Tempo
|

28,02%
77 Deputados
28%
78 Deputados
18,07%
50 Deputados
4,94%
8 Deputados
4,36%
5 Deputados
3,17%
4 Deputados
3,16%
4 Deputados
1,95%
1 Deputados
4,02%
3 Deputados
  • Freguesias apuradas: 3092 de 3092
  • Abstenção: 40,16%
  • Votos Nulos: 2,93%
  • Votos em Branco: 1,39%

Total esquerda: 91Mandatos
Pan: 1Mandatos
Total direita: 138Mandatos
A+ / A-

"Devemos estar atentos aos sinais". João Pinto Coelho escreve sobre os judeus perseguidos em Itália

25 mar, 2021 - 06:58 • Maria João Costa

Chama-se “Um Tempo a Fingir”, é o terceiro romance que João Pinto Coelho escreve sobre a perseguição aos judeus. O Prémio Leya diz que é importante recordar “outras coisas parecidas” que “começaram exatamente da forma como observamos hoje em dia”.

A+ / A-

Num livro dedicado ao seu pai, João Pinto Coelho regressa à história da perseguição aos judeus na Europa. Em “Um Tempo a Fingir”, editado pela D. Quixote, o autor, que venceu o Prémio Leya em 2017, explora o que aconteceu em Itália, o país onde mais judeus sobreviveram ao nazismo.

A ação do livro centra-se na personagem ficcional de Annina Bemporat, alguém que diz que acabou a sua infância no dia em que ouviu um tiro.

Em entrevista ao programa Ensaio Geral da Renascença, o autor sublinha a importância de, no atual contexto europeu, continuar a falar sobre a História recente do Velho Continente. “Outras coisas parecidas passaram-se e começaram exatamente da forma como observamos hoje em dia, um pouco por todo o lado. Devemos estar atentos”, diz João Pinto Coelho.

Volta a olhar a história dos judeus, as perseguições nazis. Em “Um Tempo a Fingir” retrata o caso italiano. Em que medida lhe interessou esse caso e que história quis contar?

Através da vida de uma personagem, neste caso Annina Bemporad, uma jovem judia que vive numa cidade da Toscana que se chama Pitigliano, vamos conhecer o contexto em que foram implementadas as leis raciais, desde 1938, e esse período que se seguiu até à chegada dos alemães, em 1943.

Conhecemos as caraterísticas específicas sobre a perseguição aos judeus que diferiu bastante do que aconteceu nos cenários dos romances anteriores, sobretudo a Polónia. Conhecemos o caso particular de Itália e percebemos como todas essas coisas se desenvolveram.


"Quando chegaram os nazis, houve uma mobilização geral dos italianos, não judeus, para esconderem e ajudarem a salvar os judeus perseguidos"

A personagem da Annina Bemporad serve de pretexto?

No fundo, a história da Annina Bemporad, mais do que a história de uma jovem que vemos crescer desde os 14 anos até à idade adulta, é de certa forma o veículo que eu vou utilizar para contar esse contexto de ocupação, perseguição, manifestação, de preconceito num país onde a perseguição aos judeus teve características muito específicas e daí eu achar importante explorá-la.

Ao longo das páginas deste livro percorremos as ruas desta aldeia italiana, andamos em túneis e catacumbas. Construiu a história com base em acontecimentos reais?

O caso Pitigliano é um caso típico e está retratado no livro. Quando chegaram os nazis, houve uma mobilização geral dos italianos, não judeus, para, por exemplo, esconderem e ajudarem a salvar os judeus perseguidos.

Se é verdade que isso aconteceu na Polónia, em Itália aconteceu a uma escala completamente diferente. Permite que olhemos para os números dos sobreviventes, em percentagem, e comparando com outros cenários na Europa, vemos realmente, não diria um milagre italiano, mas houve um conjunto de acontecimentos que permitiram que a taxa de sobrevivência dos judeus durante esse período fosse muito maior na Itália.


"No contexto que estamos a viver atualmente, é importante que recordemos que outras coisas parecidas se passaram e começaram exatamente da forma como observamos hoje em dia"

Em “Um Tempo a Fingir” vemos como o artifício do fingimento é uma ferramenta de sobrevivência para a protagonista da história. Mas há algo que liga este seu livro aos anteriores.

Tem muito a ver com algo que é transversal aos meus três romances, que é a existência do mal. A historiografia do Holocausto cada vez mais incide sobre essas histórias de vida. Sobre quem foram aquelas pessoas que se transformaram naqueles perpetuadores terríveis. Portanto, essa semente, o mal que existe em cada um de nós, aparece no caso da Annina Bemporad sob a forma de uma criatura.

É a tal criatura que ela vê ao espelho horrorizada, sempre que se olha.

Estou a corporizar o mal, a fazer dele uma criatura que vive dentro da Annina. Eu exploro como sendo a personificação do mal e essa semente que existe em cada um de nós pronta a tornar-se visível.

Continua a considerar pertinente falar sobre a história recente da Europa e em particular do Holocausto, porquê?

Estou convencido que durante aquele período a Europa deixou cair a máscara. Mostrou-se da forma mais límpida e lúcida, revelando o que de mau e de bom poderia existir na natureza humana. No fundo, é isso que me interessa nos meus romances.

No contexto que estamos a viver atualmente, é importante que recordemos que outras coisas parecidas se passaram e começaram exatamente da forma como observamos hoje em dia, um pouco por todo o lado. Devemos estar atentos. No fundo, são esses sinais que também estão explícitos em qualquer um dos meus romances. Se olharmos com clarividência necessária, rapidamente percebemos que não há coincidências.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+