Uma lata de tinta, Passos Coelho e as divergências com o parceiro de coligação
01-03-2024 - 08:00
 • Manuela Pires

A caravana da AD já esteve em 13 distritos, de Bragança a Faro, e percorreu mais de 3.200 quilómetros.

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A primeira semana de campanha da Aliança Democrática (AD) já mostrou divergências com o CDS, o principal parceiro de coligação, sobre a lei de interrupção voluntária da gravidez, e a presença de Pedro Passos Coelho deixou marcas negativas. Para além disso, na Madeira, Miguel Albuquerque anuncia que é de novo candidato a líder.

Tudo isto podia ter atingido a campanha, mas uma lata de tinta verde acabou por salvar o dia e até a semana. Luís Montenegro aparece aos jornalistas a falar sobre a pontaria do jovem ativista com a tinta verde a escorrer do cabelo. É seguramente uma das imagens da campanha.

Uma tinta que apagou a passagem de Passos Coelho pela campanha, com um discurso mais à direita, onde pressionou Luís Montenegro para a vitória no dia 10 de março e ligou a insegurança no país aos imigrantes.

Declarações que motivaram uma onda de protesto à esquerda, mas que deixaram marcas na caravana da AD.

A conversa à mesa do café, em Portalegre, com duas reformadas, que o criticaram pelo corte nas pensões e pela presença do antigo primeiro-ministro na campanha, acabou por marcar o dia.

Até o discurso mais à direita quer de Passos Coelho, quer de Carlos Moedas, dois dias depois em Évora, acaba por marcar esta primeira semana.

O líder do PSD teve de falar sobre a imigração, dizendo aos jornalistas, em Elvas, que “é preciso regulação para não criar zonas de insegurança”. Luís Montenegro deu o exemplo das duas pessoas que morreram no incêndio na Mouraria.

"Esse tipo de situação acaba por traduzir-se numa instabilidade tal dessas pessoas que, aos olhos de todos, nós tememos pela nossa segurança. É normal que isso aconteça", considerou.

"Eu não estou a dizer que as pessoas que vêm do estrangeiro para Portugal têm essa tendência para criar problemas, mas criam um sentimento, quando não são bem integradas, e esse sentimento tem de ser combatido, como é evidente", acrescentou Luís Montenegro.

A declaração de Paulo Núncio, vice-presidente do CDS, a defender um referendo ao aborto não caiu nada bem no PSD e Montenegro teve de vir esclarecer que ele é que manda, o assunto está arrumado, a lei não vai ser alterada e que o episódio "cria aqui um pequeno momento polémico" e que "era melhor que não houvesse nenhum ruído" na transmissão da mensagem da coligação PSD/CDS-PP/PPM.

Ao contrário de outros partidos, a campanha da AD não tem um tema por dia. Nos comícios o líder do PSD adequa o discurso ao local onde está ou ao cabeça de lista. Por exemplo, no Porto, onde o médico Miguel Guimarães é o primeiro da lista, o líder do PSD apontou as falhas e as soluções que tem para a área da Saúde. Em Évora, a cidade que vai ser a Capital Europeia da Cultura em 2027, apontou as propostas para a Cultura.

Esta campanha, que já foi do Norte ao Sul do país e percorreu mais de 3.200 quilómetros, fez todos os dias uma arruada. A maioria em cidades desertas, como em Portalegre ou Beja, restava por isso a comitiva que acompanha o líder e os jornalistas para encher as imagens.

Luís Montenegro tem sido a estrela da campanha da Aliança Democrática. Em relação aos parceiros de coligação, Nuno Melo, do CDS-PP, ficou doente com Covid-19, mas regressou na terça-feira para uma ação de campanha. Nesta primeira semana, o líder do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, não surgiu na caravana da AD na corrida às eleições legislativas de 10 de março.