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Investigadores alertam. União Europeia tem animais preferidos

11 dez, 2020 - 09:27 • Olímpia Mairos

Estudo defende uma “nova estratégia" e aconselha à revisão da “lista de espécies contida na Diretiva Habitats”, com vista à "conservação de espécies realmente ameaçadas".

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Um grupo de investigadores considera que a União Europeia (UE) “tem enviesado o financiamento para animais carismáticos como o urso, o lobo e o lince”, secundarizando os restantes e, por isso, defende uma “nova estratégia para conservar a biodiversidade”.

O estudo, em que participaram investigadores portugueses das universidades do Minho, Porto e Helsínquia (Finlândia), contou também com a colaboração de cientistas de instituições de Itália e França.

Em comunicado, a Universidade do Minho informa que os investigadores avaliaram os projetos do Programa LIFE para espécies animais que foram financiados pela UE entre 1992 e 2018.

“O apoio a projetos com espécies vertebradas foi seis vezes maior do que com invertebradas - 970 versus 150 milhões de euros, afirma Ronaldo Sousa, investigador no Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA), citado no comunicado.

De acordo com o investigador, “aves e mamíferos representaram 72% das espécies contempladas e 75% do orçamento total atribuído”.

Já as espécies que “receberam” mais fundos foram o urso (Ursus arctos), o lobo (Canis lupus), o abetouro (Botaurus stellaris), o lince euro-asiático (Lynx lynx) e o lince ibérico (Lynx pardinus).

Manuel Lopes-Lima, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, citado no mesmo comunicado, alerta que o “enviesamento no esforço de conservação é ainda mais notório quando observamos que a Europa tem cerca de 1.800 espécies de vertebrados e 130.300 espécies de invertebrados conhecidas”.

“No período considerado, o Programa LIFE cobriu 23% dos vertebrados e apenas 0,06% dos invertebrados da EU”, detalha Pedro Cardoso, da Universidade de Helsínquia.

Segundo Ricardo Correia, da mesma academia finlandesa, “o esforço de conservação é explicado principalmente pela popularidade da espécie, medido pelo volume de pesquisas online nos últimos dez anos, em vez do seu risco real de extinção”.

O estudo foi publicado na revista “Proceedings of the Royal Society B” e tem como objetivo apoiar a futura agenda do setor.

Neste contexto, os investigadores envolvidos no estudo consideram que a UE precisa de “mudar de paradigma” e aconselham a uma revisão da “lista de espécies contida na Diretiva Habitats”, com vista a uma aposta “na conservação de espécies realmente ameaçadas e dos seus habitats”.

Urge, segundo os investigadores uma “aposta financeira mais equitativa e que permita diminuir as desigualdades entre espécies de vertebrados e invertebrados apoiadas” e um maior “envolvimento dos cidadãos, por exemplo, em campanhas de monitorização ambiental”.

“Só assim é que a UE liderará o mundo pelo exemplo e ação no que diz respeito à conservação da biodiversidade”, concluem.

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