Enviem 5% das vacinas aos países mais pobres, apela Macron à UE e aos EUA
19-02-2021 - 12:33
 • Marta Grosso

Presidente francês sublinha que se trata de uma questão de saúde pública e não de jogos de poder. Macron alerta, por outro lado, para o vazio que está a ser aproveitado pela China e pela Rússia, que enviou mais 300 milhões de vacinas para África.

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O Presidente francês pede à Europa e aos Estados Unidos que enviem, com urgência, até 5% do seu stock de vacinas contra a Covid-19 para países em desenvolvimento.

"A chave é agir rapidamente. Não estamos a falar de biliões de doses no imediato nem sequer de biliões de euros", afirma Emmanuel Macron nesta sexta-feira. “Trata-se de alocar de forma muito mais rápida 4-5% das doses que temos”, defende numa entrevista ao Financial Times.

O Presidente francês alega que os países em vias de desenvolvimento estão a comprar as vacinas da AstraZeneca e da Pfizer a “preços astronómicos” (duas a três vezes superiores aos conseguidos pela União Europeia), situação que permite a entrada de vacinas provenientes da China e da Rússia, com menos eficácia comprovada.

“Estamos a permitir que se instale a ideia de que estão a ser dadas milhões de vacinas aos países mais ricos e que os países pobres estão a ficar em segundo lugar”, critica.

A atual situação representa “uma aceleração sem precedentes da desigualdade global, o que insustentável também ao nível político por abrir caminho a uma guerra de vacinas. Podemos ver as estratégias da China e da Rússia”, destaca.

Por isso, nesta entrevista concedida uns minutos antes da cimeira online do G7, Macron defende que “cada país deve reservar uma pequena parte das doses que tem, para se transferir dezenas de milhões delas muito rápido e as pessoas no terreno vejam as coisas acontecerem”.

“Não vai mudar as nossas campanhas de vacinação”, sublinha.

O chefe de Estado francês apela ainda aos grandes grupos farmacêuticos que transfiram a tecnologia, de modo a acelerar a produção global de vacinas e que sejam transparentes na definição de preços.

“Iremos fazer toda a pressão que conseguirmos” nesse sentido, garante.

Na opinião de Macron, o envio de vacinas para os países menos desenvolvidos representa um teste à existência de um verdadeiro multilateralismo.

“Isto não tem a ver com diplomacia de vacinas, não é um jogo de poder, é uma questão de saúde pública”, sublinha.

Os EUA já responderam ao repto francês, dizendo que não enviarão vacinas para os países mais pobres enquanto as necessidades nacionais não forem supridas.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, deverá anunciar em breve a promessa de financiar, em quatro mil milhões de dólares, o esquema global de partilha de vacinas conhecido como Covax.

Na reunião do G7, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson (que presidirá à cimeira), deverá dedicar as doses excedentes a atribuir ao Covax.


Até o momento, pelo menos 110 milhões de pessoas foram infetadas com o vírus em todo o mundo e mais de 2,4 milhões morreram, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins.

Rússia disponibiliza 300 milhões de vacinas a África

O diretor do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças da União Africana (África CDC) anunciou nesta sexta-feira que vai receber 300 milhões de vacinas russas “Sputnik V”, que se juntam às 270 milhões já recebidas de farmacêuticas.

"Estamos agradecidos por receber as vacinas ‘Sputnik V’ da Federação Russa e tremendamente orgulhosos por poder oferecê-las na Plataforma Africana de Equipamentos Médicos", afirmou John Nkengasong, acrescentando que "parcerias bilaterais e do setor privado como estas são críticas nos nossos esforços para terminar a pandemia de Covid-19".

O Grupo de Trabalho para Aquisição de Vacinas em África, criado pela União Africana para garantir a aquisição de vacinas para atingir uma imunização de 60% dos africanos, salientou também que as vacinas russas, que estarão disponíveis a partir de maio, são acompanhadas de um pacote de financiamento para os países que queiram adquirir estas vacinas.

Além das 300 milhões de vacinas agora garantidas, o Grupo de Trabalho já assegurou 270 milhões de vacinas das farmacêuticas AstraZeneca, Pfizer e Johnson & Johnson.

"A partir de hoje, os 55 membros da União Africana podem começar o processo de pré-encomenda no site da Plataforma, usando o código do país que foi enviado aos ministros das Finanças e da Saúde", segundo o comunicado conjunto da União Africana e do Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank).

África registou, nas últimas 24 horas, mais 454 mortes por Covid-19, ultrapassando as 100 mil mortes desde o início da pandemia (100.294) e 13.140 novos casos de infeção, segundo os dados oficiais mais recentes no continente.

De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o número total de infetados nos 55 Estados-membros da organização é de 3.796.354 e o de recuperados nas últimas 24 horas é de 13.772, para um total de 3.346.404 desde o início da pandemia.