Bispo de Vila Real desafia novos padres a não ficarem fechados num gabinete ou sacristia
04-07-2021 - 18:47
 • Olímpia Mairos

Na ordenação de dois sacerdotes e três diáconos, D. António Augusto Azevedo deixou desafios a um “estilo pastoral verdadeiramente evangélico”.

O bispo de Vila Real ordenou, este domingo, dois sacerdotes e três diáconos na sé e afirmou na homilia da missa que o dia das ordenações é um dia de grande significado na vida da diocese.

Depois de agradecer o dom de Deus à Igreja diocesana, D. António Augusto Azevedo enalteceu “o trabalho formativo desenvolvido no seminário e na faculdade de teologia”, reconheceu “o papel das comunidades paroquiais de naturalidade e de estágio dos ordinandos” e não esqueceu “a missão determinante das respetivas famílias, enquanto berços da vida e escolas da fé”.

“Acima de tudo, é dia de alegria pela disponibilidade destes jovens (o Luís, o Marcelo, o Daniel, o João Paulo e o Miguel) em servirem esta igreja e, também, um grande momento de esperança, porque confiamos no contributo importante que todos e cada um poderão dar à vida da diocese”, assinalou o prelado.

O bispo da Diocese de Vila Real refletiu, depois, com a assembleia, sobre a Palavra proclamada para ressaltar “a atitude Jesus que está no meio do seu povo, na sua própria terra, reunido na sinagoga e depois continuando a percorrer as outras aldeias”, para dizer que o sacerdote é “para o serviço do povo de Deus”.

“Espera-se precisamente que realize essa missão de forma próxima de todos e não fechado num gabinete ou sacristia ou à distância seja ela real ou virtual”, declarou, explicando que “o padre, enquanto ministro de Jesus Cristo é sempre o irmão, o amigo, aquele que está próximo, sobretudo dos mais pobres, dos doentes e dos fragilizados”.

“A paixão de ser povo, como diz o Papa Francisco, de estar com o povo e cuidar dele, é imprescindível a um estilo pastoral verdadeiramente evangélico”, lembrou D. António Augusto Azevedo.

E, segundo o bispo da Diocese de Vila Real, para a vivência desse estilo “é necessário ultrapassar lógicas de egoísmo, fechamento, prepotência ou autosuficiência”.

“Imitando Jesus Cristo que veio para servir e dar a vida, o padre é chamado a sair de si e ir ao encontro do povo a quem é enviado. Só assim, aliás, poderá experimentar as alegrias e grandezas, no fundo as coisas mais bonitas, do ministério”, disse D. António Augusto Azevedo.

“Ao contrário, atitudes de autocentramento e autorreferencialidade acabam por potenciar cansaços e desilusões”, advertiu o prelado, assinalando que “um estilo sacerdotal mais evangélico, fraterno e sinodal é antídoto à tentação de um clericalismo revivalista e anacrónico”.

O bispo de Vila Real alertou também para o contexto que hoje vivemos de “crescente indiferença à fé e incredulidade”, favorecido por “uma cultura que privilegia a aparência, a superficialidade, a emoção fácil e promove o consumismo passivo, a adesão acrítica, substituindo a reflexão pessoal pelo catálogo do ‘prêt-à-penser’”.

“Ser padre, em contexto de crescente incredulidade, é um ato de fé e coragem, próprio de quem se sente desafiado a um estado de permanente missão. É um passo ousado que conta cada vez menos com as redes de segurança do prestígio social ou bem-estar material, mas confia, sobretudo, na força do Espírito, na comunhão do presbitério e no acolhimento e colaboração de tantos leigos”, explicou o prelado.

Ser padre neste contexto é “um sinal de liberdade evangélica, próprio de crentes e jovens que, como o profeta Ezequiel, não desistem de anunciar a palavra de Deus”.

No entender do bispo de Vila Real, “é difícil ser um padre perfeito, mas é possível e desejável caminhar numa configuração cada vez maior com Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, Único e Bom Pastor”.

Quase a concluir a homília, D. António Augusto Azevedo exortou os novos sacerdotes à fidelidade como caminho de um ministério feliz e fecundo.

“Mais do que protagonismos fáceis ou busca de compensações mundanas, empenhai-vos em ser fiéis Àquele que vos chamou e vos envia; esforçai-vos por crescer espiritualmente, em reforçar o espírito de comunhão com todo o presbitério, em colocar a vossa vida, tempo, qualidades e energias em servir dignamente o povo a vós confiado. Este será o caminho para um ministério feliz e fecundo, o sinal de que a graça de Deus em vós não foi em vão”, concluiu D. António Augusto Azevedo.

O bispo de Vila Real presidiu à celebração de ordenação sacerdotal de Luís Miguel Figueiredo Coutinho, concelho de Peso da Régua, e Marcelo Garganta Rodrigues, concelho de Murça.

D. António Augusto Azevedo ordenou também três novos diáconos: Miguel Ângelo Águeda dos Santos, de Alijó, Daniel Pinto Coelho, de Póvoa de Agrações, concelho de Chaves, e João Paulo Cunha Silvino, de Boticas.