“É preciso combater as ideologias de ódio”, diz Santos Silva
17-06-2021 - 10:27
 • Maria João Costa

Conhecer, homenagear e respeitar a memória das vítimas portuguesas do Holocausto e destacar os seus heróis nacionais é o objetivo da coleção de três livros do “Projeto Nunca Esquecer”, lançada pelo MNE e INCM.

“São livros de bolso. Pedimos a historiadores que os escrevessem, não como um trabalho académico, mas como divulgação”, diz o ministro dos Negócios Estrangeiros à Renascença.

É desta forma – a pensar “no grande público” – que o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) lança nesta quinta-feira três livros da coleção Essencial da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), inseridos no “Projeto Nunca Esquecer – Programa Nacional em torno da Memória do Holocausto”.

Um dos livros, "O Essencial Sobre Aristides de Sousa Mendes", da autoria da investigadora Cláudia Ninhos, é sobre um dos casos mais conhecidos e conta a história do cônsul português de Bordéus. Mas houve outros portugueses que também ajudaram a salvar vidas do Holocausto.

"O Essencial Sobre Os Salvadores Portugueses", escrito pela investigadora Margarida de Magalhães Ramalho, conta exemplos como os dos diplomatas Teixeira Branquinho e Sampaio Garrido, que salvaram centenas de pessoas e o Padre Joaquim Carreira – reitor do Colégio Pontifico em Roma que abrigou muitos judeus.

São vidas que devem ser conhecidas e reconhecidas, diz o chefe da diplomacia portuguesa. Em entrevista à Renascença, Augusto Santos Silva afirma categoricamente: “Devemos conhecê-los, homenageá-los e respeitá-los”.

O ministro, que preside nesta tarde ao lançamento dos livros, aponta “uma falha de conhecimento” sobre estes “salvadores portugueses” e diz que é preciso “reparar com a edição destes livrinhos”.

No âmbito da Resolução do Conselho de Ministros que aprova as linhas estratégicas do “Projeto Nunca Esquecer – Programa Nacional em torno da Memória do Holocausto” é também lançado o livro “O Essencial Sobre Os Portugueses no Sistema Concentracionário do III Reich", coordenado pelo historiador Fernando Rosas e que conta com a participação dos investigadores Ansgar Schaefer, António Carvalho, Cláudia Ninhos e Cristina Clímaco.

“Hoje sabemos que houve centenas de portugueses que foram vítimas desse sistema concentracionário. Estiveram internados em campos de trabalho forçados, presos em campos de prisioneiros de guerra e, sendo soldados, eram obrigados a trabalhos forçados ou estiveram mesmo em campos de concentração e de extermínio. Conhecemos dezenas de portugueses que foram vítimas e perderam a vida nesse sistema”, lembra Santos Silva, para quem “o país também deve conhecer e homenagear essas vítimas”.

Holocausto aconteceu “com a cumplicidade de muitos”

Editados pela INCM, este conjunto de livros reveste-se de uma pertinência atual, indica Santos Silva. O ministro dos Negócios Estrangeiros lembra que hoje “é preciso combater as ideologias de ódio e as ações fundadas no ódio, de natureza racista”. Segundo o governante, “conhecer bem o Holocausto é saber bem como essa barbárie nasce e cresce”.

Santos Silva alerta que o Holocausto aconteceu “com a cumplicidade de muitos que não agiram a tempo”. É, por isso, diz o ministro que esta coleção de livros é “essa chamada de atenção. Todos nós temos de agir contra o racismo”.

Os livros são lançados nesta quinta-feira à tarde no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, simbolicamente na data em que Aristides de Sousa Mendes decidiu contrariar as ordens do regime de Salazar e começou a carimbar os vistos de milhares de judeus, salvando-os assim de serem mais uma vítima do Holocausto.

É a este propósito que Santos Silva lembra as palavras do Papa Francisco. “Em 2020, passavam 80 anos sobre a ação de Aristides de Sousa Mendes, o Papa invocou este dia 17 de junho como o Dia da Consciência, dizendo esta coisa simples, mas maravilhosa. Este dia mostra bem como por vezes temos de recusar a autoridade institucional, e as ordens que dela emanam, porque há uma autoridade superior que se impõe. A sua consciência ditava que era a sua obrigação salvar vidas”.

Além dos livros, é hoje feita a emissão e obliteração de seis selos dos CTT. A emissão filatélica contempla seis selos em homenagem aos Salvadores Portugueses que, durante a Segunda Guerra Mundial, arriscaram as suas vidas e carreiras para ajudarem milhares de pessoas, muitas delas judias, da perseguição do regime nazi em vários países europeus.