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Obesidade infantil

"Estado deve promover acesso a cuidados de nutrição", defende bastonária dos nutricionistas

11 dez, 2020 - 19:12 • André Rodrigues com Lusa

Estudo da Universidade de Coimbra revela uma diminuição geral da prevalência da obesidade infantil entre 2002 e 2016. Bastonária da Ordem dos Nutricionistas avisa que a suspensão das atividades das crianças aumentou comportamentos mais sedentários que precisam de ser rapidamente contrariados.

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A bastonária da Ordem dos Nutricionistas considera que “os hábitos alimentares dos portugueses pioraram por conta da situação pandémica”.

O quadro é ilustrado através de um estudo da Direção-Geral da Saúde (DGS), divulgado em maio, cujas conclusões essenciais pouco ou nada se alteraram nos últimos tempos.

Em declarações à Renascença, Alexandra Bento refere que “a suspensão das atividades letivas e não letivas teve profundas implicações ao nível do acesso das crianças à alimentação escolar, bem como ao recreio, aos parques e às suas atividades desportivas, aumentando, naturalmente, os comportamentos mais sedentários”, podendo pôr em causa a trajetória de diminuição que se tem verificado nos últimos anos.

Para a bastonária, “é fundamental que estes factos sejam combatidos, para que Portugal continue no bom caminho de uma tendência decrescente da obesidade infantil”.

O projeto "Desigualdades na Obesidade Infantil: O Impacto da Crise Socioeconómica em Portugal de 2009 a 2015", desenvolvido pelo Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Universidade de Coimbra (UC), revela que a prevalência da obesidade infantil registou uma “diminuição geral” entre 2002 e 2016.

A avaliação de parâmetros, como o comportamento das famílias, as alterações do padrão alimentar e a atividade física, sugerem que, apesar da tendência positiva que se tem verificado na obesidade das crianças, a crise económica de 2009/2015 agravou as desigualdades associadas com a obesidade infantil, sobretudo nas famílias de menores rendimentos onde a descida dos casos é inferior à verificada nos agregados de maiores rendimentos.

Por essa razão, a bastonária da Ordem dos Nutricionistas diz ser “fundamental que o Estado crie mecanismos para combater as desigualdades sociais, nomeadamente no acesso a cuidados de nutrição”, sobretudo para os agregados familiares com menos recursos.

Para Alexandra Bento, a chave do combate à obesidade infantil são “as condições económicas e a literacia”, porque, “mais do que nunca, é importante criar condições para que as famílias possam assegurar uma alimentação adequada aos seus filhos”.


Raparigas pior do que os rapazes

O projeto "Desigualdades na Obesidade Infantil: O Impacto da Crise Socioeconómica em Portugal de 2009 a 2015" é o terceiro programa dedicado à obesidade infantil realizado em Portugal, que decorreu no ano letivo de 2016/2017 e contou com a participação de 3.830 crianças com idades entre os 7 e os 10 anos, de várias escolas e jardins de infância do Porto, Coimbra e Lisboa.

O primeiro estudo foi realizado em 2002 e envolveu 3.277 crianças e o segundo realizou-se em 2009, com 3.447 crianças de escolas de Lisboa, Porto e Coimbra.

"Verificámos que comparativamente com 2002, há uma diminuição geral do excesso de peso, mas essa diminuição é maior nas meninas (-16,2%)", explica Cristina Padez, investigadora do CIAS da Universidade de Coimbra.

No estudo de 2016/2017, verificou-se um excesso de peso e mais obesidade nas meninas de 28,7%, sendo que os meninos registaram 25,1%.

Em 2002, as meninas situaram-se nos 34,9% e os meninos nos 29,9%.

Cristina Padez explica que nos países considerados mais desenvolvidos ou modernos, em média, se verifica que as crianças oriundas de estratos sociais mais desfavorecidos ou pobres apresentam valores de obesidade superiores às crianças de famílias com maiores rendimentos.

"No mundo, 10 % das crianças pobres têm o dobro da obesidade das crianças mais favorecidas. Em Portugal, verifica-se a mesma tendência. Os valores da obesidade são superiores nas classes sociais mais baixas", sustentou.

Outro dado que o projeto constata é o aumento das desigualdades sociais entre os anos de 2002 e de 2016.

"Em 2002, a diferença de obesidade entre crianças pobres e ricas situava-se nos 6,2% e em 2016, essa diferença é de 12,8%. Também se verificam diferenças entre Lisboa, Porto e Coimbra. Nestes três distritos, entre 2002 e 2016, a desigualdade social foi diferente. Aumentou muito mais em Lisboa, aumentou em Coimbra e, no Porto, a desigualdade social diminuiu", frisou.

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