​Uma entrevista importante
16-07-2021 - 06:19

Raramente, talvez mesmo nunca antes, terá um chefe de governo português falado da União sem transmitir a propaganda politicamente correcta habitual, nem esconder os problemas que afectam a União e que são imensos.

Foi sem dúvida de grande importância a entrevista que o primeiro-ministro deu ao Público, no passado dia 4, a propósito da União Europeia.

Raramente, talvez mesmo nunca antes, terá um chefe de governo português falado da União sem transmitir a propaganda politicamente correcta habitual, nem esconder os problemas que afectam a União e que são imensos.

Comecemos pelo eixo franco-germânico. Por motivos que a mim me escapam, formou-se a certa altura em Portugal a ideia que a União Europeia deveria subordinar-se às decisões da dupla Alemanha-França. Comos se estes dois países que representam 1/3 da população da União tivessem hoje a mesma importância relativa que tiveram no início da CEE em que representavam mais de metade. O que o primeiro-ministro acentuou é que o eixo franco-alemão deixou de poder funcionar. E ainda bem, acrescento.

Outro aspecto da maior importância também referido na entrevista. Diz o primeiro-ministro que não há condições para que as decisões sobre política externa deixem de ser tomadas por unanimidade e passem a ser tomadas por maioria qualificada, como a Comissão Europeia e os meios federalistas querem a todo o custo forçar.

Nestas poucas palavras o chefe de governo rejeitou a criação dos pretensos Estados Unidos da Europa para a qual seria essencial a apropriação por parte da União de uma das competências básicas que caracterizam um estado soberano – a política externa. De novo, ainda bem.

Se, com honrosas excepções, o debate político deixasse de ser feito sobre casos de vizinhos e vizinhas teríamos certamente aqui material para que o país e os seus representantes pudessem debater o futuro europeu e a nossa posição dentro da União.