O estilista japonês Issey Miyake, conhecido pelas suas peças de roupa que não amarrotam e pelas famosas golas altas pretas usadas pelo fundador da Apple, Steve Jobs, seu amigo, morreu aos 84 anos.
Miyake sofria de um carcinoma hepatocelular, um tipo de cancro no fígado, e morreu na passada sexta-feira, 5 de agosto, em Tóquio, adiantou esta terça a agência de notícias Kyodo, sem mais detalhes para já.
Nascido em Hiroshima em 1938, o japonês começou por sonhar em ser dançarino ou atleta até começar a ler as revistas de moda da irmã, que inspiraram uma mudança de rumo.
Miyake tinha sete anos e estava na sala de aulas quando a sua cidade-natal foi alvo de um ataque nuclear pelos EUA, uma experiência que preferiu sempre manter privada. Numa rara referência a esse momento histórico, num artigo publicado em 2009 no "New York Times", Miyake destacou que nunca quis ser conhecido como "o estilista que sobreviveu" à bomba atómica.
"Quando fecho os olhos ainda vejo coisas que nunca ninguém deveria experienciar", escreveu nesse artigo, parte de uma campanha para levar o então recém-eleito Presidente dos EUA, Barack Obama, a Hiroshima.
"Tenho tentado, ainda que sem sucesso, esquecer o que vi, optando por pensar em coisas que podem ser criadas, não destruídas, e isso tem-me trazido beleza e alegria. Gravitei em torno do estilismo em parte porque é um formato criativo que é moderno e otimista."
Depois de estudar Design na Universidade de Artes de Tóquio, mudou-se para Paris para se especializar na criação de roupa. Ali, chegou a trabalhar para os famosos estilistas Guy Laroche e Hubert de Givenchy antes de ir viver e trabalhar em Nova Iorque.
Nos anos 1970, voltou à capital japonesa para fundar o Estúdio de Design Miyake. Uma década depois tornou-se mundialmente reconhecido por uma nova técnica de plissagem, que desenvolveu embrulhando camadas de tecido em papel antes de as passar a ferro.
Depois de ter criado mais de uma dúzia de linhas de roupa para homens e mulheres, bem como relógios e perfumes, Miyake retirou-se do estilismo em 1997, passando a dedicar-se à investigação na área.
Em 2016, quando questionado sobre os desafios que jovens designers vão enfrentar no futuro, disse acreditar que as pessoas vão passar a consumir menos.
"É possível que tenhamos de passar por um processo de emagrecimento [do consumo]. Isto é importante. em Paris, chamamos às pessoas que fazem roupa costureiras -- que desenvolvem novas peças de roupa -- mas na verdade é trabalho dos estilistas criar peças que funcionem na vida real."