UE pede libertação da jornalista chinesa que divulgou surto em Wuhan
29-12-2020 - 10:58
 • Lusa

Zhang Zhan foi condenada, por um tribunal de Xangai, a quatro anos de prisão por “causar distúrbios e provocar problemas”.

A União Europeia reclamou a “libertação imediata” da jornalista independente Zhang Zhan, que noticiou o surto inicial da Covid-19 em Wuhan, bem como de outros detidos que reportaram informação de interesse público e ativistas dos direitos humanos.

Em comunicado, o porta-voz do Alto Representante da UE para a Política Externa começa por salientar que “as restrições à liberdade de expressão, acesso à informação, intimidação e vigilância de jornalistas, assim como detenções, julgamentos e condenações de defensores dos direitos humanos, advogados e intelectuais na China estão a crescer e continuam a ser fonte de grande preocupação” para a UE.

No caso concreto de Zhang Zhan, condenada na segunda-feira por um tribunal de Xangai a quatro anos de prisão por “causar distúrbios e provocar problemas”, o porta-voz de Josep Borrell aponta que, “segundo fontes credíveis”, a jornalista “foi sujeita a tortura e maus-tratos durante a sua detenção e o seu estado de saúde deteriorou-se seriamente”, sendo “crucial que receba assistência médica adequada”.

O porta-voz recorda ainda a recente condenação, igualmente a quatro anos de prisão, do advogado de direitos humanos Yu Wensheng, sem que os advogados de defesa tivessem tido a possibilidade de apresentar uma declaração de defesa, como previsto na lei.

Deste modo, a UE reclama a Pequim “a libertação imediata de Zhang Zhan, de Yu Wensheng e de outros defensores dos direitos humanos detidos e condenados, incluindo Li Yuhan, Huang Qi, Ge Jueping, Qin Yongmin, Gao Zhisheng, Ilham Tohti, Tashi Wangchuk, Wu Gan, Liu Feiyue, assim como de todos aqueles que se dedicaram a reportar atividades do interesse público”.

A jornalista Zhang Zhan viajou para Wuhan, em fevereiro passado, para reportar sobre o surto da Covid-19 e a subsequente campanha de prevenção contra a doença e tratamento dos pacientes, mas desapareceu, em maio, sendo mais tarde revelado que fora detida pela polícia em Xangai, no leste da China.

A jornalista recusou-se a admitir as acusações, considerando que as informações publicadas por si em plataformas chinesas como o WeChat ou nas redes sociais Twitter e YouTube não deveriam ter sido censuradas.

Zhan, que foi presa no final de maio, iniciou uma greve de fome em setembro, o que fez com que ficasse numa condição física "muito fraca", segundo a sua defesa, que afirmou que as autoridades a alimentaram à força, recorrendo a um tubo.

Vários outros jornalistas independentes que viajaram para Wuhan no início do surto foram detidos ou desapareceram na China, enquanto as autoridades restringiram a cobertura e a imprensa oficial enalteceu a resposta de Pequim como eficaz e oportuna.