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Análise

A cada congresso um psicodrama

30 mai, 2021 - 22:30 • Susana Madureira Martins

Um fim de semana de tensão entre militantes, o empate numa votação, discussões entre o palco e a plateia – foi assim o congresso do Chega.

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Votações repetidas para os órgãos nacionais, gritaria entre um congressista que intervém na tribuna e outro que está na plateia, pateadas e vaias durante intervenções.

É um cenário que se repete e já se pode dizer que congresso do Chega já não é congresso se não houver uma qualquer reviravolta eleitoral ou uma divergência ideológica que, a cada momento, faz com que dirigentes nacionais e congressistas flutuem entre "os nossos inimigos estão lá fora" e o exato contrário, "os nossos inimigos também estão cá dentro".

Tensão e mais tensão entre militantes e, este fim de semana, um mais que improvável empate numa eleição para o principal órgão do partido, a Mesa Nacional do Congresso, que obrigou a repetir a votação para, por fim, reeleger Luís Graça, contra a lista do assessor parlamentar do líder, Manuel Matias, antigo dirigente do PPV, partido que esteve no centro de outra discussão ideológico-religiosa da reunião de Coimbra.

Foi tão assim o congresso de Coimbra como já o tinha sido em setembro, em Évora, em que o líder do partido sujeitou por três vezes a lista para a direção nacional. Neste fim de semana a lista passou à primeira, mas não sem antes ter havido um psicodrama em torno da saída de dois vice-presidentes, José Dias e Nuno Afonso, que não deixaram de publicamente mostrar o profundo descontentamento por terem sido afastados.

Tal como em setembro, também os convidados institucionais assistiram à confusão dentro da sala do Congresso e saíram de fininho quando a confusão se tornou caótica, com a repetição de votações. Das duas vezes, em Évora e em Coimbra, foi o que aconteceu à secretária do Conselho de Estado, Rita Magalhães Colaço, em representação da Presidência da República.

A possível explicação para o psicodrama reiterado é dada pelo próprio Ventura. No sábado, no discurso de apresentação da moção estratégica, assumiu as divergências profundas que existem no partido e classificou-as como "dores de crescimento", na certeza de que ninguém corre para um abismo delirante, mas para "o governo de Portugal" que o líder do Chega dá como garantido e "destinado".

Ventura não vai tão longe como em tempos a ex-líder do CDS Assunção Cristas. Não, as "dores de crescimento" ainda não permitem que o líder do Chega diga que quer ser ou que vai ser primeiro-ministro, mas tem a certeza que "o tempo do PSD a mandar na direita se não acabou, está a acabar", assim sem moderação. Discurso moderado ou "fofinho" nem pensar, agora o tom é sempre a subir e Rui Rio não será impedimento. Ou será? A vingança pode servir-se fria a uma criança de dois anos e meio com "dores de crescimento"?

A melhor prova do pudim é comê-lo. Nos Açores a prova já começou. Aceitará Rio comer este Ventura? Ao terceiro dia de Congresso o líder do PSD mandou dar meia volta à delegação que iria a Coimbra assistir ao encerramento do Congresso. Rio não terá gostado que Ventura o tivesse classificado como "muito mau líder do PSD".

O líder do Chega ironizou com um "nem vou dormir esta noite", mas o comunicado da direção social-democrata termina com um sibilino "o PSD, pelo seu lado, é igualmente livre para escolher a resposta que entende como mais adequada às opções seguidas pelos seus adversários". Sim, sublinhemos, "adversários", para memória futura.

Comentários
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  • Atento
    31 mai, 2021 Leça da Palmeira, Matosinhos 08:15
    A "RR" como habitualmente junta-se a "tudo" o que é esquerda "bem pensante" ... confirmado ...

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