Portugal não é exceção à “tendência generalizada” de crescimento dos partidos mais à direita
23-11-2023 - 12:30
 • André Rodrigues

Especialista em assuntos europeus Paulo Almeida Sande admite que o crescimento da extrema direita na Europa representa um risco, mas sublinha as diferenças entre o discurso em campanha eleitoral e a responsabilidade de governar. Vitória do Partido da Liberdade nos Países Baixos revela uma "tendência que veio para ficar".

A possibilidade de o Chega integrar uma solução de poder em Portugal pode ser uma realidade já nas eleições legislativas antecipadas de 10 de março, admite à Renascença Paulo Almeida Sande, especialista em assuntos europeus.

Comentando a vitória da extrema-direita nas eleições legislativas dos Países Baixos e o aplauso unânime de vários líderes populistas da União Europeia - André Ventura incluído - Paulo Almeida Sande considera que há uma “tendência generalizada” de crescimento dos partidos mais à direita e que “Portugal não é exceção”.

“Muitas vezes, Portugal continua a ser visto como um país de brandos costumes, quando, na realidade, isso já não corresponde completamente à verdade”, respondeu, quando questionado sobre a possibilidade de o Chega se constituir como solução para viabilizar uma solução governativa.

Paulo Almeida Sande diz não ter dúvidas: “mais cedo, ou mais tarde, vai certamente acontecer... só não sei é se será já nas eleições de março”.

Este especialista em assuntos europeus lembra que “o Chega já disse que só aceitará apoiar uma solução à direita se fizer parte da solução do Governo. Portanto, não tenho dificuldade em ver uma evolução desses partidos e de os ver como solução de governo”.

Questionado diretamente sobre eventuais consequências para a qualidade da democracia, Almeida Sande admite que, “naturalmente, existem”, mas também considera que temos assistido na Europa a uma “normalização deste tipo de soluções”.

Contudo, este professor universitário assinala a diferença entre a retórica de campanha e “o choque de realidade” que são responsabilidades governativas.

Desse ponto de vista, a Itália é um bom exemplo de como uma candidata a primeira-ministra utilizou um discurso xenófobo e crítico da União Europeia em contexto de campanha para, depois, “tornar a sua agenda mais aceitável, do ponto de vista da sua concretização”.

Em Portugal, prossegue Paulo Almeida Sande, não deverá ser muito diferente: “atualmente, há na Europa tendências iliberais, mas esses partidos, quando chegam ao poder, nunca chegam aos extremos. As suas propostas vão até ao limite do possível, mas não passam daí”.