Lares de idosos têm de ter "planos de contingência" para o coronavírus
22-03-2020 - 13:04
 • Inês Braga Sampaio

Ministra da Saúde garante que utentes do lar de Famalicão, que estão sem cuidado especializado, depois de oito funcionários terem sido diagnosticados com Covid-19, já estão a ser testados.

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A ministra da Saúde sublinhou, este domingo, que os lares de idosos devem ter planos de contingência, para evitarem ficar sem funcionários, durante a pandemia do novo coronavírus.

Num lar de idosos em Vila Nova de Famalicão, oito funcionários foram diagnosticados com Covid-19 e outros 10 estão em isolamento, deixando os 30 utentes sem o cuidado de funcionários especializados. Em conferência de imprensa, Marta Temido assumiu que o caso tem gerado preocupação. A ministra deixou, contudo, um recado à direção do lar, que devia ter preparado um “plano de contingência”.

"Trata-se de um lar privado onde terão sido identificados alguns doentes com Covid e que estão a ser testados esta manhã. Estas instituições têm de ter um plano de contingência, que implica que tinham de ter pensado, porque essa informação foi disseminada há dias ou até semanas, como deviam preparar-se para uma situação deste tipo", sublinhou a governante.

Marta Temido, que também revelou que "há neste momento quatro instituições com doentes com Covid-19", elencou algumas das medidas de prevenção possíveis, como "profissionais de segunda linha que estariam prevenidos que poderiam ser ativados" ou turnos rotativos semanais. Não obstante, admitiu ter consciência de que “tudo isso é muito difícil e que muitas vezes as instituições não têm recursos suficientes”.

“O importante é que as cadeias de autoridade contactem as instituições para agilizarmos a solução. Não podemos internar os utentes, nem levá-los para outros lares. Temos de garantir soluções para aquele caso concreto”, frisou.

"Utentes têm de continuar a ser tratados"


A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, chamou ao caso a figura do delegado de saúde que, “quando surgem estes problemas, deve ser chamado e deve ter planos de contingência”.

“Esse delegado de saúde vai avaliar o risco de exposição dos funcionários, dos utentes e das famílias, e vai decidir qual é a solução técnico-científica de proteção da saúde. Depois, há a solução de logística. Se todos os profissionais de um lar estão expostos e potencialmente infetados, não podem continuar a tratar das pessoas. Se todos os profissionais têm de estar em casa, tem de se arranjar outros profissionais, porque os utentes têm de continuar a ser tratados”, alertou.

Portanto, Graça Freitas assinalou que “há que encontrar uma solução para que os outros utentes continuem a ser tratados”. Nesse sentido, tanto há “respostas de nível nacional”, como “soluções que devem ser encontradas no seio da comunidade”.

As declarações da ministra foram recebidas com algum ceticismo pelos responsáveis do setor.

João Ferreira de Almeida, da Associação de Apoio Domiciliário, de Lares e Casas de Repouso de Idosos (ALI) defende ser muito difícil precaver a necessidade de substituir trabalhadores, bem como ter espaços de isolamento nos lares.

“Nas residências pequenas, organizar zonas de isolamento não é fácil, pela própria estrutura do imóvel”, diz.

Em relação à ideia de haver sempre duas equipas “em espelho” prontas a trabalhar, descarta como utópica. “Nenhuma empresa em nenhum sítio do mundo tem pessoal a duplicar face às necessidades de serviço. Dizer que para cada empregado tem de haver um outro em espelho, isto não existe em lado nenhum”

Por sua vez, a União das Misericórdias chama a atenção para a escassez de recursos humanos nos lares de idosos. Manuel Lemos diz que a situação é mais complicada no interior do país.

“A senhora ministra tem toda a razão, deve haver planos de contingência e têm de ser levados a sério. Mas no interior isso é mais difícil porque não há muitos recursos humanos. Se um recurso é atingido é ínfima a possibilidade de substituição”, adverte.

[Notícia atualizada às 15h28]