameaça fechar portas, se “o Estado obrigar a mexer no computador”. Emília tem 72 anos e ainda hoje mantém viva a herança deixada pela avó de quem herdou também o nome.

A avó está numa fotografia, a preto e branco, logo à entrada da loja, que agora é de Emília. “É minha, está registada no meu nome”, diz esta neta de 72 anos, que ainda hoje mantém o comércio aberto. Vive mesmo ali, logo umas escadas acima da retrosaria, que vende desde confeção a produtos de limpeza.

Roupa interior, saias, casacos, pendurados na loja centenária de Maria Emília Saraiva. Olha e tira as medidas a quem entra. “A senhora não gasta 40”, indica, enquanto recorda melhores tempos de vendas.

“Antigamente, as mulheres compravam saias; esta juventude quer calças, estes artigos já não é o que elas gostam”, lamenta a comerciante.

A loja centenária conserva memórias do antigamente, que Emília insiste em manter. Mas ameaça: se a obrigarem a mexer no computador, fecha a porta.

“Se calhar para o fim do ano vou fechar. O Estado está a exigir-me máquinas, tipo computador, e eu já não tenho idade para isso. Se mantiverem as faturas em papel, continuo, senão até ao final do ano arrumo. E perguntam-me depois onde vão comprar as coisas. Têm de se desenrascar”, diz.

Tenho 250 euros de reforma e isto também é uma ajuda para mim”, adianta.

A população está habituada a ver, em Santa Marinha, a única retrosaria com mais de 100 anos, herdada da avó. “Eu nasci na década de 40 do século passado e a minha avó já tinha a loja há várias décadas. Já me lembro da minha avó ter sempre o comércio, a minha avó vendia sal a granel”, garante, enquanto mostra os antigos instrumentos de medição em madeira.

Hoje, além do sal que vendia a avó de Emília, também há roupa, quase tudo em promoção. “Cuecas a 2,30€ cada, saias para 10€, meias em saldo, a 60 cêntimos”, anuncia.

E a Covid-19? De que forma afetou este comércio local? “Pus à janela e vinham comprar na mesma”, sorri Emília.