Ativistas do Climáximo obrigadas a despir-se avançam com queixa-crime contra PSP
20-07-2021 - 14:40
 • Hélio Carvalho

Segundo a porta-voz do coletivo, as 19 ativistas detidas na esquadra dos Olivais, em Lisboa, foram intimidadas e "forçadas à nudez" para provar que não constituíam uma ameaça.

O coletivo ambientalista Climáximo anunciou esta terça-feira que vai apresentar queixa-crime ao Ministério Público contra a atuação de agentes da PSP na esquadra dos Olivais, em Lisboa. Segundo o coletivo, 19 mulheres ativistas foram obrigadas a despir-se por agentes depois de serem detidas, após uma manifestação pacífica a 22 de maio na rotunda do Aeroporto de Lisboa.

Em maio, o movimento já se tinha queixado de maus tratos na esquadra e alegaram que as ativistas mulheres foram tratadas de forma diferenciada dos homens.

No comunicado desta terça-feira, o Climáximo, e os coletivos feministas que se juntam à queixa, acusa a PSP de fazerem "revistas injustificadas, tendo as mulheres sido forçadas à nudez (nalguns casos, sem roupa interior), e algumas sido obrigadas a agachar-se para provar que não constituíam uma ameaça."

Contactada pela Renascença, a porta-voz do Climáximo, Inês Teles, diz que os agentes não apresentaram qualquer justificação para as revistas e que tiveram o único objetivo de intimidar as ativistas.

No início de junho, depois do coletivo ter inicialmente denunciado as revistas às ativistas detidas, a PSP desmentiu o sucedido e considerou-o "absurdo".

Inês Teles contou ainda à Renascença que a queixa-crime só avançou agora pela sensibilidade do assunto e que ficaram a aguardar por uma resposta por parte do comandante da esquadra dos Olivais, que "negou qualquer incumprimento por parte da polícia".

"Também não avançamos de imediato porque várias pessoas foram detidas e a situação é bastante delicada, não queríamos avançar com isto sem ter a certeza que todas as pessoas estavam confortáveis com a exposição mais pública", acrescentou a porta-voz.

No comunicado, denuncia-se ainda "o choque entre a ação não violenta das ativistas e a violência a que a polícia submeteu os seus corpos", o que, para o Climáximo, "torna evidente o conflito entre aqueles que lutam por um futuro digno num planeta habitável e aqueles que defendem o sistema que destrói ativamente esse futuro."

No protesto em questão, na tarde do dia 22 de maio, foram detidos 26 ativistas entre os 17 e os 28 anos por crimes contra a paz pública e contra a segurança das comunicações.

Após as detenções, os ativistas foram levados para a esquadra de Olivais Sul, de onde saíram "a conta gotas" até às 02h00 da madrugada.

O protesto consistiu numa ação de desobediência civil e pacífica, com o objetivo de travar o trânsito na principal rotunda de acesso ao Aeroporto Humberto Delgado e protestar contra o tráfego aéreo. O coletivo ambientalista exige "justiça climática, menos aviões, uma transição justa para os trabalhadores do setor da aviação e mais ferrovia".

Foi a segunda ação de desobediência civil no espaço de alguns meses, depois do Climáximo ter travado também o trânsito na rotunda do Marquês de Pombal para exigir medidas ambientais mais fortes para combater a crise climática.

O Climáximo promete, apesar das detenções, voltar a sair à rua no outono "para bloquear uma infraestrutura das maiores emissoras de gases com efeito de estufa em Portugal."