A nova fase da economia chinesa
16-08-2021 - 06:20

O partido comunista chinês quer mostrar a superioridade social do seu capitalismo de Estado face ao capitalismo ocidental. Mas arrisca-se a matar a capacidade de inovação, ao impor exigências brutais.

O partido comunista chinês (PCC) decidiu enveredar por uma nova política económica. Depois da liberalização trazida por Deng Xiao Ping, parece ter chegado a altura de o PCC controlar ferreamente o mundo empresarial, em nome de outros valores que não apenas o crescimento económico.

Através dos organismos de regulação económica da China, o PCC passou a impor às empresas um novo conjunto de prioridades. Acabaram-se os tempos em que o crescimento económico era o primeiro e fundamental objetivo, para atender a outras metas, de ordem social nomeadamente. Por exemplo, melhores salários, maior atenção ao ambiente, mais segurança nacional, consumidores mais protegidos.

Dir-se-ia que o PCC pensa ter chegado o momento de travar o poder e o enriquecimento de empresários e acionistas, até aqui tolerados em nome de uma aposta no crescimento da economia a todo o custo.

O sector das empresas tecnológicas, que rivalizam com as tecnológicas americanas, foi este ano alvo de medidas drásticas. Estas empresas chinesas proporcionaram fortunas aos seus acionistas. Em nome de uma economia socialmente responsável o PCC quer agora mostrar ao mundo que o seu capitalismo de Estado é superior ao capitalismo ocidental.

Assim, sem aviso prévio, os reguladores chineses levaram o sector tecnológico a perder milhões desde fevereiro. A célebre Alibaba alertou os investidores no princípio deste mês de agosto para que os benefícios fiscais de que tem gozado poderiam cessar a todo o momento. Entretanto, o sector tecnológico chinês perdera um terço da sua capitalização bolsista.

Um outro exemplo: as empresas envolvidas na área da educação foram informadas de que não deveriam ter lucros. As empresas desse sector têm, agora, que se transformar em unidades não lucrativas – ou fechar, entregando ao Estado as suas instalações.

Naturalmente que as brutais imposições do poder político chinês assustaram empresários e gestores chineses, bem como investidores estrangeiros. Numerosos investidores estrangeiros no país, tendo sofrido grandes perdas, retraíram-se – os riscos políticos cresceram exponencialmente no último ano e meio.

Mas o PCC quer mostrar a sua força, tornando claro que já não precisa de capitais externos. E pretende evidenciar a superioridade social do seu capitalismo de Estado face ao capitalismo ocidental

Resta saber até que ponto a capacidade de inovação tecnológica chinesa ficará afetada por esta situação nova. E em que medida o espetacular dinamismo económico chinês poderá manter-se num clima de enorme incerteza quanto às inesperadas imposições do PCC. Mesmo num capitalismo de Estado, os acionistas das empresas dificilmente poderão sobreviver num quadro de intervenções políticas arbitrárias e de ausência de direitos.