Dois terços das famílias têm dificuldade em suportar despesas do dia-a-dia
25-03-2021 - 12:25
 • Ana Carrilho

Mais de um quarto dos mais de quatro mil agregados inquiridos no barómetro Deco/Proteste revelou que teve perdas de rendimento iguais ou superiores a 25% no ano passado.

A pandemia agravou as desigualdades sociais e está a crescer o número de famílias com maiores dificuldades em satisfazer as despesas essenciais. São cada vez mais e em todo o país.

É, contudo, nas regiões do Centro, do Algarve, da Madeira e nos Açores que se encontram mais famílias em situação crítica, sendo nos distritos de Vila Real, Aveiro, Faro, Setúbal e Açores que estão as percentagens mais elevadas de agregados em dificuldade: na ordem dos 70% a 80%.

Os dados são do Barómetro Deco/Proteste, divulgados nesta quinta-feira pela Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor.

Mais de um quarto dos 4.690 agregados inquiridos revelou que, durante o ano de 2020, teve perdas de rendimento iguais ou superiores a 25%.

Emprego, inatividade profissional e redução salarial são os motivos que explicam a perda de rendimentos de muitas famílias portuguesas.

Ao nível nacional, 63% afirmaram ter dificuldades financeiras para assegurar as despesas correntes e 6% estão mesmo numa situação crítica. Só 31% revelaram conseguir pagar as contas – estão em “conforto financeiro”, mas não vai além disso.

Índice de sustentabilidade financeira é muito baixo

Um estudo semelhante foi realizado noutros três países além de Portugal: Bélgica, Espanha e Itália. Os resultados mostram que Portugal tem o índice de sustentabilidade financeira das famílias mais baixo: 47,4.

Numa linha de 0 a 100, os 52,3 marcam a fronteira entre o “conforto” e as “dificuldades financeiras”. Abaixo de 31,6 quer dizer que a população se encontra em situação de pobreza (crítica).

Foi no Algarve e na Madeira – regiões muito dependentes do turismo – que a Covid-19 gerou uma perda direta de rendimentos mais acentuada em 2020: 46% dos inquiridos no Algarve e 41% na Madeira.

Segue-se o Alentejo (com 29%), Lisboa e Vale do Tejo (24%) e os Açores (17%).

No todo nacional, 27% dos agregados que participaram no inquérito referiram que perderam, pelo menos, um quarto do seu rendimento, o que leva a que as dificuldades financeiras também se aprofundem.

Por distritos, é em Vila Real que se encontram mais famílias nesta situação (82%), logo seguido de Faro (81%), Aveiro (79%) Açores (75%), Leiria (72%) e Setúbal (70%).

Mas nos outros distritos e na Madeira, a percentagem também está sempre acima de 65%.

Os distritos de Bragança, Braga, Castelo Branco e Lisboa são aqueles que, segundo o estudo, apresentam menor “sufoco financeiro”.

Saúde é o mais importante, mas custos com carro são os mais difíceis de pagar

As áreas mais importantes para os agregados inquiridos são saúde, habitação e alimentação. Para mais de metade dos algarvios (53%) e dos açorianos (44%), a casa é mesmo a prioridade mais significativa.

Quando chega a hora de pagar contas, há cinco eleitas como as “mais difíceis”. Mais de metade referiu as despesas do carro (combustível, manutenção e seguros) e os cuidados dentários.

Para mais de 40%, as férias grandes, a manutenção da casa e a aquisição de óculos ou aparelhos auditivos também se revelam custos muito complicados de suportar.

Os apoios do Estado, como as moratórias ou o “lay-off” simplificado atenuaram maiores quebras. Mas a Deco/Proteste não esconde o pessimismo: quando terminarem os apoios e as restrições forem levantadas, o agravamento da situação económica e social das famílias deverá acentuar-se.