Um milhão de casos em Portugal. Como a vacina ajudou a mudar o jogo
14-08-2021 - 14:01
 • Hélio Carvalho

O país passou por sucessivos estados de emergência e confinamentos, recordes de mortalidade, filas de ambulâncias, muitas zaragatoas, variantes e, eventualmente, vacinas. Veja os dados que contam a história dos avanços e recuos do coronavírus no país.

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Quinhentos e trinta dias. O primeiro caso de Covid-19 em Portugal foi detetado no dia 2 de março de 2020 e foram precisos 530 dias para ser atingida a negra marca de 1.000.000 de casos no país. Os dados mostram que há um antes e um depois da vacina, que veio mudar as regras do jogo.

Foram 530 dias que mais pareceram uma eternidade para muitos portugueses, durante os quais morreram mais de 17.500 pessoas às mãos do novo coronavírus. No início de 2020, o país olhava para o exterior, à espera que surgisse o primeiro caso em território nacional.

No dia 2 de março, um médico de 60 anos que fez férias no norte de Itália foi diagnosticado com Covid-19. No mesmo dia, um homem de 55 anos que esteve em Espanha em trabalho testou positivo ao então novo coronavírus. Os dois foram internados no Porto.

Começaram os boletins diários e conferências de imprensa da Direção-Geral da Saúde, e os portugueses começavam a habituar-se a utilizar máscaras de proteção no dia a dia.

Dezasseis dias depois, o Presidente da República decretou o estado de emergência, que entrou em vigor à meia-noite do dia 19 de março e foi sendo sucessivamente renovado ao longo de dois confinamentos e três vagas da pandemia.

Este sábado, 530 dias depois do primeiro caso, Portugal registou 1.001.118 casos de Covid-19.


As quatro ondas da travessia pela Covid-19


O país passou por uma primeira vaga, entre março e abril de 2020, tendo sido identificada uma média semanal de mais de 700 casos diários e 30 mortes diárias entre o final de março e início de abril.

A segunda vaga, em outubro e novembro, teve um pico em que registou uma média de 6.200 casos diários, sendo que no dia 11 de novembro ocorreram 8.371 novos casos e 91 mortes.

A terceira vaga chegou depois do Natal, impulsionada pelos encontros familiares e pela variante britânica. Foi a mais assustadora e mais exigente para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Os hospitais ficaram sobrelotados, as imagens de ambulâncias em longas filas tornaram-se uma constante e os profissionais de saúde pediam reforços e cuidados, assoberbados pela exaustão.

"Hoje, nunca nenhum de nós teria defendido aquelas medidas. As medidas são tomadas em função das circunstâncias e dos dados que nós temos", disse o primeiro-ministro sobre o alívio de medidas permitido na época das festas de Natal. António Costa falava no Parlamento, a 19 de janeiro, dia em que Portugal registou 218 mortos por Covid-19, um novo máximo na altura. Mas o país ainda não tinha batido no fundo.

Nessa vaga no final de janeiro e início de fevereiro, Portugal atingiu regularmente a marca dos 10 mil casos diários, com o dia 28 de janeiro a registar uns tenebrosos 16.432 novos casos de Covid-19 e 303 portugueses mortos.

A última vaga da pandemia fez-se sentir mais recentemente, mas já com o processo de vacinação em curso. O pico da quarta onda foi atingido no dia 22 de julho, quando foi registada uma média semanal de 3.327 casos diários.

O país mantém, à data, uma média semanal entre 13 e 15 mortes.

De uma forma geral, entre o dia 2 de março de 2020 e este sábado, dia 15 de agosto de 2021, Portugal registou uma média de 1.882,7 novos casos de Covid-19 e 33,1 mortes.


Vacina mudou as regras do jogo

O primeiro português a tomar uma dose da vacina contra a Covid-19 foi António Sarmento, diretor do serviço de Infeciologia do hospital de São João, no Porto. No dia 27 de dezembro de 2020, às 10h07, o médico tomou a primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech.

As vacinas foram desenvolvidas e aprovadas em tempo recorde, num esforço global para começar a vencer a maior pandemia das nossas vidas.

Desde então, mais de 7,2 milhões de portugueses tomaram uma dose da vacina (incluindo os que tomaram a vacina de dose única da Janssen) e mais de 5,5 milhões de portugueses tomaram duas doses de uma das vacinas disponíveis para combater a doença.

A vacinação tem sido largamente creditada por ter abrandado o ritmo da mortalidade pela Covid-19 em Portugal. Entre 18 de abril, dia em que Portugal atingiu as 100 mil vacinações pela primeira vez, e esta sexta-feira, dia 13 de agosto, a mortalidade média diária foi de 5,1 óbitos.

Pelo meio, outro fator a ter em conta: a variante Delta, com origem na Índia, cerca de 60% mais transmissível, tornou-se dominante em Portugal.

Por outro lado, em todo o período da pandemia anterior ao dia 18 de abril (período esse que inclui a mais mortífera terceira vaga), a mortalidade foi de 41,1 óbitos por dia provocados pela Covid-19.

Nos 229 dias desde que começou a vacinação até esta sexta-feira, houve 35 dias que foram vacinadas mais de 100 mil pessoas, e em dois desses dias foram vacinadas mais de 200 mil pessoas.


O ritmo de vacinação foi reconhecido pelo Governo no início do mês de agosto, quando o primeiro-ministro anunciou que o levantamento das medidas que restringem a economia e a vida dos portugueses, desde o início da pandemia, será feito olhando para a vacinação, e não para a incidência ou a transmissibilidade.

Na sexta-feira, cerca de 73,01% da população portuguesa foi vacinada com uma dose e 55,54% estava completamente imunizada.

O Governo e a "task force" da vacinação preveem que, em setembro, o país atinga 70% de imunização contra a doença - contando para isso com a vacinação dos adolescentes antes do início das aulas.

Em novembro, as autoridades esperam que 85% da população portuguesa esteja completamente vacinada contra a Covid-19.