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Há cada vez mais indícios, apesar de a Rússia negar, de estarem a ser utilizadas de bombas de fragmentação e termobáricas em ataques na Ucrânia – até em áreas residenciais. Na segunda-feira, emergiram nas redes sociais vídeos de ataques em Kharkiv, cidade com cerca de 1,4 milhões de habitantes, que indiciam isso.

A organização não-governamental Human Rights Watch lançou a denúncia, entretanto apoiada também pela embaixadora da Ucrânia nos Estados Unidos da América, Oksana Markarova, e Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca.

Esta quarta-feira, dois especialistas analisaram os vídeos que circulam na internet para a agência de notícias Reuters e chegaram à mesma conclusão. “Parecem ser bombas de fragmentação, semelhantes às que têm sido usadas no Iraque e Síria”, disse Hamish de Breton-Gordon, especialista do exército britânico em munições e armas químicas, à agência. “Múltiplas explosões no momento do impacto sugerem projétil de fragmentação.”

A situação legal, contudo, não é simples. Por um lado, nem a Rússia nem a Ucrânia são signatários da Convenção sobre Armas de Fragmentação, adotada em 2008 por 110 países. Por outro, a lei internacional humanitária dita que nunca deve ser utilizada “qualquer arma ou sistema de armas que não permita distinguir entre combatentes e civis e entre objetivos militares e objetos civis”.

Ou seja, a Rússia – em teoria – não devia poder usar este tipo de munição pelo menos dentro de cidades e em proximidade com civis. Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, já veio apelidar as notícias do uso deste tipo de projeteis de “notícias falsas”. Enquanto isso, a secretária-geral da Amnistia Internacional (AI), Agnès Callamard, alertou que “alguns destes ataques podem ser crimes de guerra”.

O que são bombas de fragmentação?

Quando utilizadas em combate, as bombas de fragmentação têm um impacto indiscriminado. Por outras palavras: não são projéteis utilizados para ataques de precisão, mas para causar o máximo dano possível. É por isso, pois, que a sua utilização dentro de uma cidade levanta dúvidas e problemas legais: são a antítese da arma que permite “distinguir entre combatentes e civis”.

Um projétil de fragmentação não é algo ultramoderno como as bombas termobáricas. Na prática, estamos a falar de um recipiente de munições mais pequenas (balas, granadas ou outras pequenas bombas, por exemplo), que, quando rebenta, dispersa o conteúdo que transporta, provocando assim dano numa larga área.

E bombas termobáricas?

Também conhecidas como “bombas de vácuo”, as bombas termobáricas – que a CNN norte-americana disse já ter avistado em Belgorod, localidade russa perto da fronteira com a Ucrânia – são, ao nível tecnológico, muito mais avançadas que as de fragmentação. Criam explosões com elevadas temperaturas e pressões. E são muito letais porque é muito difícil escapar à área de explosão.

Ao embater, este tipo de projétil liberta um aerossol – uma mistura de metais e combustível – que se dispersa por uma grande área. Depois, quando se dá a ignição, o aerossol e o oxigénio em redor inflamam, desencadeando uma explosão de temperatura e pressão altíssima.

Estas munições são utilizadas muitas vezes para atacar estruturas fechadas como bunkers, pois conseguem “infiltrar-se” com facilidade. Há relatos de pessoas serem vaporizadas com este tipo de armamento. Mais uma vez, não são munições de “precisão”.