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Está em quarentena o espólio do cineasta, dramaturgo e escritor Leitão de Barros

04 fev, 2021 - 17:36 • Maria João Costa

Manuscritos, fotografias, correspondência de José Leitão de Barros doados pela família do escritor, dramaturgo e realizador à Fundação Calouste Gulbenkian aguardam em quarentena para serem tratados. É um espólio que vai revelar uma parte da História do século XX.

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Não é só quem está infetado com Covid-19 que tem de cumprir quarentena. Também os espólios têm de passar por um tempo de espera, antes de serem tratados e estudados. É o que está a acontecer com o espólio de José Leitão de Barros doado pela família do dramaturgo, cineasta e escritor à Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Este período de quarentena coincide também com um momento em que a instituição encerrou os seus serviços devido à pandemia. Por isso, o espólio está a cumprir este tempo de espera.

À Biblioteca de Arte e Arquivos da Gulbenkian chegaram seis caixas, entregues pela família, que contêm correspondência, fotografias feitas durante a rodagem dos filmes de Leitão de Barros, manuscritos de argumentos cinematográficos, crónicas que escrevia para imprensa e textos de teatro.

João Vieira, diretor da biblioteca explica ao programa Ensaio Geral da Renascença que decidiram “integrar este espólio porque documenta uma enorme e densa teia de relações que Leitão de Barros desenvolveu, enquanto agente importantíssimo da cena das artes e cultura da época”. Nas palavras deste responsável, a investigação vai permitir “perceber o tipo de relações, que fomentou e de que forma é que artistas nas diversas áreas das artes, autoridades públicas, empresários, famílias da sociedade portuguesa, comunicavam entre si”.

Nascido em Lisboa em 1896, Leitão de Barros foi uma figura relevante na paisagem cultural do século XX português. O escritor, dramaturgo e realizador manteve uma estreita ligação com o poder do Estado Novo e com artistas da época. Era marido da pintora Helena Roque Gameiro e cunhado do arquiteto Cottinelli Telmo e do pintor Martins Barata. “É raro de obter um espólio que nos documente uma teia de relações”, sublinha João Vieira.

Este espólio irá integrar o acervo de coleções especiais e “lança luz sobre muitos temas”, refere o diretor da biblioteca da Gulbenkian que manifesta muita curiosidade “em chegar” até ele. A sua investigação vai ajudar a melhor compreender uma fatia da História de Portugal.

“Dá-se a infeliz coincidência de ter chegado numa altura em que a Biblioteca de Arte e a Fundação Calouste Gulbenkian, por força das contingências da pandemia fecharam, nós não podemos estar sequer no edifício e chegar ao espólio”, explica João Vieira.

O responsável pelos arquivos acrescenta, no entanto, que “toda a documentação que chega à Biblioteca de Arte é sujeita a quarentena. No caso dos espólios que estão normalmente em casa de famílias são submetidos a um tratamento prévio de expurgo. Analisamos, vemos se há contaminações químicas, físicas e biológicas, sobretudo. Só depois podem ingressar nos nossos depósitos”, indica João Vieira.

Quando os serviços voltarem a abrir, a equipa da Gulbenkian irá tratar o espólio de Leitão de Barros. A documentação será disponibilizada para consulta pública à medida que for sendo tratada e integrada no catálogo da Biblioteca de Arte da Gulbenkian.

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