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Papa em Trieste. “Precisamos do escândalo da fé que ponha o dedo na ferida”

07 jul, 2024 - 10:55 • Aura Miguel

Na homilia da missa que celebrou na Praça Unidade de Itália, Francisco recordou que Deus se esconde onde menos se espera e pediu uma fé humana e inquieta.

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O Papa afirmou esta manhã, na cidade italiana de Trieste, que olhando para os desafios que nos interpelam, para os muitos problemas sociais e políticos e para a vida concreta da nossa gente e seus esforços, “podemos dizer que hoje precisamos, exatamente, do escândalo da fé”.

Contra uma religiosidade fechada em si mesma, Francisco pediu uma fé humana, “que entra na história e põe o dedo nas feridas da sociedade”. Uma fé inquieta, “que nos ajude a vencer a mediocridade e possa tornar-se um espinho na carne de uma sociedade muitas vezes anestesiada e atordoada pelo consumismo”. Interrompido por aplausos, o Papa sublinhou que o consumismo é “uma praga, é um cancro que te faz egoísta e pensar só em ti”.

Na homilia da missa que celebrou na Praça Unidade de Itália, o Santo Padre pediu, aos 8500 participantes, uma fé que "dispersa os cálculos do egoísmo humano, que denuncia o mal, que aponta o dedo contra as injustiças, que perturba as tramas de quem, na sombra do poder, brinca com a pele dos fracos e até usa a fé para abusar a gente”.

O infinito de Deus esconde-se na miséria humana

Francisco recordou que Deus se esconde onde menos se espera, “nos cantos escuros da vida e das nossas cidades” e que a Sua presença se “revela precisamente nos rostos escavados pelo sofrimento e onde a degradação parece triunfar”. É neste contexto que Bergoglio deixou um alerta: ”O infinito de Deus está escondido na miséria humana, o Senhor agita-se e torna-se uma presença amiga precisamente na carne ferida dos últimos, dos esquecidos e dos descartados”.

Conhecedor da natureza humana, Francisco convidou os fiéis presentes a interrogarem-se: “E nós, que às vezes nos escandalizamos inutilmente com muitas pequenas coisas, faríamos bem em nos perguntar: por que não nos escandalizamos diante do mal que se espalha, da vida humilhada, dos problemas do trabalho, do sofrimento dos migrantes? Por que permanecemos apáticos e indiferentes diante das injustiças do mundo? Por que não levamos a sério a situação dos encarcerados, que também desta cidade de Trieste se eleva como um grito de angústia? Por que não contemplamos as misérias e as dores de tantos descartados na cidade? Temos medo de encontrar aí Cristo?”

No final da celebração, o Papa valorizou a vocação desta cidade portuária, situada na encruzilhada entre Itália, a Europa Central e os Balcãs, que acolhe os que chegam da rota dos Balcãs. “Nestas situações, o desafio para as comunidades - eclesial e civil - é saber combinar abertura e estabilidade, acolhimento e identidade”, afirmou. “Por favor não nos escandalizemos com Jesus, mas, pelo contrário, indignemo-nos com todas aquelas situações em que a vida é brutalizada, ferida e morta”.

Ao terminar a celebração, durante a recitação do angelus, o Papa ainda acrescentou: ”Desta cidade, renovamos o nosso compromisso de rezar e trabalhar pela paz: pela martirizada Ucrânia, pela Palestina e Israel, pelo Sudão, por Mianmar e por todos os povos que sofrem com a guerra”.

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