07 set, 2024 - 08:30 • Aura Miguel , enviada da Renascença
A riqueza e os bens da Papua-Nova Guiné, com os seus recursos terrestres e hídricos “são destinados por Deus a toda a comunidade”, disse o Papa às autoridades. No seu primeiro discurso ao país, Francisco defendeu as necessidades das populações face aos interesses das grandes empresas internacionais.
“É justo que as necessidades das populações locais sejam devidamente tidas em conta na distribuição dos lucros e no emprego da mão de obra, de modo a produzir um efetivo melhoramento das suas condições de vida”, afirmou.
Em defesa de um “desenvolvimento sustentável e equitativo”, o Santo Padre sublinhou que a riqueza ambiental e cultural deste país “representa uma grande responsabilidade, porque compromete todos, governantes e cidadãos em conjunto”.
Neste sentido, há que favorecer iniciativas que promovam “condições de vida de todos, sem excluir ninguém, através de programas exequíveis e mediante a cooperação internacional, no respeito mútuo e com acordos vantajosos para todas as partes”.
Para alcançar resultados duradouros, há que “reforçar a estabilidade das instituições, favorecida pelo acordo sobre certos pontos essenciais entre as diferentes ideias e sensibilidades presentes na sociedade”. Francisco sabe que construir consensos sobre as escolhas fundamentais não é fácil, mas é um requisito indispensável para o tão desejado desenvolvimento solidário.
Num pais marcado pela violência, ao ponto de a União Europeia desaconselhar qualquer tipo de visita a este país, pelos riscos que podem correr os cidadãos estrangeiros, o Papa pediu "o fim das violências tribais, que infelizmente causam muitas vítimas, não permitem às pessoas viver em paz e impedem o desenvolvimento”.
Francisco deixou um apelo ao sentido de responsabilidade de todos “para que se ponha termo à espiral de violência e se caminhe resolutamente pela via que conduz a uma cooperação frutuosa, em benefício de todo o povo do País”.
O Papa fez votos para que a questão do estatuto da ilha de Bougainville - que, após um referido local, pretende tornar-se independente da Papua Nova Guiné em 2027 - possa também “encontrar uma solução definitiva, evitando o reacender de velhas tensões”. Dirigindo-se ao Governador, o Papa pediu também especial atenção para a situação das mulheres. “São elas que levam por diante o país e ajudam-no a crescer, são as mulheres que estão na linha da frente do desenvolvimento espiritual e humano”.
Francisco não escondeu o seu fascínio pela beleza deste arquipélago com mais de 800 ilhas e outros tantos grupos étnicos: “é algo que me fascina muito, também a nível espiritual, porque imagino que esta enorme variedade seja um desafio para o Espírito Santo, que cria harmonia a partir das diferenças!”
O Papa elogiou o lema da viagem “Pray” - “rezar” porque “um povo que reza tem futuro, buscando força e esperança no Alto”. E, por fim, manifestou especial gratidão “por me terdes aberto as portas do vosso bonito país, tão longe de Roma e, no entanto, tão próximo do coração da Igreja Católica".
Acolhido por grupos autoctones, mereceu especial destaque um grupo de crianças indígenas com pequenos violinos, que tocaram para o Papa Bergoglio, o hino da Argentina.