Nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, antes do início da invasão à Ucrânia, mais de 300 atletas russos competiram com a bandeira do Comité Olímpico Russo (COR), conquistando um total de 71 medalhas - 20 ouros, 28 pratas e 23 bronzes, terminando em quinto lugar no medalheiro. Pela Bielorrússia competiram 101 atletas, com sete medalhas conquistadas.
Três anos depois, apenas 36 atletas russos e 24 atletas bielorrussos foram convidados a competir pelo Comité Olímpico Internacional (COI) em Paris. Destes, só 15 russos e 17 bielorrussos aceitaram, sob condições muito estritas de neutralidade.
Todos eles competiram de turquesa, com a sigla AIN (Atletas Individuais Neutros), e as suas medalhas não aparecem no medalheiro, por não representarem um grupo ou nação. No final de contas, só cinco medalhas foram conquistadas: uma de ouro, três de prata e uma de bronze.
Nos pares de ténis feminino, Mirra Andreeva e Diana Shnaider foram as únicas atletas russas a conseguir uma medalha em Paris, depois de perderem na final para as italianas Jasmine Paolini e Sara Errani.
Apenas um dos AIN’s conseguiu defender o seu título de Tóquio, o ginasta de trampolim bielorrusso Ivan Litvinovich, na final individual em que o português Gabriel Albuquerque terminou em 5.º lugar.
Ucrânia, uma das grandes beneficiadas
A ausência da Rússia e da Bielorrússia dos Jogos Olímpicos de Paris deu oportunidade à Ucrânia de ter os melhores resultados desde a anexação russa da Crimeia, em 2014.
A Ucrânia conseguiu em Paris três medalhas de ouro, depois de ter conquistado apenas uma em Tóquio. Das três, duas foram em eventos nos quais a Rússia tinha vencido o ouro nos últimos Jogos Olímpicos, com Yaroslava Mahuchikh no salto em altura do atletismo, e com a equipa de sabre feminino, na esgrima.
A comitiva ucraniana terminou as Olimpíadas com a melhor prestação da última década, juntando três ouros a cinco pratas e quatro bronzes.
Mais de metade das medalhas ucranianas - sete das 12 - foram conquistadas em eventos nos quais Bielorrússia e Rússia conseguiram medalhas nos últimos Jogos Olímpicos, incluindo os três ouros.
Os vizinhos da Rússia agradecem
Outro dos grandes beneficiados da ausência da Rússia é o Uzbequistão, que teve os seus melhores Jogos Olímpicos da história, com oito ouros, num total de 13 medalhas.
Desses oito, metade foram em eventos ou modalidades em que a Rússia ou Bielorrússia tinham medalhado em Tóquio - e em dois deles os uzbeques herdaram diretamente o ouro de atletas russos, na luta livre e no boxe masculino.
Além da Ucrânia e Uzbequistão, China, Coreia do Sul, Japão, EUA e Irão conquistaram dois ouros em modalidades em que a Rússia tinha vencido em Tóquio. Os outros ouros diretamente herdados da Rússia foram conquistados por França, Itália, Hungria, República Checa, Bahrain e Tunísia.
O Irão também saiu a ganhar, conquistando dois dos seus três ouros em eventos nos quais a Rússia tinha conquistado o ouro nos Jogos Olímpicos de 2020.
Tajiquistão, Quirguistão, Arménia e Geórgia foram outros dos vizinhos da Rússia que venceram medalhas que tinham sido conquistadas por atletas russos nos Jogos Olímpicos.
Fica para a história também o bronze de Cindy Ngamba, a primeira medalha de sempre de uma representante da Equipa Olímpica de Refugiados, no boxe feminino, na categoria de -75kg, uma medalha que também sido conquistado por uma russa em 2020.
No geral, a China foi quem recolheu mais medalhas nos eventos em que a Rússia tinha sido medalhada - com 25 medalhas, oito delas de ouro -, mas foi o Japão que teve mais ouros, com nove.
Quem venceu nos eventos que a Rússia dominava?
O maior domínio da Rússia em Jogos Olímpicos era na natação sincronizada, com 12 ouros consecutivos desde 2000, tanto em dueto como em equipas.
À partida para Paris, a hegemonia na modalidade só era ultrapassada pelos EUA no basquetebol feminino, evento em que as norte-americanas venceram a medalha de ouro em todas as Olimpíadas desde 1996, pelo ténis de mesa feminino, em que uma chinesa vence o ouro desde que o desporto foi integrado em Jogos Olímpicos, em 1988, ou no tiro ao arco feminino, onde a Coreia do Sul domina, tendo vencido todas as competições de equipas desde 1988.
Embora não fosse seguro que voltassem a conquistar o ouro, até porque atletas e equipas russas foram banidas da competição por muitas das federações - incluindo a de natação -, é fácil assumir que a Rússia seria a principal favorita ao ouro, se estivesse em competição.
Para estes Jogos Olímpicos o nome do desporto mudou, de natação sincronizada para natação artística, e com ele veio um novo vencedor da prova de equipas: a China conquistou o ouro, com os EUA a conseguirem a prata e a Espanha o bronze.
Nos duetos, a China também levou o ouro, com Grã-Bretanha e Países Baixos a ficarem com a prata e o bronze.
As modalidades onde a Rússia teve mais medalhas em Tóquio foram ginástica - com 10, duas delas de ouro - luta live e luta greco-romana - com quatro ouros e oito medalhas -, esgrima - com três ouros e oito medalhas - e tiro ao alvo - com dois ouros e oito medalhas também.
Na ginástica, os EUA viram subir a sua contagem de medalhas com a ausência da Rússia - de seis em Tóquio para nove em Paris -, enquanto na esgrima, onde os russos eram os mais medalhados, as medalhas foram repartidas - França foi quem teve mais pódios, mas apenas um ouro.
Na luta livre e greco-romana, com a ausência da Rússia, o Japão dominou as medalhas, com 11 - oito delas de ouro. E no tiro ao alvo, a China e a Coreia do Sul aumentaram a contagem de medalhas sem o contingente russo.