Gouveia e Melo quer "máquina toda alinhada" no "esforço mais importante dos últimos anos"
03-02-2021 - 23:58
 • José Carlos Silva , André Rodrigues

Vice-almirante Gouveia e Melo defende que a vacinação contra o novo coronavírus "tem de ser um processo transparente", mas reconhece que num plano desta envergadura "podem ocorrer desvios que devem ser todos investigados e contrariados". Primeira medida do novo coordenador da 'task force' para a vacinação contra a Covid-19 será envolver todos os participantes "num verdadeiro sentido de união e de esforço comum".

Veja também:


O novo coordenador do Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19 diz que o seu primeiro grande desafio será "unir as pessoas em torno do processo, no esforço comum, que é o mais importante dos últimos anos".

Em declarações à Renascença, o vice-almirante Gouveia e Melo reconhece, contudo, que não será tarefa fácil.

Mas acredita que a experiência militar, de organização, estruturação e ação sob stress, será fundamental para lidar com um processo que está já sob suspeita de abusos.

E assegura que os casos suspeitos de abusos serão apurados "até à exaustão".

O vice-almirante Gouveia e Melo, ouvido esta quarta-feira à noite pelo jornalista José Carlos Silva, começa por dizer que o processo de vacinação tem de ser claro, mas que se tem de ter também a clara noção dos desvios até agora detetados.


Os casos suspeitos de vacinação de pessoas não prioritárias são uma preocupação para si?

O processo de vacinação tem de ser um processo transparente e, muitas vezes, em processos que são complexos podem ocorrer desvios que devem ser todos investigados e contrariados e que, de forma pré-planeada, se consiga reduzir ao máximo a probabilidade de eles acontecerem.

Agora, é como tentar que, numa população, não haja crimes ou não haja desvios... haverá sempre. O que podemos é, em termos organizacionais e estruturais, tentar reduzir a probabilidade de eles acontecerem.


Qual é a experiência militar que se pode trazer para este campo, qual é a mais-valia?

Julgo que os militares têm uma organização muito bem estruturada e que trabalha sob muito stress, normalmente.

Quando estão em risco vidas, quando as situações são complexas e quando o nosso adversário tenta ganhar vantagem sobre nós.

Esse tipo de ambiente, de forma de estar e de cultura ajuda para momentos como estes em que há incerteza, complexidade e dificuldade de se encontrar qual é a melhor solução num determinado momento, tendo sempre em atenção que os verdadeiros atores deste sistema são os atores que nos têm salvo todos os dias, do Ministério da Saúde, e que continuarão a ser os atores decisivos de todo o processo, porque são eles que administram as vacinas, que cuidam de nós e fazem todo o processo de registo.

Portanto, é muito importante perceber que nós apoiamos o Ministério da Saúde, mas não o substituímos, porque esse é insubstituível.


Qual é o maior desafio desta 'task force'... acabar com estes casos suspeitos, ou há desafios maiores?

Há outros desafios. Dizer que é o maior ou o menor desafio é algo que é um em 1.000. Em cada 1.000 vacinas que foram administradas, uma vacina não se consegue saber com exatidão, ainda, o que lhe aconteceu e se os critérios foram ou não seguidos.

Há evidências de que não foram seguidos, isso está a ser apurado e estão a ser criados mecanismos para que essas coisas sejam apuradas até à exaustão.

Mas é preciso ter noção do impacto: se fossem 10% teria um impacto, um em 1.000 tem outro impacto.

Quando os processos são massivos, urgentes e complexos, montar uma organização muito pesada de controlo faz com que o processo não possa ser urgente nem massivo.

Portanto, há que encontrar o melhor compromisso entre estas duas coisas e contar com a honestidade das pessoas e as pessoas sentirem que não é justo nem ético encontrarem subterfúgios para passarem à frente num processo de vacinação em que outras pessoas estão muito mais em risco do que elas próprias.


Qual será a sua primeira medida?

A primeira medida é envolver todos os participantes neste processo num verdadeiro sentido de união e de esforço comum.


Vai ser difícil?

Ainda não sei se vai ser difícil. Claro que uma coisa desta dimensão tem muitas dificuldades e, muitas vezes, neste tipo de processos há velocidades diferentes, pessoas que estão desalinhadas do processo, porque não têm formação total ou por outros motivos.

Por isso, o grande esforço é pôr esta máquina toda alinhada no esforço comum que é o mais importante que nós tivemos nos últimos anos e que tem uma importância crucial para salvar vidas e garantir, também, que, de alguma forma, libertamos as nossas pessoas, a nossa economia e a nossa sociedade desta pandemia.