Vacina aprovada nos 12-15 anos. As questões que se colocam e as respostas já conhecidas
11-08-2021 - 07:34
 • Eunice Lourenço , Miguel Coelho

A decisão não reúne consenso e parece decorrer de pressão política (bem notória nos últimos dias). A comissão técnica refere que esta faixa tem pouco impacto nos contágios, mas vacinação traz benefícios.

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Dez dias depois de ter recomendado a vacinação contra a Covid-19 apenas para crianças dos 12 aos 15 anos com doenças associadas, a Direção-Geral da Saúde veio anunciar que recomenda a vacinação para essa faixa etária.

Porque é que a DGS mudou de opinião?

Segundo a diretora-geral da Saúde, porque foi possível analisar novos dados, nomeadamente um estudo norte-americano e outro europeu que dão conta que entre os mais de 15 milhões de crianças vacinadas os episódios de efeitos secundários, como miocardite, são extremamente raros e têm em geral uma evolução positiva.

Não escapa, contudo, a ninguém o facto de a DGS ter sido muito pressionada nestes últimos dias para generalizar a recomendação de vacinação nesta faixa etária, desde o Presidente da República ao coordenador da “task force” de vacinação, passando pelo próprio Governo.

Mas há muitos especialistas que continuam a discordar...

Sim, houve aliás um grupo de 30 médicos assinou recentemente uma carta contra a vacinação nesta faixa etária, incluindo especialistas em pediatria e da Fundação Portuguesa de Cardiologia, entre outros. Os argumentos são, em resumo, que os casos de Covid-19 nos mais jovens não são, por norma, graves e que por isso os benefícios não justificam os eventuais riscos da vacina.

Mas quem defende a vacinação contrapõe que para controlar a pandemia, evitar contágios às pessoas mais velhas e para que o próximo ano letivo decorra com maior tranquilidade, é fundamental vacinar a partir os 12 anos.

Então agora as crianças e adolescentes entre os 12 e os 15 anos vão ser todos vacinados?

Ainda não será agora, agora. O calendário e os procedimentos ainda terão de ser divulgados pela “task force” para a vacinação. O primeiro-ministro já veio dizer que será possível vacinar todos antes do início do ano letivo, mas a DGS disse que não se deve colocar essa barreira e que, se não for antes do início do ano letivo, não faz mal – há-de ser nas semanas seguintes. E que isso não terá um impacto significativo na evolução a doença.

Porque é que não terá um impacto na evolução da doença?

Porque, segundo a DGS e a comissão técnica para a vacinação, os miúdos desta faixa etária têm pouco impacto nos contágios.

Segundo Luís Graça, da comissão técnica, a fixa etária acima – ou seja, com 16 anos ou mais – tem muito mais impacto e tem também mais casos. Por isso, tanto Graça Freitas como Luís Graça insistiram muito na necessidade de vacinar os maiores de 16.

Luís Graça até disse que o maior benefício dos maiores de 12 é o seu bem-estar psicológico, social e educacional.

Quantos serão as crianças e adolescentes nesta faixa etária?

Cerca de 410 mil.

Vão receber que vacinas e quantas doses?

Vão receber vacinas da Pfizer e da Moderna, que são as únicas aprovadas para esta faixa etária. E devem receber duas doses.

E não vai ser necessário prescrição médica?

Não. Com esta mudança na recomendação deixa de ser necessário indicação médica.

E autorização dos pais?

Também não é preciso. Contudo, têm de ir à vacinação acompanhados por um dos pais ou por um tutor legal. A presença dos pais ou de tutores é considerada, tal como acontece nas vacinas do plano nacional de vacinação, sinal do consentimento expresso para a vacina.

E quando haverá vacinação abaixo dos 12?

Ainda não há qualquer perspetiva para isso, uma vez que não está autorizado pelas autoridades internacionais qualquer vacinação abaixo dos 12 anos.

Há, contudo, o caso de Israel, que começou a vacinar as crianças a partir dos 5 anos com doenças graves, mas é um caso singular.

A questão da vacinação dos mais pequenos pode, por outro lado, vir a colocar-se, dado que nos Estados Unidos – que têm nesta altura um número recorde de menores internados com Covid-19 – a agência do medicamento pediu, e já decorrem, estudos por parte da Pfizer e da Moderna em crianças entre os 5 e os 11 anos.