Bloco exige saber porque há famílias em Camarate a passar fome
23-02-2021 - 10:50
 • Olímpia Mairos

Após a reportagem da Renascença, que dava conta de um número cada vez maior de famílias que não têm como garantir a sua alimentação diária, o Bloco de Esquerda enviou à autarquia de Loures um requerimento a questionar a situação e a exigir medidas concretas.

O Bloco de Esquerda quer saber porque há famílias a passar fome em Camarate e enviou um requerimento à Câmara Municipal de Loures a solicitar esclarecimentos e medidas para fazer face a este flagelo que se abate sobre aquela comunidade do concelho.

O pedido, assinado pelo deputado municipal Carlos Gonçalves, surge na sequência da reportagem da Renascença que dá conta de um número cada vez maior de famílias em dificuldades, sem capacidade para garantirem a sua alimentação diária.

A denúncia foi feita pela Organização Não Governamental Ajuda em Ação que lançou no terreno uma resposta de emergência para ajudar a mitigar os efeitos da pandemia de Covid-19, em Camarate, freguesia de Camarate, Unhos e Apelação, no concelho de Loures.

“É chocante que nos dias de hoje uma família inteira se alimenta da refeição escolar de uma criança. É absolutamente inaceitável e dramático e queremos saber como é foi possível que isso acontecesse”, afirma à Renascença o coordenador do Bloco de Esquerda em Loures, Fabian Figueiredo, acrescentando que “é ainda mais dramático por sabermos que este não é um caso isolado”.

O Bloco de Esquerda recorda que “houve um despacho do Governo que permitiu que todas as famílias que estivessem em processo de regularização do SEF tivessem acesso aos apoios da Segurança Social” e, por isso, quer saber “porque é que estas famílias não têm tido acesso aos apoios da Segurança Social”.

“O que é que está a falhar? Falta esclarecimento no terreno? Tem havido erros da Segurança Social a tratar estes casos?” - questiona Fabian Figueiredo, assinalando que estão em causa “famílias que trabalham em Portugal; que, fruto do seu estatuto, são trabalhadores indocumentados e sem trabalho; essencialmente, numa economia informal e que, apesar da lei, em muitos dos casos, prevê que possam ter apoio e acesso à ação social escolar ou acesso aos apoios da Segurança Social, tenha havido barreiras que os tenha atirado para a fome e para a pobreza extrema”.

“E nós queremos saber porque é que isso aconteceu, como foi possível isso acontecer. Depois vamos intervir também junto do Governo e queremos saber o que é que se está a passar, para que estas famílias não tenham tido apoio por parte da Segurança Social. E interviremos também junto da Câmara, para saber porque é que o apoio alimentar não chegou a estas famílias como devia ter chegado”.

O coordenador do BE em Loures insiste que “estas famílias estão identificadas, as escolas conhecem estas famílias, em muitos casos, até a própria Segurança Social já conhece estas famílias” e, por isso, a Câmara tem a obrigação de conhecer as famílias”.

Fabian Figueiredo enaltece, depois, o trabalho que está a ser feito pelas ONGs, referindo que “têm feito um trabalho meritório, não se têm cansado de chamar a atenção para isto”, referindo que a “crise social, económica e pandémica tem sido particularmente forte e dramática para com estas mesmas famílias”.

“Nós exigimos saber porque é que estas famílias não têm tido acesso aos apoios que são seus, os apoios que a lei prevê, e o que é que falhou. E queremos apurar responsabilidades, porque não se podem anunciar medidas que depois não chegam ao terreno e que deixam crianças e famílias inteiras com fome ou que atrasam brutalmente o processo de ensino, o acesso à educação destas mesmas crianças e que agravam situações de pobreza, já elas anteriores à crise, preocupantes, e que agora, muitas destas famílias se encontram completamente dependentes das ajudas das ONGs, quando as leis que o Parlamento aprovou ou medidas que o Governo tomou previam que assim não fosse”, conclui o coordenador do BE, em Loures.