No ano de 2022 foram registadas mais de 15 mil mortes em excesso, das quais a Covid-19 explica apenas cerca de sete mil.
De acordo com números do Sistema de Informação de Certificados de Óbito (SICO), analisados pela Renascença, o ano passado foi o segundo com mais mortes desde que há registo, apenas atrás de 2021, afetado pela pandemia.
O SICO regista um excesso de mortalidade desde o dia 21 de novembro, com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) a avançar esta quinta-feira que foi identificado um pico de mortalidade entre os dias 28 de novembro e 18 de dezembro de 2022.
Durante esse período, o número de mortes aumentou 16% em relação aos óbitos esperados.
Tal "coincidiu com o aumento da atividade gripal, que chegou mais cedo do que é habitual ao nosso país", adianta o INSA, o que poderá ajudar a explicar este aumento da mortalidade.
Ainda de acordo com a análise do Departamento de Epidemiologia do INSA, "os grupos etários onde se verificou o excesso de mortalidade foram aqueles acima dos 75 anos de idade, enquanto que, ao nível geográfico, foi nas regiões Norte, Lisboa e Vale do Tejo e Centro onde se identificou excessos de mortalidade no período em análise".
Mais de 8.500 mortes por explicar em 2022
De acordo com números do SICO analisados pela Renascença, foram registados 158 dias com excesso de mortalidade em 2022, o que representa mais de 40% do ano. Nestes dias, foram registadas 15.333 mortes acima do esperado em relação à média de outros anos.
No mesmo período, morreram 6.804 pessoas por Covid-19, o que significa que mais de 8.500 destas mortes estão por explicar. Segundo o INSA, mais de 1.100 ocorreram neste período entre novembro e dezembro.
Em 2022 morreram 124.862 pessoas, fazendo do ano passado o segundo com mais mortes desde que há registo - apenas menos 335 que 2021, ano em que se viveram as maiores vagas de óbitos por Covid-19 no país.
Este é o terceiro ano consecutivo em que o número de mortes fica acima dos 120 mil, sendo que 2020, 2021 e 2022 passam a ser os três anos com mais mortes em Portugal desde que há registo.
Maio, junho e julho registaram recordes de mortalidade em 2022, enquanto os meses de dezembro, outubro, setembro, agosto e abril registaram o segundo maior número de mortes desde que há registo e março e novembro viveram os seus terceiros meses mais mortais de sempre.
No final do ano passado, o Sistema de Informação de Certificados de Óbito já tinha adiantado que o mês de dezembro registou excesso de mortalidade quase todos os dias.
Até setembro, de acordo com uma análise de dados da Renascença, Portugal já tinha registado quase 9 mil mortes acima do esperado, sendo que a Covid-19 só explica cerca de seis mil delas.
No comunicado hoje enviado às redações, o INSA sublinha que continua a desenvolver "um estudo epidemiológico sobre as causas específicas de morte e outros fatores associados nos anos pandémicos de 2020, 2021 e 2022".
Os resultados do trabalho, que se segue a um protocolo científico e constituição de comissão científica, deverão ser conhecidos até ao final deste ano.