Ventura desdenha PSD, mas conforma-se: "Política é a arte do que é"
29-02-2024 - 01:15
 • Tomás Anjinho Chagas

Líder do Chega assume que social-democratas são a “única hipótese” para haver Governo à direita. Em Trás-os-Montes, André Ventura desceu à realidade, explorou os cenários possíveis, mas prometeu “sismo político” no dia 10 de março.

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Massim”, é a palavra transmontana usada para dar uma resposta ambígua. É a junção de “não mas sim”. É o que diz o Chega em relação ao PSD.

Esta quarta-feira o líder do partido, André Ventura aproveitou a última sondagem, da Universidade Católica para a RTP, Antena 1 e Público – que coloca a direita com maioria (se contarmos com o Chega) - para reforçar que o objetivo destas eleições é vencer, ou pelo menos acabar com o bipartidarismo em Portugal.

Durante os quatro dias de campanha o partido tem insistido na mesma tecla: colar o PS ao PSD e colocar-se de fora do sistema para o criticar. Apesar disso, André Ventura assume que a realidade nem sempre corresponde ao que ambiciona: “A política é a arte do que é, não a arte do que eu gostava que fosse”, respondeu aos jornalistas.

Ou seja, mesmo colocando o PSD ao nível do PS e classificando Luís Montenegro de “idiota útil”, André Ventura assume que os social-democratas são a única hipótese de os votos no Chega se materializarem em algo mais do que o protesto. É por isso que pressiona o PSD a dizer o que vai fazer no caso desta última sondagem bater certo.

Eu pergunto a Luís Montenegro: se houver uma maioria à direita viabilizará a moção de rejeição do Chega e apresentaremos ao presidente da República um novo governo? Sim ou não?", disse Ventura à entrada de um jantar-comício em Vila Real.

O pragmatismo sobrepõe-se aos valores e convicções políticas: “Este é o cenário [coligação AD e Chega] ideal para Portugal? Não, isso era o Chega ter uma maioria, mas como isso, segundo as sondagens, não está para acontecer, a única hipótese é o PSD", resume. Desdenha o PSD mas está disposto a coligar-se com ele. É o “massim” transmontano.

Promessa de "sismo político"

Já durante o discurso habitual no jantar-comício, esta quarta-feira em Vila Real, André Ventura começou por salientar o crescimento do Chega junto do eleitorado mais jovem para dizer que o partido será "o futuro de Portugal".

Passando por temas como o aumento das penas para pessoas condenadas pelo crime de violação, o líder do Chega - que chegou a cantar o "Anel de Rubi", de Rui Veloso, em cima do palco - virou a mira para o líder do PS para dizer que Pedro Nuno Santos é o candidato "mais impreparado" para se tornar primeiro-ministro.

Ventura aproveitou para pegar numa das polémicas do dia, ao referir-se à sugestão de Paulo Núncio, candidato da AD e vice-presidente do CDS, de repetir um referendo ao aborto, para criticar a falta de coesão entre os partidos que formam a Aliança Democrática.

Ao lembrar que foram os próprios líderes do PSD e do CDS a silenciar a proposta de um dos seus candidatos, Ventura sentenciou: "Não sei se eles alguma vez viram alguma coisa do Sá Carneiro ou do Freitas do Amaral, mas isto não é nenhuma AD, isto é um prostíbulo espanhol".

Perante algumas dezenas de militantes do partido, Ventura voltou a atirar-se à AD poucas horas depois de manifestar abertura para negociar com ela, e afirmou que PS e PSD já tiveram o "voto útil durante 50 anos".

Para o dia 10 de março, o presidente do partido defendeu que um voto no Chega é o "voto de protesto" e prometeu um "sismo político" em Lisboa no pós-eleições, sem explicar ao que se referia.