O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) defende que a resposta da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade (CNIS) para os internamentos sociais - os casos de abandono hospitalar - "é urgente e necessária".
Em entrevista à Renascença e à Agência Ecclesia, o presidente da CNIS, padre Lino Maia, revelou que “muito em breve as instituições particulares irão acolher mais de 700 doentes” que permanecem nos hospitais depois de já terem recebido alta médica.
Numa primeira reação ao plano da CNIS, o presidente da APAH, Xavier Barreto, diz que "ganham todos e acima de tudo, os doentes".
"Todos. Não só aqueles que tem uma resposta no sector social, mas aqueles que podem passar a usufruir de uma cama hospitalar e não ter de esperar, por exemplo por um internamento no serviço de urgência. Ganham os hospitais e ganha o Estado porque têm uma redução de custos", afirma.
Nestas declarações à Renascença, Xavier Barreto lembra que "uma cama de hospital tem um custo médio diário da ordem das centenas de euros ou até dos milhares de euros, dependendo da cama e do tipo de unidade que esteja em causa".
"À volta de uma cama hospitalar e à volta de um doente que esteja internado num hospital estão profissionais altamente qualificados, muito diferenciados, muitas vezes com turnos de 24 horas por dia, com uma grande intensidade de recursos até tecnológicos e tudo isto tem um custo muito elevado”, sublinha o presidente da APAH.
"O doente que está nesta cama já não precisa destes recursos tão diferenciados. É um doente que já tem a sua situação clínica resolvida e não está a usufruir daquele conjunto de recursos”. reforça
Neste contexto, Xavier Barreto sustenta que “por todas as razões - por uma questão de custos, mas também por uma questão de segurança do doente, que, estando num hospital, está sujeito a outros riscos nomeadamente a infeção hospitalar - esta é uma solução que faz todo o sentido implementar desde já em todo o país”.
Março de 2022 com 1.048 internamentos sociais. Mais 23% do que no ano anterior
De acordo com o último barómetro realizado em março do ano passado pela APAH, havia mais de mil internamentos sociais, número expressivo de "um fenómeno grave que prejudica de forma significativa o SNS".
A 6.ª edição do “Barómetro de Internamentos Sociais“, realizado pela AAPAH em parceria com a EY e o apoio institucional da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e da Associação dos Profissionais de Serviço Social (APSS), revela que a 16 de março deste ano estavam internadas de forma inapropriada nos hospitais do SNS 1.048 pessoas, o que traduz um aumento de 23% face ao mesmo mês do ano passado, quando os internamentos sociais eram 853.
Considera-se internamento inapropriado cada um dos dias em que um doente passa no hospital quando já tem alta clínica e não existe um motivo de saúde que justifique a sua permanência em ambiente hospitalar.
De acordo com APAH ,“estes casos representavam em março do ano passado 6,3% do total de internamentos nos hospitais (excluindo unidades psiquiátricas), com um custo estimado de quase 19,5 milhões de euros para o Estado, o que compara com 16,3 milhões em março de 2021”.
A APAH faz a extrapolação deste cenário para o conjunto do ano, e considera que “os internamentos inapropriados podem ter um impacto financeiro de cerca de 124,5 milhões de euros”.
As conclusões do 6.º Barómetro de Internamentos Sociais contaram com a participação de 38 unidades hospitalares do SNS, num total de 19.335 camas hospitalares, correspondentes a 89% do total, a nível nacional.
A Renascença apurou que o acordo entre o Estado e CNIS prevê uma comparticipação de 1.300 euros mensais por cada doente que vier a ser acolhido nas instituições particulares. Caberá também ao Estado pagar a medicação do doente. A permanência dos doentes nos lares das instituições deverá prolongar-se por um período de seis meses.
Contactado pela Renascença, o ministro da Saúde diz que o acordo "já está em marcha" e "só falta assinar". Manuel Pizarro diz também que o número de doentes acolhidos pelas instituições particulares - 700 doentes - "é só para começar".