“Quis contar o que Saramago não contou. Que ambiente havia na casa, e nele mesmo quando começava a escrever um romance. Porque escreveu o ‘Ensaio sobre a Cegueira’, ‘Todos os Nomes’, ‘Ensaio sobre a Lucidez’, ‘‘A Viagem do Elefante’, os livros que escreveu em Lanzarote. Conto o momento, o que se estava a passar com Saramago, no mundo, na casa, que conversas, que intuição, que pergunta Saramago tinha feito para dedicar os seguintes meses ou anos à escrita dos livros”, conta Pilar del Rio.
Nas palavras da presidente da Fundação Saramago, “A Intuição da Ilha” é uma “passadeira” para os leitores entrarem no universo literário do autor de “O Ano da Morte de Ricardo Reis”. Mas há no livro também pormenores mais domésticos, como “a vida dos cães da casa”, ou as personalidades que se cruzaram à mesa de refeições da casa.
Com prefácio de Fernando Gómez Aguilera, “A Intuição da Ilha” inclui 24 páginas de fotografias do arquivo privado da Fundação Saramago, a instituição que na segunda-feira divulgará quem é o vencedor do Prémio Literário Saramago deste ano.
As sete vidas de José Saramago
Teve o seu primeiro livro aos 12 anos, na juventude pediu um empréstimo de 300 escudos a um amigo, para comprar livros. A sua primeira estante foi o armário da cozinha. Só aos 58 anos, José Saramago se assumiu como escritor, com a publicação de “Levantado do Chão”. Aos 76 anos, venceu o Prémio Nobel da Literatura.
A história das várias vidas do escritor português é agora contada no livro “As 7 Vidas de José Saramago” (ed. Companhia das Letras) da autoria de Miguel Real e Filomena Oliveira. A biografia que mistura os dados cronológicos sobre a vida do autor, com a análise da sua obra literária, revela os detalhes do escritor que teve uma infância marcada pela escassez.
“Filho e neto de um casal rural”, indica Miguel Real, José Saramago teve uma formação literária muito feita a seu custo. O biógrafo recorda que Saramago, “quando trabalhava na manutenção do Hospital de São José, ia à noite estudar e preencher as deficiências da sua formação para a Biblioteca Municipal Galveias, que era a única aberta até à noite. Lia tudo o que podia”.