Deus não joga aos dados
23-07-2021 - 08:51

​Com Einstein não vemos Deus a partir do ângulo de Cristo e do Evangelho, vemo-Lo a partir do ângulo das leis da física, cuja beleza e ordem revelam um Deus que não joga mesmo à roleta russa, lamento.

"Einstein - Genius" (National Geographic, disponível no Disney +) é um gloriosa série sobre ciência e Deus. A ciência pode ser uma revelação teológica, porque nos mostra como Deus não joga aos dados; há uma ordem e um design no cosmos. Einstein, aliás, está sempre a dizer que o seu trabalho é tentar perceber como é que Ele, Deus, fez o universo. Com Einstein não vemos Deus a partir do ângulo de Cristo e do Evangelho, vemo-Lo a partir do ângulo das leis da física, cuja beleza e ordem revelam um Deus que não joga mesmo à roleta russa, lamento. As leis da física são uma linguagem reveladora da presença do motor invisível.

"Einstein" mostra-nos como a ciência é um caminho para a transcendência, não a sua némesis. A ciência corre num caminho paralelo à teologia, não numa perpendicular inimiga. Em cima deste substrato geral, encontramos outras grandes personagens que fazem escolhas de acordo com uma ideia universal de Deus e não de acordo com uma ideia relativista e historicista de "pátria". A série, como calculam, é marcada pela Alemanha nazi e pelos desafios éticos que uma pátria dominada pelo mal coloca aos indivíduos. Não seguir as ordens implica um rótulo de "traidor". Já aqui falei uma vez de Bonhoeffer, o clérigo que teve de abandonar o seu natural pacifismo para combater o nazismo. Bonhoeffer, homem de fé e teólogo, tinha de professar por princípio o humanismo anti-bélico e a ideia de que matar é sempre um mal. Contudo, perante o mal absoluto, nazismo, Bonhoeffer teve de escolher o mal menor: sujar as mãos na realidade e usar a violência. Em "Einstein - Genius" encontramos uma personagem parecida: Heisenberg, um grande cientista alemão que recusou o exílio para fazer um feito extraordinário e ainda hoje pouco conhecido: boicotar, a partir de dentro, o programa nuclear alemão. Heisenberg sabia como fazer a bomba atómica; foi por isso escolhido por Hitler para esse empreendimento. No entanto, Heisenberg recusou seguir as ordens de uma pátria doente e atrasou de propósito o programa, dando tempo aos americanos. Quando os cientistas alemães ficam a par da explosão em Hiroshima, perguntam, 'Como é que eles conseguiram?'. Heisenberg deixa cair a máscara e responde, "É fácil, dá-me aí um lápis que eu mostro-te". Heisenberg recusou colocar as leis universais da ciência ao serviço do ditador da sua nação – um acto de fé de um grande homem de ciência.

Sim, "Einstein - Genius" mostra-nos pela enésima vez que o alegado choque entre ciência e Deus é um absurdo. Ciência e teologia são linhas paralelas e irmãs que procuram o mesmo escopo. Como descobri através de um grande cientista português, a ciência descobre (não faz) leis aplicadas por uma força superior e anterior ao homem, Deus.